ARACAJU/SE, 23 de agosto de 2025 , 16:22:17

Planos de Saúde em 2025: Recuperação Econômica e Crescente Judicialização

Em 2025, o setor de saúde suplementar no Brasil vive uma aparente contradição: enquanto os planos de saúde apresentam sinais robustos de recuperação financeira, os consumidores enfrentam dificuldades persistentes no acesso aos serviços contratados, gerando um aumento expressivo na judicialização e nas reclamações.

Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o setor registrou lucro líquido de R$ 7,1 bilhões no primeiro trimestre de 2025 — um aumento de 114% em relação ao mesmo período de 2024. Esse resultado representa 7,7% da receita total do período, que foi de R$ 92,9 bilhões. As operadoras médico-hospitalares, que compõem o principal segmento do setor, responderam por R$ 6,9 bilhões desse lucro, com resultado operacional positivo de R$ 4,4 bilhões — o maior da série histórica iniciada em 2018.

A sinistralidade, indicador que mede o percentual das receitas utilizadas em despesas assistenciais, caiu para 79,2%, o menor índice já registrado em um primeiro trimestre. Essa melhora reflete maior eficiência na gestão dos custos e maior rentabilidade para as operadoras.

Apesar da melhora financeira, os consumidores continuam enfrentando obstáculos significativos. Em 2025, os principais problemas relatados incluem: Reajustes abusivos, especialmente em planos coletivos e para idosos; Negativas de cobertura, mesmo com prescrição médica; Demora no atendimento e dificuldade de agendamento; Falta de transparência contratual, com cláusulas confusas e omissões; Dificuldade na portabilidade e reembolso, gerando frustração e insegurança.

A ANS implementou novas normas, como a RN 623, que exige que todas as negativas de cobertura sejam formalizadas com justificativa clara e detalhada. Essa medida visa aumentar a transparência e proteger os direitos dos beneficiários.

As reclamações registradas pela ANS caíram 17% entre janeiro e junho de 2025, totalizando cerca de 160 mil notificações de intermediação preliminar (NIPs). A redução foi mais expressiva nos temas de reembolso (-34%) e liberação de procedimentos (-26%). No entanto, a judicialização segue em alta.

Entre janeiro e maio de 2025, foram abertas cerca de 126 mil ações judiciais contra operadoras de planos de saúde, um aumento de 7% em relação ao mesmo período de 2024. Em 2024, o número total de processos chegou a 300 mil, o dobro do registrado três anos antes. As principais causas são negativas de tratamento, reajustes excessivos e cancelamentos unilaterais de contratos.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estima que existam cerca de 365 mil processos ativos relacionados à saúde suplementar em todo o país. Esse volume coloca o Poder Judiciário como um dos principais agentes reguladores indiretos do setor, influenciando práticas comerciais e cláusulas contratuais.

A sustentabilidade do setor depende de um equilíbrio delicado entre rentabilidade das operadoras e qualidade do atendimento ao consumidor. A ANS tem buscado fortalecer a fiscalização e promover ações educativas, mas enfrenta críticas por sua atuação considerada insuficiente e por decisões tomadas sem ampla transparência.

A expectativa é que o novo presidente da ANS, Wadih Damous, traga uma abordagem mais voltada à proteção do consumidor, especialmente diante da proposta de planos com cobertura limitada e da escassez de planos individuais no mercado.

O ano de 2025 marca uma inflexão na trajetória financeira dos planos de saúde, com resultados positivos e maior eficiência operacional. No entanto, os desafios no atendimento, a insatisfação dos consumidores e o aumento das ações judiciais revelam que a recuperação econômica não tem sido acompanhada por melhorias proporcionais na qualidade dos serviços. O setor precisa avançar em regulação, transparência e respeito aos direitos dos beneficiários para garantir sua sustentabilidade de longo prazo.