ARACAJU/SE, 11 de maio de 2025 , 12:05:26

Por que mudar o nome do Centro Acadêmico de Direito da UFS?

As pessoas, mesmo as que pesquisam e escrevem, por vezes pinçam uma palavra, uma frase, um texto de uma obra gigantesca e acabam impingindo rótulos a outras pessoas, pelo que disseram ou escreveram. Tem sido moda, atualmente, impor sobre certas pessoas do meio cultural, um rótulo, ao bel prazer de quem faz a imposição. Naquilo que alguns dizem ser “o politicamente correto”, um patrulhamento nem sempre cabível (aliás, “patrulhamento” é cabível em qual circunstância?), que, por vezes, desvirtua o pensamento e/ou a obra de quem viveu um contexto no seu tempo, diverso do tempo presente. Esses “patrulheiros” chegam ao ponto absurdo de querer “reescrever” muitas obras, escritas noutro tempo, noutra circunstância social, apenas para satisfazer o “instinto intelectual” de agora e de alguns.

Ultimamente, tem crescido, especialmente em face de autores que têm publicado “best-sellers” a pecha de racista contra o sergipano Sílvio Romero, um dos gigantes da cultura brasileira do fim do século XIX e início do século XX. O lagartense teria dito algo inconcebível nos dias de hoje? Teria se mostrado contrário ao caráter miscigenado do povo brasileiro? É bom que se possa avaliar dois aspectos: ele não tem sido bem entendido; ou não se tem relevado a grandeza de sua obra, pinçando um discurso, um texto, uma frase. Sílvio racista? Vejamos.

Romero foi aluno, na velha Escola do Recife de um mulato: Tobias Barreto de Menezes, outro sergipano, o gênio daquela Escola, que temperou e retemperou a filosofia e o direito, no seu tempo, contrariando a “alvura” das Arcadas de São Paulo, como se costuma denominar a Faculdade de Direito da capital paulista, criada, juntamente com o curso similar de Olinda, depois Recife, em 11 de agosto de 1827, pelo imperador Dom Pedro I.

Sem dúvida, Sílvio Romero foi o mais destacado aluno de Tobias, a difundir a sua obra. Atenção: o mais destacado polemista brasileiro foi o responsável por difundir a obra do mulato sergipano, seu mestre, fazendo com que o Brasil inteiro tomasse conhecimento da grandiosa obra tobiática, arrancando o seu professor do quase ostracismo, pois o mulato da Vila de Campos do Rio Real, que hoje leva o seu nome, jamais saíra de Recife, nunca fora à Corte para o beija-mão perante os “grandes” do Império. Não fosse a audácia de Romero, o que teria sido da obra de Tobias?

Alguém, que ler este escrito, poderá alegar que Sílvio Romero difundiu a obra do seu mestre porque fora seu discípulo e conterrâneo. Não tomando tenência para a sua condição de origem, ou seja, da sua mestiçagem. Ora, venhamos e convenhamos, então o alegado racismo de Romero passou por cima do mulato genial que sacudiu as bitolas do ensino filosófico e jurídico no Brasil da segunda metade do século XIX? Ao levar ao conhecimento nacional a obra de Tobias, ele o teria feito por considerá-lo o único mulato dotado de inteligência? Decerto que não.

Hoje, há quem, sem, provavelmente, conhecer a contento a vasta obra de Romero, diga dele o que não lhe cabe. O meu colega de turma, no curso de Direito, na UFS, acadêmico Luiz Eduardo Oliva, confrade da Academia Sergipana de Letras Jurídicas, apontou duas falas, dentre muitas, acerca de Sílvio Romero: de Antônio Cândido, um dos mais respeitáveis nome da nossa literatura, e João Alexandre Barbosa, grande crítico literário, ganhador do Prêmio Jabuti de 2005, na sua área de atividade intelectual, e que tinha Sílvio como sua principal referência.

Veja o leitor o que disse Antônio Cândido: “Precisamos não esquecer que Romero foi o homem que introduziu a teoria da mestiçagem. Ele foi o primeiro a dizer que todo brasileiro é mestiço, se não fisicamente, mas culturalmente. Essa contribuição dele é fundamental”.

Dele também disse João Alexandre Barbosa: “Sílvio foi um polemista, brigou à vontade. Brigou tanto que escreveu um livro chamado “Minhas Contradições”. Não tinha mais com quem brigar, brigou com ele mesmo”. Sílvio Romero foi um dos gigantes do culturalismo brasileiro, como também atesta Miguel Reale.

Há modismos que são terríveis. Alguns até levados de roldão, como as massas ignaras também o são. Pois não é que alguns alunos do curso de Direito da UFS, estão com o propósito de alterar o nome do Centro Acadêmico Sílvio Romero? Retirar o nome do seu patrono, porque, alegam esses arautos da luta contra o “racismo”, ou contra sei lá o quê, que o nosso conterrâneo era racista. Por favor, eu peço a esses alunos que estudem mais, muito mais, e procurem conhecer quem foi, de verdade, Sílvio Romero. Quem será que os está incentivando, se há alguém a incentivá-los?

Meu Deus! Quantos caminhos há ainda a percorrer por esses alunos e por muitas outras pessoas de leituras rasas. Peço a esses alunos que percorram esses caminhos.