ARACAJU/SE, 2 de abril de 2025 , 1:34:03

Por que os alimentos estão tão caros? Uma análise sobre inflação e expansão monetária

O aumento constante nos preços dos alimentos tem sido uma preocupação para consumidores e economistas brasileiros. Em 2024, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma inflação de 4,83%, acima do teto da meta estabelecida pelo governo, que era de 4,5%. Dentro desse cenário inflacionário, o grupo “alimentos e bebidas” se destacou com uma alta de 7,62%, sendo o principal responsável pelo impacto no custo de vida das famílias brasileiras.

O comportamento da inflação dos alimentos não pode ser atribuído a um único fator, mas a uma combinação de elementos que vão desde questões climáticas até a política econômica adotada ao longo do ano. Problemas climáticos, como períodos prolongados de seca e chuvas intensas em regiões produtoras, reduziram a produtividade de culturas essenciais, como grãos, frutas e hortaliças. Esse cenário de menor oferta pressionou os preços para cima, criando um ambiente desfavorável tanto para produtores quanto para consumidores.

Além dos fatores naturais, questões econômicas também desempenharam um papel relevante. A expansão monetária, medida pelo aumento da base monetária e dos agregados monetários, influenciou diretamente a dinâmica dos preços. Em 2024, a base monetária do país cresceu 6,7%, enquanto o M2, que engloba depósitos à vista e poupança, teve uma expansão de 12,3%. Embora a intenção do governo tenha sido estimular a economia, essa injeção de liquidez teve efeitos colaterais importantes.

Quando há mais dinheiro circulando na economia, consumidores tendem a aumentar sua demanda por produtos, inclusive alimentos. Isso gera uma pressão sobre os preços, especialmente em um cenário onde a oferta já está comprometida por questões climáticas. Se a oferta não acompanha esse aumento da demanda, o resultado é um encarecimento dos produtos alimentícios.

Outro fator importante é a relação entre a expansão monetária e a desvalorização cambial. Com mais moeda em circulação, a confiança dos investidores na moeda nacional pode ser abalada, resultando em uma desvalorização frente a outras moedas, como o dólar. Como o Brasil depende de importações para diversos insumos agrícolas, incluindo fertilizantes, essa desvalorização torna os custos de produção mais elevados, refletindo diretamente nos preços dos alimentos.

Em 2024, os produtos que mais contribuíram para a alta dos preços foram frutas, com um aumento médio de 15,2%, e carnes, que registraram um crescimento de 11,8%. A elevação dos preços das carnes está associada ao aumento do custo dos insumos alimentares para os animais, além da valorização das exportações, que reduziu a oferta no mercado interno.

Além disso, o transporte de alimentos também sofreu com o encarecimento dos combustíveis, especialmente o diesel, que impacta diretamente a logística e a distribuição dos produtos. A expansão monetária, ao fomentar uma demanda maior por combustíveis em um mercado global instável, também contribuiu para pressionar os preços.

A especulação no mercado de commodities agrícolas foi outro fator que potencializou a alta dos preços. Com mais liquidez no sistema financeiro, investidores migraram para contratos futuros de alimentos, apostando na valorização das commodities agrícolas, o que acabou por impulsionar os preços finais para os consumidores.

Para conter a inflação, o Banco Central do Brasil manteve uma política de juros elevados ao longo de 2024, com a taxa Selic encerrando o ano em 13,25%. A estratégia busca frear a demanda e conter a pressão sobre os preços, mas gera impactos negativos sobre o crédito e os investimentos produtivos.

Ou seja, os preços elevados dos alimentos em 2024 refletem um cenário complexo, onde fatores climáticos, choques de oferta, expansão monetária e especulação econômica se combinaram para criar um ambiente de inflação persistente. A política monetária rígida tenta combater esse problema, mas medidas estruturais, como investimentos em logística, inovação agrícola e políticas de incentivo à produção, são fundamentais para garantir preços mais estáveis no futuro. Para o consumidor, resta a esperança de que essas ações surtam efeito, trazendo algum alívio no custo de vida nos próximos anos.