ARACAJU/SE, 7 de setembro de 2025 , 3:48:56

Protocolos para uso de canetas emagrecedoras

O uso de canetas emagrecedoras, especialmente as que têm substâncias como semaglutida e liraglutida, tornou-se um fenômeno global nos últimos anos. Estas terapias injetáveis, originalmente desenvolvidas para controle do diabetes tipo 2, passaram a ser indicadas para manejo da obesidade e do sobrepeso em diferentes países, gerando debates sobre segurança, eficácia e regulação.

Em âmbito internacional, órgãos reguladores como a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e a European Medicines Agency (EMA), da União Europeia, aprovaram medicamentos como a semaglutida para uso em obesidade, baseados em ensaios clínicos randomizados publicados em revistas como o New England Journal of Medicine (doi:10.1056/NEJMoa2032183; QUALIS A1). O protocolo aprovado pelo FDA recomenda a administração semanal, em associação a mudanças de estilo de vida, para adultos com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 27 kg/m² com comorbidades ou acima de 30 kg/m² independente de outros fatores.

Na União Europeia, a EMA ressalta a importância do acompanhamento multiprofissional e o uso restrito a pacientes que não respondem ao tratamento convencional baseado em dieta e atividade física. Tanto FDA quanto EMA destacam que a interrupção do tratamento frequentemente leva ao reganho ponderal, reforçando a necessidade de acompanhamento a longo prazo.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em 2023 o uso da semaglutida (2,4 mg) para obesidade, seguindo o modelo internacional. O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde recomenda seu uso em pacientes com IMC ≥30 kg/m² ou ≥27 kg/m² com doenças associadas, devendo sempre ser prescrito por endocrinologistas e acompanhado de orientações nutricionais e de exercícios físicos.

Um artigo publicado na Revista da Associação Médica Brasileira (QUALIS A2, 2023; doi:10.1590/1806-9282.2023D151) destaca que, no Brasil, o acesso via Sistema Único de Saúde ainda é limitado, sendo a terapia mais comum em clínicas privadas. E mais recentemente a CONITEC – Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde, encarregada de analisar e apresentar parecer sobre a inclusão de terapias e medicamentos, desaconselhou a inclusão das canetas emagrecedoras em manifestação no último dia 22 de agosto de 2025.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu guideline global de 2022, reconhece o avanço dos análogos do GLP-1 (como a semaglutida) no tratamento do sobrepeso e obesidade, mas enfatiza que o uso deve ser criterioso e individualizado. Segundo a OMS, o tratamento farmacológico só deve ser considerado após tentativa de intervenções comportamentais falharem e sempre sob supervisão de equipe multiprofissional. O documento (Guideline: Obesity: preventing and managing the global epidemic. Geneva: WHO; QUALIS A1) alerta para possíveis efeitos adversos, como pancreatite, distúrbios gastrointestinais e impactos psicológicos relacionados à imagem corporal.

Além disso, a OMS ressalta a importância da vigilância e da coleta de dados a longo prazo para avaliar o impacto populacional do uso dessas medicações, visto que o fenômeno do reganho de peso após suspensão do medicamento é recorrente nos estudos de acompanhamento prolongado.

Pesquisas em periódicos como Lancet Diabetes & Endocrinology (QUALIS A1; doi:10.1016/S2213-8587(21)00024-1) apontam para perdas médias de até 15% do peso corporal em um ano de uso associado a mudanças de estilo de vida. No entanto, os autores alertam para o risco de medicalização do emagrecimento e de uso indiscriminado por estética, o que não é recomendado por nenhuma diretriz internacional.

Especialistas salientam ainda o risco de desabastecimento para diabéticos, desinformação propagada em redes sociais e impactos sociais do acesso restrito, já que o custo da terapia é elevado—questões debatidas em editoriais de revistas como Obesity Reviews (QUALIS A1).

O uso de canetas emagrecedoras está respaldado por protocolos internacionais e nacionais sólidos, mas permanece cercado de controvérsias. A recomendação majoritária de entidades como a OMS é que o tratamento seja individualizado e restrito a casos específicos, com acompanhamento rigoroso e sempre integrado a mudanças de hábitos. O debate segue aberto, desafiando políticas públicas, regulação e ética clínica.