ARACAJU/SE, 9 de maio de 2025 , 5:40:47

Reduzido dicionário de velharias

Denominava-se de índio o menino que andava nas ruas o dia inteiro, geralmente só usando um short, sinais de ter tomado banho a muito tempo, o termo com o significado implícito de moleque, ou seja, moleque de rua. Fulano é índio, diziam. Em geral, os meninos viviam em suas casas, indo as ruas em poucas oportunidades. O que era criado solto, de rua em rua, esse era o índio, que, com os de casa, os que tomavam banho todo dia, dos de rua, não se avizinhavam.

Passo para coito, empregado para duas ou mais pessoas que só andavam juntas. Vive aos coitos nas ruas, ou seja, onde uma está, a outra também se encontra. Assim ouvi muito. Geralmente o termo se endereçava as duplas de amigos e/ou amigas, que não se separavam, presentes na praça, no cinema, na igreja, nas feirinhas de natal, nas procissões, etc. e etc..  Só mais tarde tomei conhecimento da verdadeira acepção da palavra. Alguma semelhança no ar.

Mulher dama e cotovia eram as palavras apropriadas para designar as prostitutas e as raparigas, estas últimas com significado totalmente diferente do que é empregado em Portugal. Penso, sem muita certeza, que mulher dama se destinava a mulher de vida livre que se trajava com esmero e elegância. Cotovia, e aí acho, apesar de desprovido de certeza, que era destinado a mulher que morava sozinha, sustentada por um homem, em geral, casado, que sempre a visitava, a qualquer hora do dia, sem se separar da esposa. Conheci uma delas, chamada de Maria dos Cabelão, que tinha uma filha, residente na rua que fica no fundo da casa de meus pais. De repente, mãe e filha  foram embora, da mãe só ficando o apelido, que não esqueci.

Filme francês se ligava ao conceito de safadeza, pornografia pura, namoro com liberdades. No cinema de Zeca Mesquita, algumas raras vezes, havia uma sessão, depois do filme normal, final da década de cinquenta, só para adultos – nenhuma mulher se arriscava a ir – , onde se passava um filme assim. O cinema enchia. Nas conversas, no dia seguinte, a alusão a alguns cidadãos de idade, conhecidos, a pular cadeiras para ver melhor o que se passava. Nunca ouvi nenhuma alusão as cenas em si, também ninguém que assistia ia nos revelar alguma coisa.

Bom, se o espaço fosse maior, daria para um dicionário de velharias do meu tempo de menino.

Membros das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras