Começou quando ingressei na praça anterior à feira. O vendedor de água de coco apregoando o valor da garrafa quando, no meio do anúncio, soltou um eita porra e correu em direção ao cidadão, que, um pouco adiante, escorregando no limo do calçamento, estava no chão. Somente a queda, joelho direito sujo de lama, levantou-se com ajuda de várias pessoas.
Na primeira banca, na compra de um saco de laranja, a vendedora perguntou quem era o motorista, ou seja, a pessoa que transportava o carrinho de compras. Ri. Era um menor que ela ajudou a levantar o saco de laranja e colocá-lo na carroça. Segui adiante, o olho na lista de compras, até que a chuva desabou, e eu busquei amparo na cobertura da barraca dos queijos e manteiga. Positivo que a chuva cessou, me permitindo avançar adiante na aquisição de tudo que estava na lista de compras, iniciando o caminhado de volta. Dois fatos me aguardavam.
Primeiro, triste, no susto na notícia da mãe de uma colega de Vladimir desde o infantil ao médio: sofreu um derrame. Foi o marido que me transmitiu, votos de melhoras, segui adiante.
Depois, já em direção ao carro, me deparo com antigo vizinho, com quem conversava nas caminhadas no Calçadão antes da pandemia, alerte-se. Não o via há mais de três anos. Ele já veio rindo, a esclarecer que, de longe, pelo caminhado, me reconheceu. Como é meu caminhado, não sei. Um pé na frente, outro atrás, cabeça erguida, a reta obedecida, quando posso. Mas o vizinho frisou bem: me conheceu pelo caminhado, fato, aliás, que não me era novidade. Helder, há muito, de longe e do alto do edifício onde morava, me revelou ter me reconhecido, no Calçadão, pelo caminhado. Ora, o caminhado, sim, o que tem de diferente?
Talvez tenha algo a ver com o caminhado dos gorilas, na inclinação da cabeça para um lado e para outro, em sintonia com o pé que sai na frente. Depois de muito matutar, me lembrei que, até onde sei de meus ancestrais, retroagindo a décima geração, não há registro de macaco. Pode ser que, em tempos remotos, onde os registros cartorários não alcançaram, algum deles tenha figurado, verdade que nunca receberá o carimbo de certeza. Da ida a feira na manhã de hoje foi o que ocorreu. Ah, ia esquecendo, a vendedora de laranja, pela primeira vez, estava de batom.