ARACAJU/SE, 5 de fevereiro de 2025 , 8:51:10

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Retratos da praia

Vacas e filhos bezerros trafegam calmamente pela praia, passo miúdo e leve. Das pegadas que fincam na areia colhe-se que entram por um lugar, atravessando uma pequena parte, saindo por outra, adiante. A impressão é de ser um pequeno passeio, sempre pela manhã, para arejar a mente. Não se aproximam da água, nem perdem tempo a fitar o mar.  A solidão da praia é, igualmente, quebrada pela presença de dois pescadores, ao longe, com redes apropriadas para serem lançadas no mar, e, depois, puxadas de volta, estendidas na areia, os pescadores passam a colher o que a rede se apropriou ou na rede foi tragado. Integra a paisagem o cidadão, em uma moto, passando em frente aos poucos coqueiros que se mantém intactos, enfiados em dunas, onde a onda não chega. Seu itinerário é quebrado para se dirigir aos coqueiros, todos pequenos, onde colhe um coco e ali mesmo passa a cortá-lo, e, de imediato, sorver seu líquido, seguindo viagem depois. Aqui e ali um gavião belisca algum peixe morto que a maré, enchendo, conduz até a praia. Belisca e examina a área ao redor, sem perder a elegância. Urubus também se aproveitam do peixe que o mar empurra para a areia. Um dia desse me aproximei de um, o peixe ainda sem despertar o apetite do gavião e do urubu, observando ter sido vítima de uma forte mordida de bicho maior, exibindo um buraco relativamente grande, causa evidente do óbito. Não obtive ainda explicação para o alimento que o maçarico-branco, sozinho ou em banda, tanto colhe na beira da praia, evitando sempre o contato com a água. Outra crucial dúvida: onde dorme o maçarico-branco?

Uma manhã dessa, uma arraia, pequena, de papo para o ar, na areia, a boca se abrindo e se fechando. Viva, portanto. Com a aba do chapéu, a recolhemos  – eu e Cristiane – com areia e tudo, jogando-a em seguida nas águas, onde não a vimos mais. Em outra manhã, um peixe miúdo, de menos de vinte centímetros, jazia na areia. Mexeu-se ao contato nosso. Com o uso, igualmente, do chapéu, devolvemos-lhe à água, dando um mergulho rápido, desaparecendo no meio da água, semelhando a um avião subindo. Ah, sim, sim, na praia também aparecem pessoas, a pular nas ondas, ou para o banho de sol, em pequenos grupos, ou nela caminhando, tudo sempre ao som das ondas que descem céleres, como todas as ondas, nas praias do mundo inteiro, sem nada de especial.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras