O mundo contemporâneo é visto pelo olhar das telas dos celulares que despejam milhões de informações através das redes sociais com vídeos que nem sempre representam informações corretas e completas, servindo de forma indutiva a diversos objetivos, desde a conquista de mercados de consumo à divulgação de ideias e movimentos dos mais absurdos, como os da anticiência e da antivacina, por exemplo.
Antes, no mundo analógico, a publicidade seguia a cartilha das publicações em revistas impressas, no rádio e na televisão, e no caso das farmacêuticas, tinha a figura do representante que visitava pessoalmente os médicos para influenciar na decisão de prescrever medicamentos produzidos por ela.
Sabemos também da agressividade do mundo corporativo farmacêutico com o patrocínio de eventos concorridos em hotéis luxuosos e locais paradisíacos onde à moda dos influencers tentam cooptar profissionais da saúde a aderirem aos novos produtos, preferencialmente mais lucrativos para a indústria.
Recentemente, com o fenômeno das redes sociais, o problema se agravou e, em minha opinião, passou a ser não somente um problema de saúde, mas também de crimes contra o consumidor e contra a saúde pública. Refiro-me aos vídeos produzidos com a intenção de fazer com que de forma descarada, e anunciando “milagres” de remédios sem qualquer efeito, e que para fugir da vigilância sanitária dizem que são naturais, atinjam as pessoas mais simples e idosas.
Isto tem nome: “snoke oil” ou “óleo de cobra”, que é um termo usado para descrever marketing enganoso, fraude na área da saúde ou golpe, e da mesma forma, se diz de alguém que vende, promove ou é um defensor geral de alguma cura, remédio ou solução sem valor ou fraudulenta.
Utilizam atores e atrizes que se fazem passar por profissionais da saúde e recomendam e afirmam as falsas curas com “remédios naturais” sem qualquer comprovação científica e que passam a usar a internet como único meio de vendas, e estão nos meios de comunicação de forma desavergonhadas enganando os incautos e os mais vulneráveis, sejam pela própria saúde, sejam pela falta de informação, ou ainda pela condição de acessar o sistema de saúde.
As farmacêuticas usam também, de certa forma, mecanismos parecidos, talvez com maior sofisticação, nem por isso menos grave, como podemos ver com a crise dos opioides nos Estados Unidos e que se espalha pelo mundo. Viciando e matando pessoas. Com vítimas famosas como Michael Jackson.
Urgente, portanto, que o Ministério da Saúde, a ANVISA, os Conselhos Federais de Medicina e de Farmácia atuem na defesa da informação correta e contra essa cultura da desinformação que assola o mundo.
Necessário e já estamos atrasados, que o Congresso Nacional que se preocupa mais com a falsa ideia da liberdade nas redes sociais que disseminam mentiras e desinformações, leve a sério o controle e a responsabilização das plataformas das mídias sociais que são utilizadas de forma intensa nessa prática nociva à saúde pública e ao bolso do cidadão brasileiro.
É preciso ter coragem de denunciar essa prática criminosa, que de forma organizada, lucra tanto quanto a sonegação e o tráfico de drogas, sob as bençãos das redes sociais.