A crise da saúde no Brasil levanta uma grande questão sobre o papel da saúde complementar através dos planos de saúde e a saúde privada.
Olhando os modelos praticados na Europa e nos Estados Unidos podemos chegar a algumas conclusões.
A primeira é de que nos países onde a desigualdade social e econômica é menor a saúde é totalmente pública, embora seja permitido a prática da medicina privada para os muito ricos que não desejam partilhar os espaços com as classes menos ricas. Apesar disso, observamos na Inglaterra que pessoa de todas as classes, e até mesmo a família real, são atendidos pelo sistema público de saúde.
A Europa é o maior exemplo de que garantir uma educação e uma saúde públicas de qualidade é diminuir a distância social entre as pessoas, operando a igualdade material tão desejada em quase todas as constituições do mundo.
O exemplo dos Estados Unidos vai na contramão da conquista da igualdade material, e os mais pobres não tem acesso nem a uma educação de qualidade e muito menos a serviços de saúde de qualidade, ficam à mercê de organizações não governamentais formadas por voluntários para minimizar o abandono das classes pobres.
No Brasil, apesar da nossa Constituição garantir o acesso ao sistema público de saúde para todas as pessoas, independentemente da sua condição econômica, assistimos a precariedade do sistema público, e por várias razões que merecem um verdadeiro tratado, que não cabem nesse espaço. E, por outro lado, o sistema complementar está em colapso após um período de ouro onde foram as empresas que tiveram o maior lucro no país.
Alegam os planos de saúde que a culpa foi da pandemia. Pode ser, em parte. Mas o lucro obtido em anos anteriores não justifica a piora da qualidade na prestação dos serviços com o descredenciamento de profissionais de saúde e de clínicas e hospitais. E nem podemos dizer que os valores das mensalidades sofreram redução, ao contrário, todos os anos os planos sofrem reajustes, e diferente disso as tabelas de prestação de serviços para profissionais e pessoas jurídicas, em alguns casos até diminuíram.
Toda essa crise ocorre sob os holofotes do governo e nada é feito. A população brasileira está envelhecendo e a crise na saúde somente agrava com o aumento da demanda por serviços de saúde.
Algo precisa ser feito. Não dá para arriscar um palpite. É necessário que a sociedade e o governo discutam as causas e as possíveis soluções, porque um povo sem saúde não se desenvolve e não produz.