ARACAJU/SE, 2 de junho de 2025 , 10:13:29

Silêncio & rebeldia

Não é tão simples sair do ensaio político, seara na qual já sedimentou seu nome mercê de livros e ensaios, para se enveredar pelo campo do romance, onde a nossa bibliografia apresenta, como sol maior, o nome de Francisco Dantas, cujas mãos se enchem de diversos romances, nome, portanto, já consagrado. Certo que aqui e ali pulula uma nova e solitária experiência, sem que se firme um nome que de estrela se transforme também em outro sol.  Antonio Carlos dos Santos se arriscou, costurando na mente um romance até transformá-lo em realidade: Silêncio & Rebeldia [Amazilia Coral, Aracaju, 2024, 275 p].

Fosse no campo da música, dir-se-ia um extraordinário tocador de valsa executando um frevo.  Se a diferença é gritante, o talento substitui a experiência, e, no caso em apreço, o ensaísta político, se valendo de sua intimidade com a pena, levou seu projeto à frente, dando vida aos seus personagens e autenticidade a história narrada, fazendo nascer um novo romance dentro da literatura sergipana. Silêncio & Rebeldia se tornou uma realidade, sendo silêncio apenas no título, porque o personagem central abre a boca para externar sua revolta permanente, só no final conseguindo se libertar dos ferros do assédio de que foi vítima. Para tanto, no final, externa seu estado de espírito: “Senti a alma serenar”.

O narrador não esclarece qual é a sua pátria. Contudo, nós, seus conterrâneos, sentimos, desde o início, o cheiro e o sabor de Itabaiana. No aspecto, a lenda do Santo Antonio Fujão deixa bem claro, se constituindo a falta de nominação do nome do palco, onde tudo se desenrola, um aspecto bem característico do livro, onde – observe bem o leitor – nenhum personagem igualmente tem nome. O pai, que morre cedo; a mãe, que assume o comando da casa; as irmãs, os irmãos, os sobrinhos, o padre, que, ao ouvir o personagem central, também inominado, se revela “sexualmente excitado”, ninguém tem nome, todos estão dele despojados.  

Silêncio & Rebeldia é uma experiência válida, uma leitura que desafia a atenção do leitor, ganhando ares de maturidade, não perdendo o ritmo, não enfada, se constituindo numa excelente chave a permitir ao autor o ingresso na galeria dos romancistas sergipanos. Antonio Carlos dos Santos, como vencedor, merece as batatas na sentença machadiana.