Começo com a idade do autor, Luiz José Azevedo Pereira de Melo, procurador estadual aposentado: 83 anos. Do que se sabe, primeiro livro. Título: Contos que a vida conta. O disparo é feito. Não sei se são contos – pelo menos, a grande maioria -, ou se são casos vividos nas areias pantanosas de Araticum. Bom, não perca o leitor seu tempo procurando saber onde fica Araticum. Não existe. Araticum é, digamos, o pseudônimo de Aracaju, palco de muito do narrado no livro. É uma das especialidades da publicação: focar uma cidade com um nome parecido. Laranjeiras, por exemplo, a consagrar a laranja, aparece como Limeira, ou seja, terra da lima, afinal, prima da laranja. E por aí vai, na sucessão de casos simples, muitos deles cantados e decantados pela verve popular, que, na dicção do livro, com nomes emprestados, vão tomando posição, caso por caso, numa linguagem direta, sem rebuscamento, como se o autor estivesse no meio de uma roda a contar histórias dos outroras vividos.
Essa técnica de alterar o nome da cidade e das pessoas, por nomes semelhantes, é a grande arma do livro. O autor se refere a contos, mas não posa de ficcionista. Adverte que tudo é ficção, que as semelhanças com pessoas vivas ou mortas se constituem em mera coincidência, mas não é. Muitos existiram, hoje transformados em ilustres e saudosos defuntos. Não sei se todos, porque há mergulhos em fatos ocorridos debaixo do teto de muitas casas, onde a curiosidade popular não tem acesso. Mas há muita gente que existiu, gente de carne e osso.
Dos conhecidos, arrolo, entre outros, o Conego Filomeno, udenista que leu a recomendação do bispo, traduzida em latim, a aclamar a família católica a não votar em candidatos apoiados pelos comunistas, é, na verdade, o padre Filadelfo Jonhatas de Oliveira, vigário de Laranjeiras. O professor Graça Pires, psiquiatra, autor de diversos livros, é Garcia Moreno. Josino Pessoa é Josias Passos. Entre o nome fictício e o verdadeiro, há uma bruta semelhança, rastros que o autor deixa de propósito para o leitor, já de certa idade, distinguir, como se o fim primordial fosse, como é, o de não deixar o fato morrer, no que, aliás, fez muito bem.
Este o mérito do livro, de tornar eternos os fatos que, na sua imensa maioria, rolaram nos quatro cantos de Aracaju, digo, de Araticum, expostos numa linguagem coloquial, fácil de ser deglutida, livro que oferece ao leitor, – que não conhece de perto o autor, como eu, que o vi sempre, desde priscas eras, de terno, com uma pasta na mão, – excelentes bufonarias por quem sabe narrá-las. Agora, em definitivo, fica sabendo que Luiz José Azevedo Pereira de Melo, além de apreciador de fatos burlescos, é autor de um livro que merece a pena devorá-lo, com o registro positivo de acrescentar uma publicação a mais na escassa bibliografia anedotária sergipana. Se eu fosse uma autoridade na crítica literária, diria apenas: recomendo sua leitura. Confiram.