Demorei a decidir se ia ou não assistir ao jogo. Nessa indecisão, penei: quando cheguei ao estádio, as equipes já estavam em campo. As cadeiras numeradas superlotadas. As arquibancadas também. Optei por ficar encostado no alambrado, não tão bem instalado, mas, – a culpa era minha mesma, – dali dava para ver o desenrolar do jogo. Não me lembro mais quem era o adversário do Itabaiana. Só de, na entrada, me bater com um conhecido de velhas datas, que, por ter sido réu em processo criminal na Justiça Federal, ou ainda era – não sei em que fase se encontrava o feito -, respondeu ao meu cumprimento sem esconder o constrangimento. Fiz que não percebi.
Havia muito tempo que não via um jogo junto ao alambrado. A impressão é que, com o pé no chão, rente aos jogadores, a partida parecia mais corrida e dinâmica, os atletas mais próximos. O jogo corria. Nada de gol. O Itabaiana construía as jogadas, as finalizações se verificavam sem sucesso. Ao meu lado, um torcedor, já de idade, não escondia sua insatisfação, criticando os atacantes. Ouvia calado, a cabeça só dando sinal de que estava ouvindo, quando resolvi falar também, me integrando às impressões do meu vizinho, que, até então, discursava sozinho.
Concordei com as observações sobre os atacantes, que já não me recordo, igualmente, quais eram. E, dolosamente, defendi que atacante que fazia gol, o Itabaiana tivera no passado. Eu era menino, mas ainda vi jogando um centro avante que recebia a bola um pouco depois do meio de campo, e, com bola e tudo ia passando por todo mundo, invadindo a área adversária até chutar. Um canhão! Cada chute! Parecia que era Charuto. Fosse a bola no espaço da trave, era gol certo. O árbitro já corria antes em direção ao meio de campo. O meu vizinho franziu a testa. Me perguntou quem era o atacante do tempo antigo, o do chute forte, que fazia gol a três por dois.
Fiz teatro. O senhor não conheceu. É jogador do tempo em que eu era criança. Filho daqui mesmo, futebol amador, o Itabaiana não contratava ninguém. O vizinho obstinava-se na tecla de que conhecia todos que passaram pelo Itabaiana. Queria saber quem era. E eu me esquivando. Até que venceu a insistência dele. Vou dizer quem era, mas garanto que o senhor não conheceu. Revelei o nome: Valdenor. Era o próprio. O espanto. Boca aberta, me olhando. Não falou mais.
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras