Embora seja aproximadamente do tamanho de uma minivan, com cinco adultos a bordo, o submersível que desapareceu no domingo (18) pode parecer pequeno e apertado. E no mergulho de milhares de pés em direção ao fundo do oceano Atlântico Norte, para a exploração dos destroços do Titanic, a vida lá dentro também pode ir do quente ao frio.
Conhecido como “Titan”, a embarcação iniciou a descida de duas horas e meia até os famosos destroços no início do domingo, quando perdeu contato com seu navio-mãe, o Polar Prince, uma hora e 45 minutos de viagem.
Um submersível – ao contrário de um submarino – tem reservas de energia limitadas e precisa de um navio de apoio na superfície para lançá-lo e recuperá-lo. Titan normalmente gasta cerca de 10 a 11 horas durante cada viagem ao naufrágio do Titanic, enquanto os submarinos podem ficar debaixo d’água por meses.
Fiel ao seu nome, o Titan pesa mais de 10 mil quilos e é feito de fibra de carbono e titânio, com recursos de segurança para monitorar a integridade estrutural da embarcação, de acordo com seu operador, a OceanGate Expeditions.
Cada viagem começa com 96 horas de suporte de vida, o que tornou a manhã desta quinta-feira (22) um alvo importante para a equipe multinacional de resgate que corre para encontrar a embarcação e seus passageiros.
O empresário britânico Hamish Harding, o mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, o bilionário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho Suleman Dawood foram confirmados como estando a bordo, embora as autoridades não tenham divulgado seus nomes. A quinta pessoa é o CEO e fundador da OceanGate, Stockton Rush, de acordo com uma fonte com conhecimento do plano da missão.
O capitão da Marinha David Marquet, ex-capitão de submarino, disse à CNN na quarta-feira (21) que imagina que os cinco homens a bordo estão com sede e fome e provavelmente ficarão muito desconfortáveis.
Aqui está o que sabemos sobre como é dentro do submersível.
‘Não é o submersível do seu avô’
Titan é espaçado por dentro, de acordo com o correspondente da CBS David Pogue, que fez uma viagem no equipamento até o naufrágio do Titanic no ano passado.
Há apenas um banheiro e não há assentos – com o máximo de cinco passageiros, eles devem sentar-se de pernas cruzadas no chão. Não há janelas, exceto a escotilha através da qual os passageiros veem o Titanic.
Rush, o CEO da OceanGate, disse a Pogue durante uma entrevista em 2022 que é “costume” que os membros da tripulação tirem os sapatos dentro da embarcação.
“Este não é o submersível do seu avô”, disse Rush. “Temos apenas um botão – é isso. Deve ser como um elevador; não deve exigir muita habilidade”.
Sem GPS debaixo d’água, o Titan se comunica com sua nave-mãe por mensagens de texto, e o submersível é obrigado a se comunicar a cada 15 minutos, de acordo com o site arquivado da OceanGate Expeditions. A última comunicação entre a embarcação e o Polar Prince ocorreu às 11h47 de domingo.
“Todas essas coisas com as quais estamos acostumados agora – GPS, Wi-Fi, links de rádio – não funcionam no fundo do oceano”, disse o ex-oficial submarino da Marinha, capitão J. Van Gurley, à CNN.
Operado por ‘controlador de jogos’
Partes do Titan são decididamente de baixa tecnologia.
“É operado … por um controlador de jogo, o que essencialmente se parece com um controlador de PlayStation”, disse o correspondente da CNN Gabe Cohen, que se sentou em Titan em 2018 enquanto fazia reportagens sobre a OceanGate Expeditions para a afiliada da CNN KOMO.
O controlador do jogo é usado para controle sem fio, de acordo com Aaron Newman, um investidor da OceanGate que desceu ao Titanic no Titan em 2021. Se o controle remoto falhar, as hélices podem ser controladas por meio de um sistema de fio interno, disse Newman.
A embarcação opera sob ordens estritas para manter distância dos destroços do Titanic para evitar ficar presa, acrescentou.
Titan ‘foi projetado para voltar à superfície’
Titan é mantido debaixo d’água por lastro – pesos pesados que ajudam na estabilidade de uma embarcação – construído para ser liberado automaticamente após 24 horas para enviar o submarino à superfície, disse Newman.
“Ele foi projetado para voltar”, disse ele à CNN.
Os membros da tripulação são informados de que podem liberar o lastro balançando o navio ou usar uma bomba pneumática para liberar os pesos, disse Newman. Se tudo mais falhar, disse ele, as linhas que prendem o lastro são projetadas para ceder após 24 horas para enviá-lo automaticamente de volta à superfície do oceano.
Os propulsores do Titan são alimentados por um sistema elétrico externo, enquanto um sistema interno alimenta as comunicações e um aquecedor, disse Newman. Depois de embarcar no Titan, as temperaturas internas esquentam rapidamente antes de começar a esfriar à medida que desce em direção ao fundo do oceano, disse ele.
As temperaturas no oceano profundo estão um pouco acima de zero.
“Os espaços são apertados – quentes perto da superfície da água e quase congelantes nas profundezas”, disse Newman, acrescentando que os membros da tripulação podem se sentar em uma saliência baixa dentro da embarcação para olhar pela vigia.
“Há um aquecedor (no Titan), então pode esquentar um pouco, mas obviamente isso não vai durar para sempre”, disse ele. “E, obviamente, se estiver escuro, provavelmente será muito difícil para o seu estado mental.”
Se o submersível permanecer em águas profundas por muito tempo, a hipotermia pode ser um problema, disse David Gallo, consultor sênior de Iniciativas Estratégicas do RMS Titanic. “É como uma visita a outro planeta, não é o que as pessoas pensam. É um ambiente sem sol e sempre frio – de alta pressão.”
(Com informações de Jessie Yeung, Nouran Salahieh, Ray Sanchez, Priscilla Alvarez, Brad Lendon, Eric Levenson, Rob Frehse, Dave Alsup, Jacqueline Rose e Raja Razek, da CNN)
Fonte: CNN BRASIL
