ARACAJU/SE, 23 de novembro de 2024 , 12:14:34

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A dois dias das eleições, Venezuela encerra campanha que pode tirar Maduro do poder após 11 anos

 

De um lado, Nico; do outro, Egu. Nico é Nicolás Maduro, presidente chavista há 11 anos no poder, que tenta mais uma reeleição no domingo; Egu é o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia, figura pouco conhecida no país que substituiu María Corina Machado, mas que representa a esperança da mudança. Ontem, seguidores dos dois candidatos tomaram as ruas de Caracas, encerrando uma campanha presidencial com comícios históricos da oposição, e que decidirá os rumos do país.

“Nas próximas horas haverá motivação, consciência, disciplina, organização porque na Venezuela
reinará a paz e a tranquilidade”, disse Maduro, finalizando um comício que durou 12 horas e foi dividido em três pontos de encontro. “No domingo vamos derrotar o fascismo e o imperialismo. Até a vitória sempre, caralho”.

Em sua terceira campanha eleitoral, Maduro incorporou palavras como futuro, evolução, transformação e mudanças. Mas continuam presentes os lemas herdados de Chávez e relacionados “à defesa do socialismo na luta contra o capitalismo” e da soberania nacional diante das “ameaças do imperialismo colonialista”. Nas ruas, seus eleitores cantavam as músicas de Maduro vestindo camisetas com frases que lembram épocas passadas. Algumas têm a imagem de Chávez, o líder eterno e de culto inabalável. Outras, que custam, em média, US$ 5 (R$ 28), refletem os novos tempos com frases como “Com Nico há futuro”, “Nico vai pra frente” e “Nico é meu candidato”, entre outras.

Maduro carrega nas costas índices muito baixos de popularidade — segundo algumas pesquisas, inferiores a 15% —, mas para muitos eleitores chavistas continua sendo a única opção. Por lealdade a Chávez, pavor da oposição ou ambos.

“A vida está difícil, sim, mas confiamos em Nicolás, vai melhorar”, comenta a vendedora ambulante Yubisay Rodríguez, de 25 anos.

Clima de esperança

Na oposição, o clima é de esperança, após 25 anos de chavismo. Em La Mercedes, bairro rico da capital, Edmundo e a líder opositora María Corina Machado (inabilitada para disputar eleições e ocupar cargos públicos por 15 anos) encerraram uma campanha que despertou enormes expectativas de mudança no país.

Muitos admitem ter conhecido o candidato recentemente, mas afirmam que o apoio de María Corina é suficiente para decidir seu voto. Com poucas bandeiras políticas e muitos cartazes que pediam “liberdade”, “fim do socialismo” e “a volta de nossos filhos”, milhares de venezuelanos inundaram a avenida principal de um bairro conhecido por seus restaurantes — e escolhido na véspera do comício pela segurança que oferece.

O que mais se ouve entre os opositores é que esta eleição é “a última oportunidade”. A frase é um dos mantras de María Corina, que desde sua esmagadora vitória nas primárias no ano passado, tornou-se líder absoluta da oposição — apesar de manter uma relação conflituosa com a maioria de seus dirigentes.

“Tenho esperanças pela primeira vez em muito tempo, e não quero ir embora do meu país como foram tantos jovens. Precisamos ganhar”, disse, emocionado, o estudante de direito Ricardo Campos, de 22 anos.

A parceria entre María Corina e Edmundo é claramente estratégica, e muitos se perguntam como continuará em caso de eventual vitória de um candidato de 74 anos que nunca atuou na política e, até agora, parece seguir as orientações da líder — pelo menos nas decisões mais importantes. Antes do comício, ambos assinaram uma declaração conjunta se comprometendo a, entre outras coisas, buscar consensos no país. A unidade é essencial para uma eventual vitória eleitoral, e María Corina e Edmundo — e seus colaboradores com experiência que operam nos bastidores — sabem bem disso.

“Precisamos que todos, desde cedo, estejam ativos. Quem defende o voto de vocês?”, perguntou María Corina, que recebeu a mesma resposta que em todos os comícios: “Nós!”.

Ao seu lado, Edmundo sorriu e concordou:

“Teremos a jornada eleitoral mais importante de nossa História, pelo retorno de nossos filhos e netos, por uma Venezuela livre!” disse, puxando o hino nacional.

Hoje, mais de 50% da população vive abaixo da linha da pobreza, mas eleitores chavistas como Carlos Padrón, um enfermeiro que trabalha num hospital, em suas palavras, “caindo aos pedaços”, afirmam que a culpa não é de Maduro e sim das sanções econômicas e do “imperialismo que nos boicota permanentemente”.

“Os dirigentes opositores são os responsáveis pelas sanções. Por eles estamos como estamos”, diz Carlos, de 32 anos, que votou em Maduro nas últimas duas eleições.

Quase uma religião

O analista político Oscar Schemel diz que entre o chavismo e seus eleitores “ é compartilhada uma cultura política e uma identidade de classe”.

“O chavismo é quase uma religião, e isso explica por que, apesar do clima de descontentamento, muitas pessoas votarão por Maduro. Frente à ameaça da exclusão social, os chavistas se unem”, aponta.

Fonte: Exame

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