ARACAJU/SE, 3 de setembro de 2025 , 19:17:11

Aglomerações persistem diante de cenário pandêmico

Mesmo com o alerta de cientistas no início do mês para a terceira onda da Covid-19 no Brasil e a superlotação nas UTIs dos hospitais públicos e particularesa as aglomerações em Sergipe continuam. Em Aracaju, nessa sexta-feira (11), a reportagem do Jornal Correio de Sergipe (CS) flagrou vários pontos de aglomeração em alguns Terminais de Integração de ônibus do transporte coletivo e no Centro da cidade – em locais como lanchonetes, salões de beleza, lojas de eletrodomésticos e barracas de ambulantes.

De acordo com o boletim epidemiológico do último dia 10 pela Secretaria de Estado da Saúde, desde o início da pandemia, Sergipe registrou cerca de 250 mil casos e 5319 mortes. Para conter os avanços da contaminação, ficou definido, por meio de Decretos, toque de recolher de quinta-feira a sábado, das 22h às 5h, em todo o estado. Mesmo com a medida de restrição, o que se viu nessa sexta, na capital sergipana foi livre circulação de pessoas.
Esse comportamento de risco foi pesquisado mês passado pelo Instituto Datafolha. O estudo revelou que, a cada dez brasileiros, apenas três estão totalmente isolados. Este é o menor índice de isolamento social desde o início da pandemia, segundo o instituto.

A ambulante Edevalda Gama, de 56 anos, trabalha vendendo máscaras de tecido no Terminal do Mercado e disse à reportagem do Correio de Sergipe que nota muito idoso nas linhas com destino à Barra dos Coqueiros. “Os idosos deveriam ficar em casa, olhar mais para a saúde deles. As linhas que mais têm aglomeração, principalmente de idosos, são a 610 e 611 [ambas da Barra]. Nunca vi ninguém fazendo fila para entrar no ônibus. Falta um pouco de consciência de nossa parte também! Parece que a população gosta de bolo, até parece fermento. Eles não têm medo. Meu irmão teve Covid-19 e quase morreu”, contou a autônoma, que desde o início da pandemia está com ponto de venda no Terminal. Um dos fiscais do local disse que normalmente a linha 061 também é uma das que mais demanda em horários de pico (06h e 17h). Outros usuários até tentaram justificar a falta de distanciamento devido à insuficiência do número de ônibus.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Município de Aracaju (Setransp) foi contatado pelo CS e esclareceu que todo o quantitativo da frota já está circulando nas ruas da Grande Aracaju.

Edevalda disse que já tomou a primeira dose da vacina contra a Covid-19, e também já agendou o reforço para oito de agosto. Mas muitos sergipanos ainda não foram imunizados e a orientação da Organização Mundial de Saúde em caso de não imunização é o rigoroso isolamento social.

Apesar de o cenário retratar uma população resistente às recomendações sanitárias, a educadora Rosângela Godinho aponta para questões mais estruturantes, como a educação falha de muitos brasileiros. “Particularmente não creio que o brasileiro tenha dificuldade para cumprir regras. A maioria tem carência de educação, que o levaria à consciência de que ter deveres a cumprir está intimamente ligado aos direitos”, opinou.

Filas
Um ano após a Justiça Federal em Sergipe conceder liminar que obriga a Caixa Econômica Federal a organizar as filas e encerrar as aglomerações nos arredores do banco, o CS flagrou descumprimento nas agências do calçadão da Rua João Pessoa, da praça Fausto Cardos e do bairro Siqueira Campos. As filas davam volta na calçada e dobravam quarteirão, além de muita tumulto na entrada. Segundo os usuários, a espera por atendimento levou mais de uma hora. Uma cliente disse que desde janeiro vai à agência da Praça Fausto Cardoso e não consegue pegar o seu cartão.
A situação da unidade do bairro Siqueira Campos é ainda mais dramática. Além de se amontoarem do lado de fora, os usuários sequer têm abrigo contra sol e chuva. Os flagrantes foram feitos próximo de meio-dia.

Nas três agências da Caixa que o CS esteve, os clientes foram unânimes em denunciar que a situação se repete diariamente desde o início da pandemia, e nunca viram fiscalização por lá.

Mas a Caixa não foi o único banco que desobedeceu às recomendações sanitárias dos Decretos municipal e estadual. No Santander da Praça Fausto Cardoso também foi visto aglomeração do lado de fora, e, segundo os clientes, nenhum funcionário apareceu para organizar a fila ou distribuir senhas. Uma mulher grávida reclamou que aguardava há uma hora e sequer teve direito a fila preferencial. No Itaú do calçadão da Rua João Pessoa teve um princípio de aglomeração na porta da agência. Ano passado a agência do bairro Siqueira Campos foi notificada e autuada pelo mesmo desrespeito ao consumidor. No Banese da Rua Geru também tinha fila, aglomeração e informações desencontradas entre funcionários e clientes.

Segundo a promotora Euza Missano, da Promotoria de Justiça do Consumidor, atualmente tem procedimento no Ministério Público de Sergipe (MPSE) em face do Bradesco, com pedido de fiscalização feita pelo Procon. “Já temos audiência marcada com o banco”, disse a promotora, sem revelar ainda a data do encontro. Uma nova fiscalização será feita este ano pelo MPSE.

A Promotoria do Consumidor é a responsável por cobrar dos gestores públicos a fiscalização do cumprimento das medidas restritivas e de distanciamento. Apesar de a obrigação ser dos órgãos fiscalizadores, Euza Missano fez um apelo para que as pessoas denunciem os flagrantes na Ouvidoria do Ministério Público. “Como são vários estabelecimentos, é necessário que o consumidor informe na Ouvidoria do MPSE, como foi o caso do Bradesco. Já foi pedida fiscalização em todas as agências”, disse Euza.

Explicações

Por meio de nota, o Itaú disse que o “reafirma seu compromisso em oferecer atendimento de qualidade e seguro aos consumidores, assim como em cumprir os normativos vigentes, especialmente aqueles que regulamentam o funcionamento das agências bancárias neste período de pandemia”. O banco pediu aos seus clientes que deem preferência aos canais digitais durante essa pandemia. “O Itaú reforça a orientação para evitar ir às agências bancárias. Os serviços disponíveis em ambiente digital podem ser conferidos em: www.itau.com.br/coronavirus”, pontua o banco.

A Caixa Econômica diz que “ampliou o número de empregados e terceirizados para fortalecer a sua rede de atendimento, em especial nas agências que concentram os maiores números de beneficiários do Auxílio Emergencial”. O banco disse ainda que, “em um universo de mais de 4.200 agências, eventuais filas são pontuais”.
O Santander e o Banese não retornaram o contato até o fechamento desta matéria.

 

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