ARACAJU/SE, 28 de novembro de 2024 , 19:29:29

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Agora evangélico, ‘homem mais tatuado do Brasil’ começa a remover tatuagens

 

O fotógrafo Leandro de Souza, 35, dedicou 20 anos da sua vida às tatuagens até ser reconhecido como o “homem mais tatuado do Brasil”. Agora, convertido ao evangelho, começou a remover todas as figuras que cobrem seu rosto e corpo.

Leandro começou a viralizar nas redes sociais após divulgar sua história de conversão, abandono das drogas e o processo de remoção das tatuagens que contam a história de sua vida. Em vídeos, ele postou trechos das sessões de aplicação de laser para remover a tatuagem de caveira do rosto, exibindo os resultados ainda provisórios.

O fotógrafo conta que, depois que se converteu, há um ano e sete meses, parou “da noite para o dia” com o consumo de drogas, bebidas e cigarros. Ele diz ter sido “alcançado pela remoção das tatuagens”, ao ganhar o tratamento gratuito de uma clínica, por meio de um testemunho que viralizou, pedindo um emprego, uma oportunidade de trabalho.

Segundo ele, a obsessão com as tatuagens nasceu do desejo por admiração, pois chamava a atenção por onde passava. “Porém, com o tempo, fui percebendo que eu era mais como uma atração de circo. Não queria mais essa vida para mim”.

O processo de remoção das tatuagens é doloroso, mas Leandro vê como uma forma de arrependimento e renovação: “Dói muito, por mais que coloquem anestesia, é horrível a dor. Mas isso é parte do preço das coisas que fiz no passado. Estou confiante porque a equipe da clínica é excelente e os resultados têm sido satisfatórios”.

Até o momento, Leandro foi submetido a duas sessões de remoção a laser. Mas acredita que serão necessárias aproximadamente oito sessões, a cada três meses, durante dois anos para conseguir remover a totalidade dos desenhos. Afinal, ele possui 95% do corpo tatuado, o que lhe conferiu um troféu no ano passado, durante um evento internacional.

Leandro começou a se tatuar ainda jovem e a primeira imagem, representando uma banda de rock, foi impressa em sua pele aos 13 anos, com consentimento da mãe. Com o tempo, ele foi pegando gosto pela arte e se especializou como tatuador.

“Trabalhei muitos anos como tatuador, enquanto continuava a preencher o corpo com as tatuagens. Cheguei a ser apontado como o homem mais tatuado do Brasil na Expo Tattoo Internacional de Santa Rosa, em 2023. Eu fazia por idolatria total. Eu idolatrava artistas do mundo e tinha uma vida de sexo, drogas e rock’n’roll antes de Cristo”, relata Leandro de Souza.

Adoção e abusos sexuais

Leandro teve uma infância aparentemente tranquila, tendo sido criado com muito conforto e zelo pela mãe adotiva, professora aposentada da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul. Ele foi adotado por ela com a intervenção da madrinha, uma conselheira tutelar, que o encontrou ainda recém-nascido, numa caixa de sapatos, em 1989.

O fotógrafo diz que a adoção influenciou positivamente sua vida, apesar das “mentiras” sobre sua origem. Ele descobriu, por um coleguinha no colégio, que era adotado, e isso foi muito traumático. “Minha mãe mentia muito sobre a adoção, com medo de me perder. Fui criado em um lar cheio de mentiras, mas sempre com muito amor e carinho”.

Apesar dos cuidados que recebia, durante sua infância Leandro ainda sofreu abusos sexuais por parte de um policial militar que frequentava a casa de sua babá. Ele conta que isso o marcaria para a vida toda, influenciando as experiências que viveria na adolescência e na fase adulta.

“Esse policial me molestava e forçava a praticar atos sexuais. Isso começou quando eu tinha apenas 4 anos, em 1994. Essas experiências traumáticas tiveram um impacto profundo em mim e contribuíram para muitas das decisões que tomei mais tarde na vida”, revela Leandro de Souza.

A adolescência do fotógrafo foi marcada por desafios e desvios, até que por um ato impensado foi parar na prisão. “Conheci as drogas com a mãe do meu filho, que hoje tem 10 anos. Depois da separação, comecei a usar cocaína e me afastei de tudo”. Aos 23 anos, ele foi acusado de estelionato juntamente com um amigo, após fazer compras com um cartão encontrado na rua. Isso o levou à perda da curatela da mãe e, eventualmente, à prisão, anos depois.

“Minha mãe foi interditada por demência senil e colocada em um asilo. Eu fui preso por estelionato e, devido às irresponsabilidades com a minha vida, perdi a curatela dela. O asilo não cuidou bem das finanças dela, e a casa foi saqueada e as contas se acumularam. Hoje, luto para reestruturar a casa e trazê-la de volta”, conta o fotógrafo.

Para conseguir angariar recursos para os dias de alimentação e hospedagem em Franco da Rocha, São Paulo, onde fica a clínica, e também para adaptar a casa para o retorno da mãe, Leandro conta com a ajuda de seguidores e o que chama de irmãos de fé. Recentemente, criou uma vaquinha online para conseguir cumprir seus objetivos.

Recentemente, ele vem trabalhando como fotógrafo de eventos, mas procura por algo fixo. A curatela da mãe só será autorizada pela justiça se ele tiver um emprego registrado e a casa estiver em condições de receber a idosa. “Farei o que for preciso para ter meu filho e minha mãe ao meu lado”.

Desafio na remoção a laser

O biomédico esteta Giancarlo Pincelli, da clínica Hell Tattoo, que está realizando a remoção das tatuagens de Leandro, explicou ao Uol que o processo a laser é considerado o método mais seguro e eficiente. O laser fragmenta o pigmento da tatuagem para que o organismo o elimine gradualmente mediante processos naturais, como urina e suor.

As tatuagens de Leandro, especialmente por estarem no rosto e serem coloridas, apresentaram um desafio significativo. Remover pigmentos ao redor dos olhos, segundo o especialista, é complexo e requer proteção especial e cuidados intensivos para evitar complicações.

O valor da remoção custa a partir de R$ 150 a sessão, em casos de tatuagens pequenas, como, por exemplo, uma letra no dedo. As tatuagens coloridas, normalmente são mais complexas e utilizam mais tecnologias, consequentemente elas acabam sendo as mais caras para remover.

Embora Leandro tenha mostrado bons resultados após duas sessões, não é possível prever o número total de sessões necessárias, segundo o biomédico. As sessões têm um intervalo de 60 a 90 dias para permitir a recuperação da pele e a eliminação dos pigmentos fragmentados pelo organismo.

A sensibilidade à dor varia, mas é gerenciada com anestésico local e resfriador durante as sessões. “Leandro tem se mostrado motivado e confiante, apesar do desconforto”, afirma o biomédico. Os cuidados incluem compressas de gelo, uso de cremes reparadores e evitar exposição ao sol. Após as sessões, podem ocorrer bolhas, cascas e sensibilidade na área tratada.

A intenção é remover as tatuagens completamente, mas há sempre o risco de alguma marca ou resíduo de pigmento, avisa Pincelli. Em casos de cicatrizes preexistentes, essas também são tratadas com laser de CO2 fracionado.

Para a remoção de tatuagem do Leandro, o profissional está utilizando uma combinação de diferentes tipos de lasers para remover o pigmento e rejuvenescer a pele. Um dos equipamentos em uso chama PicoSure, é o primeiro laser que emite pulsos de energia muito curtos, em picossegundos.

Também são combinadas outras tecnologias no tratamento, como lasers ablativos fracionados e lasers q-switched. Os fracionados ablativos trabalham a superfície da pele causando micro agressões, que geram resposta inflamatória e recuperação para produção de colágeno novo. Já os q-switched são ponteiras que emitem feixes e pulsos intervalados, o que permite que a energia disparada seja mais bem focada e o efeito da luz, mais eficiente.

“Pacientes como Leandro frequentemente não se identificam mais com suas tatuagens, afetando sua vida diária. A remoção das tatuagens pode melhorar significativamente o bem-estar mental, como observado com Leandro, que agora motiva seguidores com seu testemunho de vida”, explica o biomédico Giancarlo Pincelli.

Fonte: Uol

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