ARACAJU/SE, 25 de setembro de 2025 , 17:54:36

Anúncios falsos estão entre golpes mais comuns nas redes; saiba como evitar

 

O Brasil é o segundo país com mais ataques cibernéticos do mundo, de acordo com o Panorama de Ameaças para a América Latina 2024. Um dos principais fatores para esse cenário é a adoção massiva das redes sociais, o que cria um ambiente fértil para os golpistas, de acordo com especialistas.

“Nós temos uma inclusão digital acelerada, mas sem a devida alfabetização digital. Milhões de brasileiros entraram no mundo online e financeiro digital sem o preparo para identificar os riscos”, analisa o advogado Lucas Ruiz Balconi, doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, a criminalidade cibernética se profissionalizou, com quadrilhas especializadas em phishing, anúncios falsos e até uso de deepfake, conforme analisa André Dantas, advogado com expertise em processo legislativo e direito público. “Somado a essa questão, temos uma regulação fragmentada e dificuldade de investigação, o que faz com que a sensação de impunidade estimule ainda mais esse mercado ilegal”, completa.

De acordo com os especialistas, um dos golpes mais comuns nas redes sociais são os anúncios falsos de produtos que levam a sites de e-commerce clonados ou que promovem benefícios governamentais ou vantagens financeiras.

“O golpe pode começar com um anúncio falso no Instagram, continuar com uma conversa no WhatsApp e ser consumado via PIX, muitas vezes com o dinheiro sendo lavado por meio de empresas de pagamento de fachada. É um problema sistêmico”, exemplifica Balconi.

“As plataformas são o vetor de maior alcance, mas a fraude percorre diferentes serviços e atores que, hoje, não conversam entre si para preveni-la de forma eficaz”, completa.

Campanhas de doação fraudulentas também são comuns nas redes, principalmente aquelas que copiam a identidade visual de campanhas legítimas para desviar recursos. Clonagem de perfis no WhatsApp, em que o criminoso se passa por algum amigo ou familiar da vítima, também é uma das fraudes mais frequentes.

“Há, ainda, o phishing, em que o usuário é levado a clicar em links enganosos para fornecer dados”, afirma Dantas.

Vulnerabilidade a fraudes digitais não se restringe à idade

Qualquer pessoa que está presente nas redes sociais está vulnerável a sofrer golpes digitais, mas há uma parcela da população que está em maior risco. De acordo com Dantas e Balconi, pessoas acima de 50 anos e idosos são os mais afetados.

“Elas confiam mais nas mensagens que recebem e, muitas vezes, têm menor domínio das ferramentas digitais. Mas não são as únicas vítimas: jovens adultos, principalmente aqueles muito ativos no e-commerce e em operações via Pix, também têm sido alvos constantes”, explica Dantas.

Segundo Balconi, os jovens estão mais vulneráveis a fraudes relacionadas a jogos online, promessas de dinheiro fácil e esquemas de pirâmide financeira, muitas vezes recrutados em grupos de Discord e Telegram. “A vulnerabilidade hoje é menos sobre idade e mais sobre o contexto: o desemprego, o desejo de ganho rápido e a falta de educação digital crítica atingem todas as faixas etárias”, afirma.

Falta de regulamentação deixa o terreno fértil para golpes

De acordo com os especialistas, a falta de regulamentação mais rigorosa para as redes sociais deixa o terreno mais fértil para fraudes digitais no Brasil. Na visão de Balconi, existem três pilares que poderiam reduzir a incidência de golpes em redes sociais.

“Primeiro, uma regulação mais rigorosa dos intermediários de pagamento (gateways, sistemas de cashout, entre outros), responsabilizando-os por transações com empresas de fachada criadas para fraudes”, afirma. “Segundo, a implementação de mecanismos mais ágeis de bloqueio e devolução de valores no ecossistema do PIX em casos de fraude comprovada. Por fim, a consolidação de um marco legal claro sobre o dever de cuidado das plataformas, que as obrigue a agir proativamente, o que felizmente começou a mudar, mas ainda é muito incipiente.”

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou, por maioria, a tese que responsabiliza as big techs por conteúdos criminosos postados por terceiros e estabelece que o Artigo 19 do Marco Civil da Internet é parcialmente inconstitucional.

“Esse foi o ponto de mudança mais importante dos últimos anos”, afirma Balconi. “A decisão cria o fundamento jurídico para que as plataformas sejam responsabilizadas por não agirem de forma diligente para remover conteúdos fraudulentos, especialmente após notificação. A lacuna está diminuindo, mas ainda temos um longo caminho.”

Como se proteger?

Existem algumas medidas que podem ser tomadas para evitar cair em fraudes digitais. De acordo com os especialistas, é recomendado:

  • Ativar a autentificação em dois fatores em todas as contas;
  • Desconfiar de ofertas “boas demais” ou de mensagens com senso de urgência;
  • Verificar links antes de clicar;
  • Verificar a fonte de campanhas para doação ou de pagamentos online;
  • Nunca compartilhar códigos de segurança recebidos por SMS ou WhatsApp;
  • Usar senhas fortes e diferentes para cada serviço utilizado;
  • Configurar limites e alertas de transações, especialmente no PIX.

Fonte: CNN Brasil

Você pode querer ler também