Sem um plano B para contornar a imposição da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, os exportadores de frutas dão como certa a queda nos preços dos principais itens de exportação: manga, uva e polpa de açaí. Juntos, os três representam 90% do total exportado para os EUA, segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).
Os impactos no mercado interno serão sentidos de acordo com o calendário de colheita de cada uma das culturas. A primeira delas, a manga, já está em fase de colheita e teria seus embarques iniciados a partir de agosto — exatamente quando está previsto o início da vigência da tarifa. “Já estava tudo certo para colher, com reserva de espaço no navio, embalagem comprada, os protocolos cumpridos, tudo certo para começar a safra”, afirmou o diretor institucional da Abrafrutas, Luiz Roberto Barcelos.
A estimativa da associação é de que 70 mil toneladas de manga tenham sido negociadas com importadores americanos nesta temporada, volume que precisará ser destinado ao mercado europeu, que nesta época do ano está abastecido com a oferta de produtores locais, ou para o próprio Brasil.
“Isso certamente vai pressionar o preço para baixo, porque vai ter excesso de oferta em mercados que já vinham sendo abastecidos”, disse Barcelos.
Diante desse cenário, segundo ele, alguns produtores cogitam não colher os frutos quando consideram os custos com a operação e o valor que potencialmente receberão pelo produto.
Além disso, o investimento na próxima safra também fica comprometido, já que há dúvidas sobre quanto tempo durará a tarifa. “Com esse imposto de 50%, a fruta brasileira fica praticamente sem condição de ser comercializada”, ele acrescentou.
Colhida em meados de novembro, a uva do Vale do São Francisco será a próxima cadeia a ser afetada pela taxação. Uma fatia de 26,13% das exportações da fruta foi destinada aos EUA em 2024. Para a polpa de açaí, os EUA foram destino de 31% dos embarques do último ano. Ao todo, elas somaram US$ 89 milhões em receita em 2024. Já no caso da manga, foram US$ 45,8 milhões exportados para os EUA, o equivalente a 13% do total exportado no período.
Outra fruta impactada pela tarifa foi o abacate, cujos embarques sequer iniciaram. O setor vinha negociando a abertura dos EUA para exportação da fruta, mas diante do atual cenário, essa possibilidade está dada como perdida. “A situação já vinha muito ruim porque os EUA vinham pressionando para o Brasil abrir mercado par ao etanol americano. Agora paralisou tudo”, revela Barcelos.
Sem alternativas, a única esperança do setor é uma potencial revisão da decisão de taxar o Brasil por parte do governo americano. “Nossa expectativa é de que o diálogo supere qualquer desgaste de comercial e que realmente possa haver uma revisão e uma revogação dessa possível entrada de tarifas”, observa a gerente de país da Associação Internacional de Produtos Frescos (IFPA, na sigla em inglês), Valeska Oleiveira Ciré. Segundo ela, a IFPA tem buscado demonstrar ao governo americano que os EUA precisam das frutas brasileiras.
“Nós, enquanto iniciativa privada e associação, buscamos o diálogo e levar conhecimento para ambos os governos explicando o que isso representa. E do outro lado, os consumidores americanos também esperam consumir mangas a valores competitivos”, afirma Ciré.
Fonte: Globo Rural