ARACAJU/SE, 23 de outubro de 2024 , 2:23:48

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Argentina entra em recessão técnica com nova queda no PIB

 

A Argentina entrou em recessão técnica após registrar dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB). Com os grandes cortes de gastos do presidente Javier Milei esfriando a atividade econômica e o consumo, analistas avaliam que uma recuperação para os próximos meses ainda é incerta e a economia ainda não chegou ao “fundo do poço”.

O PIB argentino caiu 5,1% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com igual período de 2023, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). No último trimestre de 2023, o PIB havia contraído 1,6% em termos anuais.

Milei, que assumiu o cargo em dezembro, argumenta que o país precisa organizar suas finanças após anos de déficits fiscais que afastaram investidores globais. Ele defende que o rigor fiscal é necessário para a economia começar a se recuperar de forma sustentável.

Por outro lado, a restrição na atividade econômica fez com que o governo registrasse cinco superávits mensais consecutivos e uma desaceleração mensal da inflação mais rápida do que o esperado, de 25,5% em dezembro para 4,2% em maio — embora se espere um índice mais alto para junho.

Analistas argentinos apontam, porém, que o processo de saneamento fiscal para que a atividade econômica alcance um nível sustentável de crescimento ainda deve demorar. “Acreditamos que o segundo trimestre novamente será muito ruim. Só no terceiro e quarto trimestres começaremos a ver a economia atingir o fundo do poço para que comece a melhorar, mas de maneira muito heterogênea entre os setores, no consumo, etc”, projeta Juan Pablo Ronderos, da consultoria MAP.

Ronderos atribui a queda do primeiro trimestre à forte redução nos salários e aposentadorias, que levou à queda no consumo e à acentuada diminuição da produção. ”Além disso, muitos setores ainda trazem resquícios da crise do ano passado. Isso tornou a recessão ainda mais intensa.”

Já o analista Nicolás Alonzo, da Orlando J. Ferrerés & Asociados, afirma que a economia argentina deveria parar de cair no segundo trimestre, mas os sinais para que isso ocorra “ainda são conflitantes”. “Em abril houve recuperação, mas para maio a situação é incerta. Medimos a indústria e ela caiu 1% no mês em maio, então ainda há muita volatilidade”, afirma.

A recessão se consolida em meio aos efeitos das duras medidas do programa de austeridade de Milei, que estabeleceu como prioridade a ordem fiscal — marcado por desindexação e corte de salários, suspensão de repasses a províncias, cancelamento de contratos de obras públicas e demissão de funcionários públicos, além da desvalorização do peso em mais de 50% e fim de controles de preços.

Em outro dado importante publicado ontem, o Indec apontou que o desemprego subiu para 7,7% da população economicamente ativa — ante 5,7% no final do ano passado. Isso significou que 300 mil pessoas perderam o emprego nos primeiros três meses de 2024.

O item que mais p paa a queda do PIB no primeiro trimestre ocorreu na formação bruta de capital fixo, com redução de 23,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Outras quedas relevantes no primeiro trimestre aconteceram nos setores de construção (-19,7%) e da indústria de transformação (-13,7%). Na contramão, o setor de agricultura, pecuária, caça e silvicultura teve crescimento de 10,2%.

“O governo tem poucas ferramentas para aliviar isso. É muito difícil combater a inflação sem provocar uma recessão. Além disso, a origem da inflação na Argentina é fiscal, que até agora limitou a atração de investimentos”, diz Alonzo, completando que o que se espera para 2025 é que a economia se recupere sem o peso do grosso dos ajustes.

A forte desvalorização do peso argentino provocada por Milei também teve impacto nas exportações, que cresceram 26,1% nos três primeiros meses do ano.

Os dados econômicos foram divulgados no mesmo dia em que a cotação do dólar no paralelo, bateu seu recorde no governo Milei, fechando em 1.330 pesos — 25 pesos acima da jornada anterior.

“Há muita incerteza sobre qual será a política cambial e monetária e o banco central não tem enviado sinais sobre isso — provavelmente porque precisará adequar essas regras a acordos políticos”, explica Mariana Díaz, analista da consultoria Tecnosud. “Isso tem levado investidores à segurança do dólar e pressionado o câmbio”, disse.

Fonte: Valor

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