Por muito tempo, acreditava-se que os idosos deveriam evitar atividades físicas devido à fragilidade do corpo. No entanto, essa noção está sendo cada vez mais refutada pela ciência. Para pessoas com mais de 60 anos, especialmente aquelas diagnosticadas com câncer, inclusive em estágios avançados, a prática de exercícios torna-se ainda mais crucial.
Uma pesquisa brasileira recente, liderada pelo oncologista Paulo Bergerot e apresentada no Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO 2024) — o maior congresso de oncologia do mundo — apontou que a atividade física reduz a fadiga e prepara melhor o paciente para enfrentar os tratamentos, proporcionando desfechos mais positivos.
Os resultados evidenciaram que idosos com mais de 65 anos, submetidos à terapia oncológica, experimentaram melhora na qualidade de vida e alívio de alguns efeitos colaterais dos medicamentos de imunoterapia e quimioterapia após 12 semanas seguindo uma rotina de atividade física moderada.
“Portanto, inserir exercícios no dia a dia, mesmo após o diagnóstico de câncer, é essencial. Isso vai contribuir para a manutenção da funcionalidade corporal, permitindo que os idosos realizem suas demandas diárias com maior autonomia, além de experimentar melhorias significativas em diversas áreas da vida, incluindo a saúde mental”, destaca a cardiologista Úrsula Burgos, da Oncoclínicas de Sergipe.
No contexto do câncer, ela acrescenta que os desafios enfrentados pela população idosa são ainda maiores. A terapia oncológica, muitas vezes agressiva, somada às limitações próprias do envelhecimento, pode impactar severamente a qualidade de vida desses pacientes. “Os exercícios físicos regulares não apenas fortalecem o corpo para enfrentar o tratamento, mas também têm demonstrado melhorar a capacidade mental e emocional dos praticantes”, explica.
Segundo a médica, a conscientização é fundamental nesse processo. “Os profissionais de saúde têm o papel crucial de educar e motivar os pacientes a incorporarem o exercício em suas rotinas, mesmo diante das dificuldades impostas pela idade e pela doença. Embora algumas condições possam impedir a prática regular, o ideal é que a prescrição seja feita de forma individualizada, respeitando as limitações de cada pessoa”, reforça.
A especialista acrescenta que, para os idosos considerados frágeis — aqueles com um declínio funcional significativo —, cuidados ainda mais específicos são necessários. No entanto, o objetivo deve ser sempre buscar a manutenção da funcionalidade, mesmo que parcialmente, garantindo que mantenham o máximo de independência possível dentro das suas condições.