ARACAJU/SE, 30 de janeiro de 2025 , 18:57:51

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AVC em crianças pode aumentar risco de ansiedade e depressão, diz estudo

 

Sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) na infância, especialmente entre oito e nove anos, pode aumentar o risco de desenvolver ansiedade, depressão e sintomas como dor de cabeça e de estômago. A descoberta é de estudo preliminar que será apresentado na Conferência Internacional de AVC 2025, da American Stroke Association. O evento acontecerá em Los Angeles, na Califórnia, Estados Unidos, entre 5 e 7 de fevereiro.

No estudo, pesquisadores apontam que a relação entre ansiedade e depressão em crianças que sofreram AVC isquêmico — o tipo mais comum — ainda não é bem compreendida.

“Nossa análise descobriu que os desafios de saúde mental estão presentes em uma taxa maior nesses jovens sobreviventes de derrame em comparação à população em geral”, diz Nomazulu Dlamini, diretor do Children’s Stroke Program, neurologista da equipe do Hospital for Sick Children em Toronto, Canadá, e coautor do estudo, em comunicado à imprensa.

“Para crianças, sabemos que os sintomas psicológicos são frequentemente subreconhecidos. Queríamos entender quais crianças correm mais risco de desenvolver problemas de saúde mental e identificar as pistas que nos permitiriam oferecer intervenções que apoiassem uma melhor saúde mental e melhorassem sua qualidade de vida”, completa.

Para isso, pesquisadores do The Hospital for Sick Children, em Toronto, conduziram uma análise retrospectiva de 161 crianças em idade escolar que sofreram um AVC isquêmico entre 2002 e 2020. Elas foram inscritas no registro de derrame do hospital e acompanhadas até a idade adulta.

Entre as idades de cinco a 17 anos, as crianças completaram um questionário que rastreia depressão, ansiedade e dores estomacais crônicas e outras dores leves. A partir das respostas, foram feitas pontuações para depressão, ansiedade e somatização [processo em que o corpo manifesta sintomas físicos devido a conflitos emocionais ou psíquicos] e comparadas com crianças na população em geral.

O estudo observou que 13% dos sobreviventes de AVC na infância sofriam com depressão; 13,7% com ansiedade, e 17,4% com somatização. Em média, os derrames aconteceram entre 8 e 9 anos, representando a faixa etária de maior vulnerabilidade para AVC infantil.

Além disso, as pontuações médias para humor, ansiedade e somatização foram maiores em sobreviventes de derrame do que na população pediátrica em geral. As crianças que apresentaram sinais de somatização tinham mais de dois anos no momento do início do AVC.

Para os pesquisadores, crianças que sofreram um derrame podem enfrentar complicações de saúde mental tão desafiadoras quanto os efeitos físicos do derrame.

“Essas crianças recebem alta após se recuperarem do derrame, mas os pais relatam deficiências significativas na saúde mental. Este estudo destaca o risco de dificuldades de saúde mental ao longo do tempo. Há essa ansiedade latente depois que as crianças recebem alta”, afirma Jennifer Crosbie, psicóloga do The Hospital for Sick Children.

“Nosso objetivo é conscientizar os pais de que esse é um fator de risco para que eles possam defender seus filhos, porque quanto mais cedo a intervenção, melhor o resultado. Se soubermos que certas populações estão em maior risco, os profissionais de saúde podem estabelecer um check-in padrão durante o acompanhamento, garantindo que nenhuma criança com essas condições seja deixada para lutar sozinha”, completa.

Para Heather J. Fullerton, copresidente da Declaração Científica de 2019 da American Heart Association sobre Gestão de AVC em Neonatos e Crianças e professora de Neurologia e Pediatria, a relação entre transtornos de saúde mental e AVC na infância não é uma surpresa.

“O que foi novo e surpreendente foi a alta prevalência de somatização (ansiedade que se manifesta em dores de estômago e dores leves) em crianças pequenas. Acho que esse problema é pouco reconhecido”, comenta Fullerton, que não esteve envolvida no estudo.

“As implicações são que os profissionais de saúde devem rastrear proativamente os transtornos de saúde mental em todos os sobreviventes de derrame na infância com mais de 2 anos. Eles também devem estar cientes das manifestações mais sutis de ansiedade em crianças pequenas e incluir isso em seu aconselhamento”, completa.

Apesar das descobertas, o novo estudo traz limitações, como ter sido feito em um único local e contar com pontuações sobre saúde mental baseadas apenas em questionários, e não em avaliações clínicas. Por isso, mais trabalhos são necessários para fortalecer os achados.

Fonte: CNN Brasil

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