ARACAJU/SE, 16 de setembro de 2024 , 16:02:56

Bluesky vira salva-vidas de tuiteiros: dois milhões de brasileiros em 72h

 

A rede social Bluesky virou o colete salva-vidas de muitos tuiteiros que começaram a sentir falta do X, suspenso pelo STF na sexta-feira passada em embate entre o ministro Alexandre de Moraes e o bilionário Elon Musk. Em apenas três dias, a plataforma novata atraiu 1,93 milhão de usuários do Brasil, segundo informação da rede ao Valor.  Brasileiros representam 25,4% da base de usuários total no mundo, entre os 7,6 milhões de pessoas registradas pelo mundo.

“Agora este é um aplicativo brasileiro”, escreveu, em português, o perfil oficial do Bluesky na própria plataforma, depois de comemorar no sábado passado a chegada de um milhão de novos usuários registrados.

O Bluesky tornou-se o novo queridinho pela similaridade com o antigo Twitter. Ambas plataformas possuem uma interface em formato de microblog, com publicações curtas para pensamentos rápidos, de dia a dia, serem compartilhados. É possível publicar fotografias, vídeos, recompartilhar publicações e seguir perfis sobre diversos assuntos — que podem ser reunidos pelo que é mais comentado por usuários, similar aos trending topics do X.

As similaridades não são mera coincidência. Bluesky e Twitter são filhos do mesmo pai: Jack Dorsey. O cofundador da rede social do passarinho azul anunciou, em 2019, a criação do Bluesky (a rede da borboletinha branca) como uma iniciativa de protocolo aberto e descentralizada dentro do próprio Twitter, um projeto que indicava para onde caminhava a rede social: a promessa de um mundo de interoperabilidade entre plataformas.

Quem comandava essa iniciativa internamente era Parag Agrawal, então CTO, e executivo que sucedeu Dorsey em 2021 no cargo de CEO, até a chegada de Musk. O dono da Tesla comprou o Twitter por US$ 44 bilhões em novembro de 2022. E, em 2021, o Bluesky tornou-se uma companhia própria, longe da sombra do Twitter.

A tal da interoperabilidade significa que outras plataformas podem se plugar à estrutura central do Bluesky que, sob esse formato, seria o “pai de todas as redes”. Para o usuário, por exemplo, isso significaria acessar um único site (o Bluesky) e conseguir ver conteúdos de redes rivais como Facebook, Instagram, TikTok e LinkedIn em uma única timeline. Na realidade, porém, isso não funciona, pois essas são redes sociais fechadas (como o próprio X) que não querem abrir seus protocolos para terceiros.

A descentralidade do Bluesky, por isso, ainda é muito incipiente. A plataforma compara esse formato com o e-mail. Hoje, companhias de diferentes servidores conseguem enviar mensagens entre si. Um usuário Gmail consegue enviar uma mensagem para um usuário Outlook, e vice-versa. O Bluesky quer replicar esse formato, mas para as redes sociais.

Jack Dorsey, hoje numa fintech, acreditava que esse era o futuro e a salvação para o modelo de mídias sociais, porque, em sua visão, esse formato isentaria a empresa de realizar a moderação de conteúdo (como a retirada do ar de materiais de abuso sexual, apologia ao nazismo e outros crimes de ódio), que se tornou a grande dor de cabeça para as empresas do ramo. Mas logo ele viu que, no formato aberto, ainda assim poderia ser responsabilizado pelo que escrevem os usuários e, portanto, teria de obedecer às regras da Justiça. Em maio de 2024, Dorsey reforçou sua insatisfação com esse modelo e deixou o conselho do Bluesky, último vínculo que tinha com o projeto.

O apego do Brasil com redes sociais já foi mapeado pelo Bluesky. Em uma série de entrevistas dada à imprensa brasileira neste ano, a CEO da plataforma, Jay Graber, afirmou que o país se tornou um dos focos globais para a empresa neste ano, com o lançamento do português brasileiro como língua.

Para o Bluesky, a suspensão do X parece ter vindo em boa hora. Agora, o desafio é não se tornar o próximo Koo, a rede social indiana de nome excêntrico inspirada no Twitter que conquistou os tuiteiros em 2022 e, em menos de uma semana, foi esquecida. Em 2024, fechou as operações no Brasil. Há uma lacuna, já que a Threads, do grupo de Mark Zuckerber, segue uma proposta mais guiada por entretenimento do que notícias e análises, atraindo outro perfil de audiência.

Fonte: Pipeline

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