A campanha Meu Filho no Currículo surgiu durante o mês de outubro com a expectativa de mudar a visão da maternidade e paternidade no mercado de trabalho, desafiador especialmente para mulheres retornando da licença-maternidade. Com o uso da hashtag #meufilhonocurrículo, mães e pais deram seu depoimento sobre como ter filhos ajudou no seu desenvolvimento enquanto profissionais, além de contar os desafios da retomada profissional após o nascimento dos filhos. Dessa forma, a campanha valoriza as competências desenvolvidas durante a criação dos filhos, como a inteligência emocional.
A advogada Camila Antunes trabalhava em uma empresa onde era reconhecida profissionalmente, mas decidiu pedir demissão aos 5 meses de gravidez. “Na época, me sentia sozinha e preocupada em cumprir o ‘check list’ da mãe perfeita”, diz. A solução foi deixar o emprego para desempenhar melhor o novo papel. “Sentia como se não pudesse ter as duas coisas”.
A decisão teve tanto impacto na vida de Camila que, depois de refletir e viver a maternidade de fato, resolveu unir-se à amiga Michelle Terni, especialista em equidade de gênero com carreira na área de comunicação e marketing e, em 2018, criar a consultoria Filhos no Currículo. A intenção era provar que ser mãe não é incompatível com uma carreira. O diferencial é que a ação parte do ponto de vista dos empregadores e não só das mulheres. Neste mês, as duas lançam a campanha #meufilhonocurrículo, que ganhou as redes sociais com centenas de depoimentos de pais, mães e gestores no LinkedIn e Instagram, e teve mais de 30 mil interações nas redes na primeira semana. “A gente pretende focar nas habilidades adquiridas durante a maternidade e a paternidade, mostrar como essas competências são complementares à uma carreira”, diz Michelle, CEO e co-fundadora da consultoria.
Tais competências podem ser citadas, segundo as consultoras, durante uma entrevista de emprego. Em vez de tentar esconder que têm filhos, como infelizmente muitas mulheres ainda precisam fazer no momento da primeira conversa, a ideia é citar os aprendizados da maternidade como uma espécie de MBA em soft skills. Melhora na comunicação, gestão de tempo mais apurada, capacidade de negociação, empatia e escuta podem ser algumas das habilidades sócio-emocionais desenvolvidas durante o processo de educar uma criança.
Uma das empresas que contratou o trabalho de Camila e Michelle, a Gerdau decidiu que deveria ampliar a visão sobre parentalidade e implantou na empresa, em 2020, o programa Liga das Famílias. O objetivo é apoiar pais e mães, além de capacitar os líderes para melhor gestão das licenças-maternidade e paternidade. “Não queríamos foco só nas mulheres para não criar estereótipos de mulheres e suas licenças”, explica Kareline Bueno, líder do grupo de afinidade de gênero na Gerdau. A empresa implementou, assim, um programa destinado ao líder que vai ter um pai ou mãe na equipe, além de criar um acompanhamento do retorno dessas licenças parentais. “É parte do programa a conscientização do líder para que este entenda o momento pelo qual a gestante está passando, com informações e sensibilização sobre as habilidades desenvolvidas na maternidade, e como deve ser feito o acolhimento quando essa mulher retornar”.
Com informações da Forbes