Uma cartilha que acaba de ser lançada reúne informações e reflexões importantes sobre o povo Xokó, que forma a maior e principal comunidade indígena de Sergipe. A publicação, intitulada Homenagem ao Povo Xokó, foi elaborada e produzida pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos (PPGD), da Universidade Tiradentes (Unit), em parceria com as universidades de Deusto e Valladolid, na Espanha. Ela já está sendo divulgada em formato digital e terá uma versão impressa em livro, que será distribuída em escolas e outras unidades da rede estadual de ensino de Sergipe.
Essa distribuição será viabilizada a partir de uma parceria que foi firmada entre a Unit e a Secretaria de Estado da Educação de Sergipe (Seduc). Além de oferecer a versão impressa, ela irá incluir o arquivo digital da cartilha nos tablets e iPads distribuídos entre os estudantes da rede pública, bem como nos seus ambientes virtuais de aprendizagem. “A partir do próximo ano, os alunos vão começar a estudar a história e a realidade do povo Xokó, e essa cartilha vai ser uma referência bibliográfica muito importante”, considera o professor Fran Espinoza, do PPGD/Unit, que é um dos organizadores da cartilha, junto com os também professores Grasielle Borges Vieira e Ricardo das Mercês Carneiro.
A cartilha tem 57 páginas e foi elaborada durante quatro meses por uma equipe com mais de 15 pesquisadores, entre professores e estudantes dos cursos de graduação, mestrado e doutorado da Unit. Eles produziram os textos a partir das entrevistas e pesquisas de campo que realizaram nas terras da comunidade Xokó, em Porto da Folha, norte de Sergipe, além de teses e dissertações do PPGD/Unit, projetos de extensão e iniciação científica do curso de Direito, e pesquisas do programa Laboratório Social, promovido pela Unit em parceria com as universidades espanholas.
A partir das informações, reflexões e conclusões alcançadas por estas pesquisas, Homenagem ao Povo Xokó reuniu, além de conceitos e definições teóricas sobre povos e comunidades indígenas, uma série de reflexões e relatos sobre a luta histórica pela terra e pela identidade Xokó; os desafios da segurança alimentar e da preservação dos saberes tradicionais; a justiça comunitária e os modos próprios de resolução de conflitos; e a infância Xokó como legado vivo de cultura e espiritualidade.
De acordo com Espinoza, a proposta é apresentar todas estas informações em linguagem mais simples, que alcance toda a sociedade. “Normalmente, muitas de nossas pesquisas só ficam em um núcleo fechado de pesquisadores, professores e alunos da pós-graduação. A ideia é que essa cartilha seja compartilhada com toda a sociedade sergipana, e também pensando nos alunos dos colégios do ensino médio aqui do Estado. Pensamos em produzir um material que fosse mais acessível para a juventude e para o público que não tem tanta proximidade com a comunidade Xokó, para facilitar essa aproximação”, explicou.
Mais conhecimento
A comunidade Xokó está concentrada atualmente na Ilha de São Pedro, em Porto da Folha, onde vivem aproximadamente 300 pessoas. O território já pertencia historicamente ao povo indígena, mas foi centro de uma longa e intensa disputa travada por fazendeiros e latifundiários que chegaram a expulsar os indígenas do local. Em 1979, os xokós retomaram as terras e conseguiram que elas fossem desapropriadas por um decreto estadual e posteriormente entregues à Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). O órgão federal, por sua vez, concluiu o processo de demarcação em 1991.
O professor Fran, que é o autor das fotos que ilustram a cartilha e orientador de grande parte das pesquisas e projetos realizados junto ao Povo Xokó, acredita que a cartilha atende a uma grande demanda identificada pelos pesquisadores em sua visita à comunidade Xokó: mais visibilidade e reconhecimento dela por parte da própria sociedade sergipana, cuja maioria desconhece a sua história, sua cultura e seu legado de luta, resistência e persistência na preservação de suas tradições e de sua identidade.
“Os sergipanos conhecem pouco ou quase nada sobre a comunidade Xokó e existe uma construção deles no imaginário social que não é a realidade. Quando às vezes pensamos em indígenas, automaticamente se pensa nos indígenas amazônicos, bolivianos ou peruanos. A ideia é que os sergipanos especificamente conheçam a sua ancestralidade, que é esta comunidade. Queremos sensibilizar e mostrar que aqui em nosso estado existe um povo indígena, que ele precisa ser respeitado e que eles têm muito conhecimento para ensinar à sociedade de forma geral”, exorta Espinoza.
A cartilha Homenagem ao Povo Xokó, do PPGD/Unit pode ser acessada e baixada gratuitamente no site https://mestrados.unit.br/
Fonte: Asscom Unit