O combate aos pulos de catraca nos ônibus tem sido um grande desafio para as empresas que integram o sistema de transporte público de Aracaju, São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros. Além do prejuízo financeiro, esse ato, que é considerado crime, resulta em ameaças aos motoristas e, em alguns casos, em arrastões com roubos aos passageiros.
Para coibir essa prática, desde 2023, foram implantadas, por determinação da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) de Aracaju, catracas duplas nos ônibus que atendem áreas com alta incidência de pulos de catraca. Desde a implementação da medida, houve uma redução de 90% nos registros de pulos de catraca nessas regiões.
Na avaliação do motorista José Brasil, que trabalha na linha Parque dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro, a instalação das catracas duplas foi eficaz. “Essa medida tem ajudado muito a reduzir o receio dos passageiros e motoristas em relação aos pulos de catraca. Infelizmente, ainda há quem pratique isso, o que é preocupante, pois, além de ser um crime, nunca sabemos qual é a intenção por trás dessa atitude. É uma situação complicada”, ressaltou.
Usuário do transporte público como principal meio de locomoção, o passageiro João dos Santos também acredita que a iniciativa trouxe benefícios. “Foi uma iniciativa maravilhosa. Sou idoso, não pago passagem, mas, mesmo que pagasse, não pularia a catraca. O que vejo é muita gente pulando, e o motorista nem pode fazer muita coisa, porque não tem como saber a intenção da pessoa. Não sei o que os outros passageiros acham, mas, para mim, foi uma boa ideia”, opinou João.
Para as pessoas com pouca mobilidade, obesos e gestantes, os assentos da dianteira são de uso exclusivo, para que não haja a utilização da catraca. “Achei a implementação da catraca alta uma ótima iniciativa, pois traz mais segurança para os passageiros, evitando situações desagradáveis e até mesmo perigosas. Embora, às vezes, seja um pouco complicado passar pela catraca dupla, os benefícios certamente superam essa questão”, enfatizou Alexa Fábia.
Prejuízo financeiro
De acordo com informações do Setransp, em um ano, a Viação Atalaia, que opera nesses quatro municípios, registrou um prejuízo financeiro estimado em R$ 1,5 milhão devido aos 349 mil pulos de catraca capturados pelas câmeras de segurança dos veículos, o que resulta em uma média de 29 mil pulos por mês. Esse valor equivale à compra de dois ônibus novos convencionais.
O motorista Roosevelt Lima compara essas práticas no transporte público da capital e região metropolitana a um câncer, uma “doença” que se espalha e causa grandes danos ao sistema. “A catraca funciona como um escudo, um ‘remédio’ aplicado para combater esse câncer. Até agora, tem trazido melhoras significativas, proporcionando mais segurança para motoristas e passageiros”, destacou Roosevelt.
Além dos impactos diretos para a segurança, os usuários que utilizam diariamente o transporte público também são prejudicados, já que quem não paga a tarifa onera quem paga. O cálculo tarifário é baseado na divisão do custo do serviço e no número de passageiros pagantes. Portanto, se menos pessoas pagam a tarifa, o preço da passagem tende a ser maior.
Outro fator que traz consequências diretas aos passageiros é que o pulo de catraca interfere na prestação do serviço, pois o processo de distribuição da frota acaba não identificando a quantidade real de usuários que circulam nas diferentes linhas.
Sinttra: Vulnerabilidade dos motoristas à criminalidade
Com o objetivo de promover maior segurança no transporte público, no ano passado, o Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Públicos do Estado de Sergipe (Sinttra) enviou um ofício à SMTT solicitando medidas de proteção, incluindo a instalação de catracas duplas. A iniciativa buscava coibir as ações criminosas que estavam ocorrendo com frequência em certas linhas, intimidando os profissionais. Muitos motoristas chegaram a pedir transferência para outras linhas por não se sentirem seguros para seguir com o trabalho diante de tantas ocorrências seguidas de ameaças.
“Sempre defendi a proteção tanto dos trabalhadores quanto dos passageiros, e é inadmissível voltarmos ao uso da catraca normal. Isso apenas abriria espaço para mais violência dentro dos coletivos, afastando os usuários do transporte público. Com o aumento da insegurança, ficaremos ainda mais vulneráveis à criminalidade. A segurança pública, muitas vezes, deixa a desejar, e nós reiteramos o nosso compromisso em continuar cobrando a permanência da catraca dupla”, ressalta com bastante afinco o presidente do Sinttra, Miguel Belarmino, que, à época, apontou diversas ameaças que os trabalhadores do transporte sofriam diariamente por quem pula a catraca.
*Com informações Ascom Setransp