A China praticamente paralisou as importações de soja dos Estados Unidos em 2025, abrindo uma oportunidade histórica para o Brasil consolidar sua posição como principal fornecedor do grão ao maior importador mundial. Os dados foram divulgados pela American Farm Bureau Federation, entidade que representa 6 milhões de agricultores norte-americanos desde 1919.
Segundo o levantamento, a China adquiriu apenas 5,8 milhões de toneladas de soja americana em 2025, uma redução abrupta em comparação às 26,5 milhões de toneladas importadas em 2024 — quando o país representava metade de todas as compras chinesas do produto.
“Os mercados de soja tornaram-se o sinal mais claro de estresse no comércio agrícola dos EUA”, afirmou a entidade em seu relatório. Durante os meses de junho, julho e agosto, praticamente não houve embarques de soja americana para território chinês, e nenhuma compra foi registrada para a próxima safra.
Brasil domina o mercado com 77 milhões de toneladas
Enquanto os produtores americanos enfrentam dificuldades, o Brasil registrou vendas superiores a 77 milhões de toneladas de soja para a China no período analisado de 2025. Os números evidenciam como a América do Sul assumiu a liderança absoluta no fornecimento, deslocando completamente os agricultores norte-americanos.
A Argentina também buscou aumentar sua participação no mercado ao remover temporariamente o imposto de exportação de soja, restabelecendo-o dias depois após as receitas ultrapassarem US$ 7 bilhões.
Governo Trump promete apoio aos produtores
Diante da pressão crescente dos agricultores americanos, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, anunciou na semana passada que o governo Donald Trump prepara um “apoio substancial aos nossos agricultores, especialmente aos produtores de soja”, com possível anúncio nesta terça-feira.
O próprio presidente Trump reconheceu o problema em sua rede social Truth Social: “Os produtores de soja do nosso país estão sendo prejudicados porque a China, por razões de ‘negociação’ apenas, não está comprando. Ganhamos tanto dinheiro com tarifas que vamos pegar uma pequena parte desse dinheiro e ajudar os nossos agricultores”.
Durante a primeira guerra comercial com a China em 2019, Trump destinou mais de US$ 22 bilhões em pagamentos de ajuda aos agricultores americanos.
Transformação estrutural no comércio global
A American Farm Bureau Federation alerta que a situação vai além da disputa tarifária atual. As importações chinesas de soja não diminuíram — na verdade, atingiram níveis recordes. A diferença é que a demanda agora é atendida por concorrentes dos Estados Unidos.
“Mesmo quando os agricultores americanos produzem safras com preços competitivos, a China tem reduzido gradualmente sua dependência dos Estados Unidos. Voltando-se para o Brasil, a Argentina e outros fornecedores”, destacou a entidade.
Impacto nos preços e outros produtos agrícolas
A ampla oferta global e a demanda reduzida estão pressionando os preços do milho, soja e trigo americanos, reduzindo as receitas agrícolas apesar das fortes colheitas. A situação é agravada pelos baixos níveis de água no Rio Mississippi, que elevam os custos de transporte.
A mudança não se limita à soja. A China não comprou milho, trigo ou sorgo dos EUA em 2025, e as exportações de carne suína e algodão permanecem em níveis mínimos. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) projeta que as exportações agrícolas totais para o país asiático alcançarão US$ 17 bilhões em 2025. Uma queda de 30% em relação a 2024 e mais de 50% comparado a 2022.
Para 2026, a projeção é ainda mais preocupante: apenas US$ 9 bilhões, o menor patamar desde 2018.
Histórico de dependência e diversificação
Em 2012, a China comprava mais de US$ 25 bilhões em produtos agrícolas americanos, representando quase 20% de todas as exportações do setor. Em 2018, as vendas despencaram para aproximadamente US$ 9 bilhões, o menor nível em uma década.
Embora tenha havido recuperação parcial em 2020 e 2021, o movimento foi temporário. “Desde então, a China tem diversificado constantemente seus fornecedores. Voltando-se mais para o Brasil e a Argentina em busca de soja, grãos e proteína”, informou a federação.
“As metas de política interna da China, incluindo segurança alimentar e gestão de preços, também incentivam a distribuição das compras entre vários países para evitar a dependência dos Estados Unidos”, explicou a American Farm Bureau Federation.
A entidade conclui que a desaceleração de 2025 não é um evento isolado. Mas parte de uma trajetória de longo prazo na qual a China se afasta estrategicamente da agricultura americana. “Para os agricultores americanos, essa mudança significou menos vendas, um crescente déficit comercial agrícola e maior incerteza sobre o futuro papel da China como mercado para a agricultura americana”, finalizou.
Fonte: Agro Em Campo