ARACAJU/SE, 7 de outubro de 2025 , 18:40:22

Cientistas com descobertas em mecânica quântica ganham Nobel de Física

 

O cientista britânico John Clarke, o francês Michel H. Devoret e o americano John M. Martinis são os ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2025, anunciou a Academia Real das Ciências da Suécia nesta terça-feira (7).

Os três pesquisadores, ligados a universidades dos Estados Unidos, dividem igualmente o prêmio de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões) pela descoberta de efeitos quânticos em circuitos elétricos, capazes de demonstrar que as leis bizarras da física quântica também se aplicam a sistemas grandes o suficiente para caber na palma da mão.

A fronteira entre o invisível e o tangível

Os experimentos conduzidos por Clarke, Devoret e Martinis mostraram que fenômenos quânticos — antes observados apenas em partículas microscópicas — podem ser recriados em circuitos elétricos de tamanho macroscópico.

Na prática, eles construíram um circuito feito de supercondutores, materiais que conduzem corrente sem resistência elétrica, separados por uma fina camada isolante, formando uma junção Josephson. Quando a corrente atravessava o circuito, os cientistas perceberam algo inédito: o sistema conseguia “atravessar” uma barreira de energia — um comportamento conhecido como túnel quântico.

Isso significa que o circuito, mesmo sendo composto por bilhões de partículas, agia como se fosse uma única partícula gigante, obedecendo às mesmas regras da mecânica quântica.

“É maravilhoso celebrar como a mecânica quântica, criada há mais de um século, ainda oferece novas surpresas — e continua sendo a base de toda a tecnologia digital”, disse Olle Eriksson, presidente do Comitê Nobel de Física.
Os pesquisadores também mostraram que o sistema só absorve e emite energia em quantidades específicas, um fenômeno conhecido como quantização de energia — o mesmo princípio que rege os elétrons dentro dos átomos.

Caminho para a computação quântica

A descoberta abriu caminho para tecnologias que hoje formam a base da computação quântica, dos sensores de precisão e da criptografia avançada.

O professor John Martinis, por exemplo, utilizou mais tarde os mesmos princípios de quantização que descobriu com Clarke e Devoret para construir os primeiros protótipos de bits quânticos (qubits), os blocos fundamentais dos computadores quânticos.

Esses sistemas têm o potencial de resolver problemas complexos em segundos — tarefas que levariam anos nos computadores convencionais.

Os cientistas premiados

John Clarke, 83 anos, nasceu em Cambridge, no Reino Unido, e é professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Michel H. Devoret, 72, nasceu em Paris e é professor na Universidade de Yale e na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara.

John M. Martinis, 67, também atua na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, e é um dos principais nomes da física aplicada aos circuitos quânticos.

Os ganhadores em 2024

No ano passado, o Nobel de Física reconheceu John Hopfield e Geoffrey Hinton, pioneiros da inteligência artificial, por suas descobertas que tornaram possível o aprendizado de máquina em redes neurais artificiais — uma tecnologia hoje presente em diagnósticos médicos, assistentes virtuais e análise de dados.

Hopfield, físico e neurobiólogo, criou nos anos 1980 o chamado modelo de Hopfield, que descreve como redes neurais podem armazenar e recuperar informações — uma espécie de “memória associativa” artificial inspirada no cérebro humano.

Hinton, por sua vez, é considerado o “padrinho do deep learning”, tendo desenvolvido as bases das redes neurais profundas usadas hoje em sistemas de reconhecimento de imagem, tradução automática e linguagem natural.

O comitê do Nobel destacou que os trabalhos dos dois pesquisadores “mudaram o modo como máquinas processam informação”, permitindo que computadores reconheçam padrões e aprendam com dados, algo antes restrito ao domínio biológico.

Segundo a Academia Real de Ciências, o prêmio de 2024 simboliza a crescente convergência entre física, matemática e ciência da computação, com implicações em áreas como medicina, economia, engenharia e ciências cognitivas.

As descobertas de Hopfield e Hinton abriram caminho para a atual revolução em inteligência artificial, que redefine desde a pesquisa científica até o uso cotidiano de tecnologia.

Curiosidades sobre o Nobel de Física

  • O ganhador mais jovem do Nobel de Física foi Lawrence Bragg, que recebeu o prêmio aos 25 anos, em 1915, junto com seu pai.
  • Em 47 ocasiões, apenas um laureado foi premiado. Já em 32 anos, o prêmio foi dividido entre dois cientistas, e em 38 vezes, três dividiram o reconhecimento.
  • Arthur Ashkin, por sua vez, detém o título de mais velho a ganhar o prêmio, aos 96 anos, em 2018.
  • Já Marie Curie foi a primeira mulher a receber o Nobel de Física, em 1903, por suas descobertas sobre a radiação, sendo também a primeira a ganhar dois prêmios Nobel, o segundo em Química.

Desde 1901, o Nobel de Física já premiou mais de 200 cientistas. Entre os agraciados estão nomes como Albert Einstein (1921), Marie Curie (1903) e Peter Higgs (2013).

Nobel 2025

A láurea em Medicina é sempre a primeira a ser anunciada, seguida pela de Física. Os prêmios em Química, Literatura e Paz serão entregues ao longo da semana; já a láurea em Economia será divulgada na próxima segunda (13). Veja o cronograma:

  • Medicina: segunda-feira, 6 de outubro
  • Física: terça-feira, 7 de outubro
  • Química: quarta-feira, 8 de outubro
  • Literatura: quinta-feira, 9 de outubro
  • Paz: sexta-feira, 10 de outubro
  • Economia: segunda-feira, 13 de outubro

Medicina: tolerância imune periférica

Na segunda-feira (6), foi entregue o Nobel de Fisiologia ou Medicina aos cientistas Mary E. Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi — levaram o Nobel de Medicina de 2025 pela pesquisa que descobriu como o sistema imunológico evita atacar o próprio corpo.

As descobertas sobre a chamada tolerância imune periférica explicam como o nosso sistema distingue o próprio tecido de agentes invasores.

Isso vem ajudando no desenvolvimento de tratamentos, por exemplo, contra o câncer, doenças autoimunes e transplantes mais bem-sucedidos. Vários tratamentos usando a descoberta na pesquisa estão em fase de testes.

O que é o Prêmio Nobel?

A láurea foi criada pelo químico e empresário Alfred Nobel. Inventor da dinamite em 1867, o sueco doou a maior parte de sua fortuna em testamento para a criação de prêmios de física, química, medicina, literatura e paz (o prêmio de economia foi criado anos mais tarde).

O documento dizia que os prêmios deveriam ser concedidos “àqueles que, durante o ano anterior, tenham conferido o maior benefício à humanidade”.

Contudo, hoje em dia, conforme explica Juleen Zierath, membro do Instituto Karolinska, o júri do Nobel de Medicina, essa regra não é mais tão levada à risca.

“Você pode ter feito essa descoberta em um estágio muito inicial de sua carreira de pesquisa, ou pode ter feito essa descoberta em um estágio muito avançado de sua carreira de pesquisador”, ressalta a pesquisadora.

Como o prêmio é escolhido?

Todos os anos, o Comitê do Nobel envia um pedido de nomeação para membros da comunidade científica.

Isso significa que alguns candidatos elegíveis recebem um convite especial para enviar seus nomes. Sem esse convite, nenhum postulante pode concorrer ao prêmio.

“Você não pode se nomear, mas membros de comunidades científicas, reitores de faculdades de medicina, ex-laureados com o Prêmio Nobel e outros que trabalham no ramo científico mais amplo e que receberam esse pedido podem fazer uma indicação”, diz Zierath.

Quantas pessoas podem compartilhar o mesmo prêmio?

Até três pessoas podem compartilhar um Prêmio Nobel, ou uma organização pode ganhar a láurea da Paz.

A Fundação Nobel, responsável por realizar os desejos do seu fundador, ressalta que essa regra está descrita no testamento de Alfred Nobel.

“Em nenhum caso o valor do prêmio pode ser dividido entre mais de três pessoas”, destaca um trecho do documento. Alguns pesquisadores, porém, criticam essa escolha e afirmam que as descobertas científicas de hoje em dia são muito mais coletivas: um trabalho de vários pesquisadores.

A láurea pode ser concedida postumamente? Tem limite de idade?

Não, um Prêmio Nobel não pode ser concedido postumamente.

Apesar, disso, a Fundação ressalta que, desde 1974, se o destinatário do prêmio falecer após o anúncio, a láurea ainda poderá ser concedida.

Sobre o limite de idade, o prêmio também não tem uma regra a respeito.

“O que eu diria é que, na maioria das vezes, levamos muitos anos até que o campo científico reconheça que a descoberta que você fez é uma distinção que deveria ser considerada para um Prêmio Nobel. Então, às vezes você tem que ser bastante paciente”, ressalta Zierath.

Fonte: G1

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