A confiança dos brasileiros nas empresas jornalísticas é maior do que na média mundial. De acordo com o Relatório sobre Notícias Digitais de 2022, elaborado pelo Reuters Institute, 48% dos brasileiros confiam nas notícias na grande maioria do tempo. Na média global, a confiança é de 42%. O patamar no Brasil é superior ao de países desenvolvidos, como Japão (44%), Suíça (46%), França (29%) e Áustria (41%), entre outros.
“O relatório traz notícias boas e ruins para o Brasil. A má notícia é que caiu o interesse global por notícias, existe uma fadiga motivada pela pandemia. Por outro lado, o Brasil tem o mais alto índice de confiabilidade da imprensa na América Latina”, afirma o jornalista Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e vice-presidente do Fórum Mundial de Editores, em entrevista ao jornal O Globo.
Para Rech, este indicador mostra a qualidade da imprensa brasileira, que continua sendo uma referência mundial. “Somos uma das melhores imprensas do mundo, apesar de nossas dificuldades, inclusive da intimidação política”, frisa o presidente da ANJ.
O país onde o jornalismo ostenta melhor imagem é a Finlândia, onde o percentual de credibilidade da mídia atinge 69%. Já nos Estados Unidos, é de apenas 26%. O instituto contou com pesquisa da YouGov, que entrevistou pessoas em 46 países por meio de questionários on-line no fim de janeiro e início de fevereiro.
Desengajamento
Apesar de ter um nível de confiança maior no jornalismo, o Brasil, assim como demais países, viu esse patamar recuar no último ano em seis pontos percentuais. “A confiança nas notícias caiu em metade dos países (….), revertendo parcialmente os ganhos obtidos no auge da pandemia de coronavírus”, diz o relatório.
Mas, apesar de a confiança no jornalismo ser maior no Brasil do que em outros países, aqui houve um aumento do desinteresse por notícias. Um dos focos do trabalho de pesquisa do Reuters Institute este ano foi alertar sobre o desengajamento de leitores, após um período de maior busca por notícias no primeiro ano da pandemia.
O fenômeno tem a ver com a fadiga de amplos setores da sociedade, entre outros fatores, pelo excesso de notícias sobre o coronavírus.
No Brasil, esse desengajamento, chamado de seletivo, foi reconhecido por 54% dos entrevistados. O país ocupa o terceiro lugar no ranking mundial neste quesito. “A forte tendência à alta — o desengajamento de notícias era de 34% em 2019 — parece refletir uma espécie de ‘fadiga de más notícias’: a inflação bateu um recorde dos últimos seis anos em 2021, enquanto a pandemia continua sendo um assunto de destaque da mídia”, indica o documento.
Assinaturas
Outro dado relevante sobre o Brasil é o total de assinantes de meios jornalísticos, atualmente de 18%, superando em um ponto percentual a média global, de 17%. O relatório mostra ainda que o Brasil ficou em segundo lugar em 2021 — com 40% — no número de pessoas que disseram ter feito naquele ano uma assinatura em algum veículo de notícias. Em primeiro lugar ficou Portugal, com 44%. “Não estamos alheios ao desengajamento seletivo, à erosão da confiança, mas ainda nos destacamos no panorama global e regional”, enfatiza Rech.
Jovens leitores
Um dos grandes desafios no Brasil e no mundo é atrair leitores jovens. O crescimento de redes sociais como TikTok, consumida por 40% dos entrevistados em todo o mundo entre 18 e 24 anos, é um dos obstáculos a ser enfrentado.
Entre esses usuários mais jovens, 15% disseram se informar pelo TikTok, rede social que originalmente era destinada apenas a vídeos curtos. Este consumo é maior, mostrou o relatório, na América Latina, Ásia e África do que nos Estados Unidos e Norte da Europa.
De acordo com o relatório, no Brasil 64% das pessoas entrevistadas disseram se informar por meio de redes sociais, entre as quais, mostra o documento, o Facebook vem perdendo terreno para o YouTube como a rede mais popular para consumo de notícias. Outras redes em alta para busca por notícias são Instagram (consumida por 35%), WhatsApp (41%), TikTok (12%) e Telegram (9%).
Avanço do on-line
No mercado brasileiro, a TV continua sendo o veículo dominante, embora tenha perdido espaço para a mídia on-line. O processo de digitalização de meios jornalísticos, comemora o relatório, avança com força no Brasil. Nos primeiros dois meses de 2021, cerca de 59% da circulação de notícias dos dez principais jornais brasileiros foi digital. O relatório estima que o percentual chegou a 67% até o fim do ano passado.
No mundo, pessoas abaixo dos 35 anos são as que menos confiam na mídia. O percentual de credibilidade é de apenas 37% entre 18-24 anos e 25-34 anos. Entre entrevistados acima de 55 anos, o percentual sobe para 47%. Quatro de cada vez pessoas abaixo dos 35 anos disseram desengajar-se com frequência das notícias.
Desinformação
A preocupação pelo fenômeno da desinformação também está presente no documento. Em alguns países, como Quênia e Nigéria, isso foi visto como um problema por 32% dos entrevistados. Na Alemanha e Áustria, o percentual cai para 31%.
Analisando por temas, a América Latina é a região onde mais circulou desinformação sobre a Covid-19 (54%) e sobre política em geral (51%).
Fonte: ANJ