O aumento das estatísticas sobre obesidade infantil tem trazido preocupação aos médicos. Abaixo, a Dra. Maria Edna de Melo, endocrinologista Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), comenta sobre desafios no tratamento da obesidade infantil grave, abordagem terapêutica e perspectivas de tratamento.
Onde está o maior desafio no tratamento da obesidade grave na infância?
São muitos aspectos: (1) dificuldade de uma conduta clínica, já que não existe uma padronização. Embora esses casos não sejam a maioria, temos notado um número cada vez mais crescente de obesidade grave na infância. (2) não existem muitas medicações disponíveis e as que existem, são de custo elevado. (3) o comportamento da família é influenciado pelo próprio ambiente, pelas características biológicas e não há o desenvolvimento de políticas públicas que possam ajudar essas famílias e suas crianças a viverem num ambiente melhor, com alimentos mais saudáveis, diminuição de disponibilidade de ultraprocessados ou seja, com uma alimentação realmente saudável.
Como deve ser a abordagem terapêutica nesses casos graves?
É importante dar atenção para a condição da saúde mental dessas crianças, assim como da família, porque geralmente eles já chegam bem desgastados e estressados, tanto pela condição da saúde da criança em si, quanto pela estigmatização e responsabilização. A abordagem terapêutica deve ser sempre individualizada, e nós médicos devemos rastrear as comorbidades, ou seja, diagnosticar o que precisa ser cuidado além da própria obesidade. A partir disso, vamos sempre ponderando e buscamos começar essa abordagem com mudanças de estilo de vida, passando para uso de medicamentos e, inclusive, pensando até na possibilidade de cirurgia bariátrica, de acordo com cada caso e com a resposta cada uma das etapas do tratamento.
Criança com obesidade grave pode apresentar quais outros tipos de complicação?
As crianças com obesidade grave antecipam ainda mais as complicações da obesidade da vida adulta como diabetes, hipertensão, dislipidemia. Nesses pacientes é possível encontrar alguns casos de diabetes tipo 2, o que não se vê habitualmente nas crianças com obesidade.