O dia 7 de setembro marca o mais importante momento de transição do Brasil: de uma colônia para um país independente. Há mais de 200 anos, foi proclamada (a já tão aguardada na época) Independência do Brasil – em um momento em que a maioria dos países sul-americanos já não eram mais colônias de nações europeias.
Nesta data essencial da história brasileira, na qual o país conquistou autonomia política frente a Portugal, National Geographic apresenta um raio-x sobre alguns pontos-chaves e curiosos relativos à Independência do Brasil.
1. Afinal, quem proclamou a Independência do Brasil?
O então Príncipe Regente, Pedro de Alcântara, que era o quarto filho do rei de Portugal, Dom João 6º, declarou a Independência do Brasil de Portugal no dia 7 de setembro.
O rei português Dom João 6º – que ficou no Brasil de 1808 a 1821 (período em que a administração da coroa portuguesa esteve provisoriamente no Brasil) – havia retornado a Portugal em abril de 1821 para reassumir seu trono e deixado Pedro na colônia como Príncipe Regente, tal como relata a Encyclopaedia Britannica (plataforma de conhecimento e educação do Reino Unido).
Na época, Pedro enfrentava uma situação política difícil como governante: nesse momento, estava crescendo o antagonismo entre portugueses e brasileiros, além disso, vários grupos favoráveis à separação do Brasil de Portugal e da instituição da República estavam ganhando influência em diversas cidades do Brasil (para seguir o exemplo dos países vizinhos sul-americanos que se já estavam se tornando independentes e virando Repúblicas).
Ao mesmo tempo, o parlamento de Lisboa instituia uma série de leis consideradas descabidas, de forma a impedir avanços de movimentos brasileiros e causavam ainda mais indignação entre vários setores do Brasil. O parlamento português ordenou, por exemplo, que Pedro retornasse à Europa, temendo que ele pudesse liderar um movimento de independência, explica a enciclopédia inglesa.
Neste cenário de tensão e pressão por todos os lados, Pedro de Alcântara respondeu a Portugal dizendo que iria ficar no Brasil, em uma data que ficou conhecida como o “Dia do Fico”, ocorrida em 9 de janeiro de 1822.
Em junho deste mesmo ano, Pedro convocou uma assembleia constituinte e legislativa. E, para tentar frear as ambições dos republicanos e também de portugueses que queriam restabelecer os laços coloniais com mais força, o então Príncipe-regente declarou a independência do Brasil em 7 de setembro.
O país seguiu sendo uma monarquia e Pedro se tornou o primeiro imperador do Brasil, sendo coroado em dezembro de 1822 e assumindo o nome de Dom Pedro 1º.
2. Em que ano e onde foi proclamada a Independência do Brasil?
O Brasil se tornou independente de Portugal no ano de 1822, na cidade de São Paulo, na região onde hoje é o bairro do Ipiranga – às margens de onde na época havia um córrego.
No dia 13 de agosto, Pedro saiu do Rio de Janeiro, a capital do Brasil naquele momento, e ali deixou no comando sua esposa, a princesa Leopoldina. No início de setembro, Pedro estava viajando da cidade litorânea de Santos para São Paulo quando recebeu uma notificação de uma declaração em sessão extraordinária assinada por Leopoldina.
O ministro José Bonifácio havia redigido a declaração de independência, que foi assinada por Leopoldina e enviada a Pedro por mensageiros os quais o alcançaram em 7 de setembro de 1822. Foi quando ele declarou a independência ao chegar à cidade de São Paulo, conforme detalha um artigo da Agência Brasil, órgão oficial de comunicação governamental brasileiro.
“O Brasil será em vossas mãos um grande país, o Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhe-o já senão apodrece.” – escreveu Leopoldina em uma das três cartas que enviou a Dom Pedro.
3. Como realmente aconteceu o “grito independência” dado por Dom Pedro?
Pedro estava em Santos a caminho de São Paulo e, ao chegar na região do Ipiranga, recebeu a declaração de independência assinada por Leopoldina. “Ele estava fazendo uma viagem por São Paulo para tentar conseguir apoio político e para apaziguar os ânimos”, explicou Natália Godinho da Silva, historiadora que trabalha no Núcleo de Formação e Desenvolvimento de Públicos do Museu da Cidade do estado de São Paulo, em entrevista para o site da Agência Brasil.
Segundo conta o escritor Laurentino Gomes em seu livro “1822”, um trecho da declaração escrita por Bonifácio teria enfurecido o príncipe: “Senhor, o dado está lançado e de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores”.
Após ouvir seus conselheiros e refletir por alguns minutos, Pedro tomou a decisão. Na descrição do tenente Canto e Mello, relatada no livro, o regente explodiu sem titubear e gritou, diante de apenas algumas pessoas de sua comitiva: “É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal”, como aparece no livro “1822”.
O quadro original “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, pode ser observado no Museu do Ipiranga, …
O quadro original “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, pode ser observado no Museu do Ipiranga, em São Paulo.
4. Dom Pedro estava mesmo montado em um cavalo ao declarar a Independência do Brasil?
O célebre quadro “Independência ou Morte” pintado pelo paraibano Pedro Américo (que pode ser visto no Museu do Ipiranga, em São Paulo), em 1888, eternizou no imaginário brasileiro a imagem fictícia de como teria sido o famoso “grito do Ipiranga” o qual marcou a autonomia política do Brasil em relação à Portugal. A pintura, porém, recria uma cena mítica com um glamour inexistente na realidade, segundo estudiosos.
No quadro de Pedro Américo, D. Pedro, seus conselheiros e toda sua comitiva que aparecem com roupas de montaria de gala, levantando espadas e em cima de belos cavalos. No entanto, a viagem pela Serra do Mar, de Santos para São Paulo, não era fácil na época e acabava sendo feita com auxílio de mulas, que são animais mais resistentes que cavalos.
Portanto, Pedro estava montando em um burro (mula) ao declarar a independência. Essa história é contada com detalhes e humor no livro “Memórias Póstumas do Burro da Independência”, lançado em 2021 pelo escritor e jornalista Marcelo Duarte – título em alusão ao best-seller de Machado de Assis.
Fonte: National Geographic Brasil