A Dinamarca anunciou que vai entregar ao Brasil um manto tupinambá do século 17, que está em Copenhagen desde 1689. O manto, que os indígenas consideram sagrada, é uma das apenas 11 peças semelhantes remanescentes. Todas as outras estão em instituições na Europa —cinco sob a guarda da associação nacional de museus dinamarquesa.
O envio da peça ao Brasil, descrito como uma doação pela associação, será realizado ainda este ano, após negociações entre o Museu Nacional da Dinamarca e o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na capital fluminense. A expectativa é que o manto integre o novo acervo da instituição, destruída por um incêndio há cinco anos.
O Nationalmuseet destacou que a doação do manto é uma “contribuição única e significativa” para a recuperação do acervo brasileiro. “As heranças culturais têm um papel decisivo nas narrativas das nações sobre si mesmas. É assim no mundo inteiro. Por isso, é importante para nós ajudar a reconstruir o Museu Nacional do Brasil depois do incêndio devastador de alguns anos atrás”, afirmou na nota enviada a revista Piauí, o antropólogo Rane Willerslev, diretor do Nationalmuseet.
O Manto Tupinambá
Segundo informações do Museu Nacional da UFRJ, o tecido com penas vermelhas de guará é uma das mais belas, raras e valiosas peças da cultura material dos povos indígenas do Brasil. Era utilizado por pajés durante alguns rituais, como se pode ver em imagem colorida de De Bry. Nos séculos XVI e XVII, no início da colonização, foram levados por viajantes europeus e ofertados à monarcas e famílias nobres. Existem apenas 5 exemplares no mundo, nenhum deles no Brasil.
Por meio de uma marcha os Tupinambás atuais relembram a cada ano a morte de Marcelino, um líder de grande prestígio, perseguido, preso e assassinado em 1937. Para estas marchas os Tupinambás contemporâneos constróem réplicas dos antigos mantos Tupinambá, expressando nessas peças a vitalidade e complexidade de sua cultura e reafirmando também a força de seu projeto coletivo de futuro.
A instituição do Rio deve exibir o manto a partir de 6 de junho de 2024, quando o museu completará 206 anos.
Fonte: O Globo