ARACAJU/SE, 6 de novembro de 2024 , 14:35:00

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Doença de Behçet: doença autoimune rara requer atenção aos sinais

 

Nomeada em homenagem ao dermatologista turco Hulusi Behçet, que descreveu a condição pela primeira vez em 1937, a doença de Behçet é uma enfermidade autoimune e crônica que afeta múltiplos sistemas do corpo humano. Considerada rara no Brasil, sua prevalência é maior em regiões do Oriente Médio e do Mediterrâneo, onde ocorre com mais frequência. Caracterizada por inflamações e lesões recorrentes, a condição requer um acompanhamento médico cuidadoso e uma abordagem multidisciplinar para controle de sintomas e manutenção da qualidade de vida.

A ampla variedade de sintomas na doença de Behçet faz com que o diagnóstico seja um desafio. Conforme explica a médica reumatologista e professora de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), Alejandra Debbo, as manifestações mais frequentes incluem lesões orais indolores, semelhantes a aftas, além de úlceras genitais que aparecem em áreas como a virilha e o períneo.

“Na pele, também podem surgir nódulos dolorosos, chamados de eritema nodoso, e lesões similares a acne, indicando a presença de inflamação autoimune. No campo ocular, manifestações como uveíte e vasculite retiniana provocam visão turva e olhos vermelhos, podendo evoluir para perda de visão se não forem tratadas de forma adequada. Além disso, sintomas neurológicos, como dores de cabeça intensas e resistentes a analgésicos, exigem acompanhamento neurológico devido ao risco de lesões no sistema nervoso”, explica a médica.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da doença de Behçet é, em sua maioria, baseado na observação clínica, já que não há exames laboratoriais específicos que confirmem a doença. “A avaliação é feita com base nos sintomas apresentados e, em alguns casos, por meio de biópsias das áreas afetadas. O tratamento é ajustado conforme a gravidade dos sintomas, buscando controlar as manifestações e evitar novos episódios. Úlceras leves são tratadas com corticosteroides tópicos e anestésicos, enquanto casos mais graves podem exigir corticosteroides orais e imunossupressores, como azatioprina, ciclofosfamida e metotrexato”, comenta Alejandra Debbo.

Em quadros mais complexos, especialmente com envolvimento neurológico ou vascular, o uso de agentes imunobiológicos pode ser necessário. Medicações anti-TNF (Fator de Necrose Tumoral), que bloqueiam a ação do TNF-α — proteína que provoca uma resposta inflamatória exacerbada em doenças autoimunes —, têm mostrado bons resultados na estabilização de pacientes com sintomas graves e resistência a outros tratamentos.

Acompanhamento

O tratamento da doença de Behçet é multidisciplinar, demandando a atuação de especialistas de diversas áreas para tratar as diferentes manifestações da condição. “Além do reumatologista, é essencial o acompanhamento regular com oftalmologista e, em alguns casos, com neurologista. Esse tratamento integrado contribui para o controle dos sintomas e prevenção de danos permanentes, proporcionando uma qualidade de vida significativamente melhor aos pacientes”, reforça Alejandra.

Adotar hábitos saudáveis é uma estratégia eficaz para reduzir a frequência dos surtos e melhorar a resposta ao tratamento. Alejandra sugere a prática de atividades físicas, sono adequado, alimentação balanceada e a gestão de fatores emocionais, que são cruciais para a estabilidade do quadro clínico. “Embora rara, a doença de Behçet apresenta um componente genético que pode aumentar o risco em pessoas com histórico familiar de doenças autoimunes”, destaca.

Embora a doença de Behçet seja crônica e sem cura, o diagnóstico precoce e um tratamento adequado são fundamentais para ajudar no controle dos sintomas e preservar a qualidade de vida dos pacientes. “Com um acompanhamento médico regular e uma abordagem multidisciplinar, é possível lidar com as manifestações da doença e prevenir complicações graves, permitindo que os pacientes mantenham uma vida produtiva e satisfatória”, conclui a reumatologista.

Fonte: Asscom Unit

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