ARACAJU/SE, 11 de setembro de 2025 , 12:29:02

Em meio ao tarifaço, venda de carne de MS à China é recorde

 

A China impulsionou as exportações de carne bovina de Mato Grosso do Sul em agosto deste ano, mantendo posição como principal compradora do estado desse tipo de mercadoria. Os EUA, que ocupavam a segunda colocação, recuaram para o quarto lugar após o tarifaço imposto por Donald Trump.

O país asiático adquiriu 16 mil toneladas do produto, um aumento de 146% em relação às 6,5 mil toneladas registradas no mesmo mês de 2024.

Enquanto as compras dos EUA caíram 54%, passando de 3 mil para 1,4 mil tonelada no mesmo período.

A receita com exportações para a China chegou a US$ 91 milhões em agosto, o maior valor já registrado pela Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems). O faturamento com os envios aos Estados Unidos caiu 46%, saindo de US$ 14 milhões, em 2024, para US$ 7,6 milhões no último mês. Mato Grosso do Sul ocupa o 5º lugar entre os estados brasileiros que mais exportam carne.

A China ocupa o primeiro lugar entre os países que mais compram carne bovina de Mato Grosso do Sul desde o início do ano, segundo os dados da Fiems. Os Estados Unidos vinham em segundo lugar, mas perderam espaço após tarifaço de Donald Trump. O cenário das exportações da proteína animal do estado tem se reconfigurado, segundo especialistas ouvidos pelo g1.

“O recuo nas exportações para os EUA foi compensado pelo aumento das compras da China, que cresceram mais de US$ 61 milhões em relação a agosto do ano passado. Nunca vendemos tanto para a China. Este é o maior montante dos nossos até então”, afirmou o economista-chefe da Fiems, Ezequiel Resende.

Exportações em agosto de 2025

Em agosto, mês que marcou o início da tarifa de 50%, Mato Grosso do Sul exportou 32 mil toneladas de carne bovina para 52 países diferentes, um crescimento de 34,2% em relação ao mesmo mês de 2024. A receita subiu 65%, de US$ 107 milhões para US$ 178 milhões. A China comprou 51% desse total; os Estados Unidos, apenas 5%.

Desde março deste ano, a China vem ampliando quase 100% ao mês as compras da mercadoria de Mato Grosso do Sul, segundo as informações da Fiems. Para o analista de mercado internacional Aldo Barigosse, o movimento já configura uma tendência.

Com o tarifaço, especialistas já esperavam a queda nas compras dos EUA. A carne bovina ficou fora da lista de quase 700 produtos isentos da nova tarifa anunciada por Trump.

China protagonista e EUA em queda

A receita com exportações de carne bovina de Mato Grosso do Sul para a China cresceu 205%, passando de US$ 30 milhões em agosto de 2024, para US$ 91 milhões neste ano, o maior valor já registrado na série histórica do Observatório da Fiems.

Enquanto isso, as exportações aos Estados Unidos caíram 54%, de 3 mil para 1,4 mil tonelada. A receita teve queda 46%, de US$ 14 milhões para US$ 7,6 milhões.

As exportações para os EUA representavam cerca de 15% do total, mas caíram para menos de 5%. Já a China respondeu por metade das vendas do produto do estado em agosto, segundo os dados da Fiems.

O gerente-técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), José Pádua, explicou que a ampliação da compra de carne bovina pela China é contínua e tem evidenciado a competitividade do produto nacional.

“Em Mato Grosso do Sul, o avanço das exportações para o mercado chinês foi ainda mais expressivo e pode estar ligado ao redirecionamento de volumes que antes eram enviados aos Estados Unidos. Um exemplo está nas plantas frigoríficas de Rochedo e Campo Grande, habilitadas a atender ambos os destinos”, contextualizou Pádua.

O analista de mercado internacional Aldo Barigosse explica que o crescimento das exportações não pode ser creditado apenas às compensações causadas a partir do tarifaço de Trump. Para o especialista, o desempenho é resultado de uma tendência, e não uma reação aos eventos de curto prazo.

“Os dados confirmam essa tendência. O crescimento mês a mês, com saltos notáveis de mais de 100% desde março, indica um aumento da demanda chinesa por nosso produto. Isso demonstra que nosso estado já estava em uma rota de crescimento acelerado, com a China fortalecendo sua posição como nosso principal parceiro comercial antes mesmo que a questão tarifária com os EUA se tornasse um fator relevante”.

Cenário geral

As exportações de carne de Mato Grosso do Sul registraram forte crescimento entre janeiro e agosto de 2025, segundo os dados levantados pela Fiems. Em volume, o estado exportou nos primeiros oito meses deste ano 17% a mais do que o total registrado durante todo o ano passado (66 mil toneladas).

A China comprou 77 mil toneladas de carne do estado, um salto de 102% em relação ao mesmo período de 2024. A receita também mais que dobrou: foram US$ 409 milhões, contra US$ 194 milhões no ano anterior — alta de 110%. O valor exportado nos primeiros oito meses de 2025 já supera todo o total de 2024, quando o estado arrecadou US$ 309 milhões com vendas para o país asiático.

Durante os seis primeiros meses de 2025, os Estados Unidos ampliaram sua participação nas exportações sul-mato-grossenses. As vendas de carne para o mercado norte-americano somaram US$ 168 milhões no período, aumento de 49% em relação aos US$ 113 milhões de 2024. Em volume, foram exportadas 34 mil toneladas — 62% a mais que as 21 mil toneladas embarcadas no mesmo intervalo do ano passado.

Especialistas apontam que o aumento nas exportações para a China já reflete uma tendência de maior demanda do país asiático. No caso dos Estados Unidos, no entanto, o impacto do chamado tarifaço ainda é incerto. Segundo os analistas, os efeitos reais só poderão ser avaliados com mais precisão no fim do ano, quando haverá um panorama mais completo do mercado.

Reconfiguração do cenário de exportação

O ranking de países que mais compravam a carne bovina de Mato Grosso do Sul tinha as duas primeiras posições definidas há anos: China em primeiro lugar e os Estados Unidos em segundo.

Com o tarifaço de Trump, o cenário mudou e países antes considerados emergentes na compra do produto de Mato Grosso do Sul ganharam espaço. Em agosto, o ranking de compradores foi:

  • China: US$ 91 milhões
  • Chile: US$ 16,4 milhões
  • México: US$ 11,8 milhões
  • Estados Unidos: US$ 7,6 milhões
  • Israel: US$ 6,65 milhões

Turquia, Filipinas e Itália mantiveram presença expressiva. Para se ter uma ideia, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), até 2023, o México não aparecia nem entre os 20 maiores clientes do país. Mas, com a abertura de mercado naquele ano, as compras começaram a crescer.

O secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, afirmou que os dados mostram o esforço do estado em diversificar mercados. “Mesmo com incertezas no comércio internacional, Mato Grosso do Sul ampliou suas vendas externas, com destaque para a carne bovina”, disse.

Riscos para dependência de um único mercado

O economista da Fiems alerta que o aumento das exportações para a China pode ser pontual e ainda não representa uma tendência consolidada. No acumulado do ano, o país asiático responde por cerca de 35% das vendas totais da mercadoria do estado.

“A China é disparado o principal parceiro comercial do nosso estado. Temos a capacidade competitiva bastante significativa em produtos da nossa agroindústria de transformação. Então, diante dessa perspectiva, não vamos reclamar de vender mais para um parceiro que tem uma posição destacada. Porém, diante de um produto que tem demanda no mundo, temos a capacidade de oferta. A nossa indústria frigorífica tem, sim, que buscar novos mercados, já tem feito esforços nesse sentido”, afirmou Ezequiel Resende, economista da Fiems.

Resende também alerta para os riscos de depender demais de um único mercado. O especialista aponta que a dependência pode tornar o setor vulnerável a mudanças no mercado asiático, especialmente no médio e longo prazo. “Temos capacidade competitiva, mas aumentar a dependência de um único mercado pode nos tornar vulneráveis no futuro”, disse Resende.

Para diminuir a dependência da China, o governo estadual e a Fiems têm realizado missões internacionais. Em julho, representantes do estado foram à Ásia negociar com novos mercados.

Desde o tarifaço dos EUA, Mato Grosso do Sul intensificou a busca por compradores. O Chile, segundo maior comprador em agosto, foi um dos focos dessas negociações.

Fonte: G1

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