ARACAJU/SE, 19 de julho de 2025 , 1:50:04

Em relatório, Cenipa diz que piloto comunicou problemas no ‘compensador’

Da redação, AJN1

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou no último dia 12 de novembro, o Relatório Final Simplificado sobre o monomotor que caiu em Aracaju no último dia 6 de maio, em uma área de mangue do bairro Coroa do Meio, matando o piloto Adriano Eugênio de Leon Ribeiro, 32 anos, único tripulante.

Conforme o relatório, elaborado com base na coleta de dados, previsto na NSCA 3-13 (Protocolos de Investigação de Ocorrências Aeronáuticas da Aviação Civil conduzidas pelo Estado Brasileiro), o piloto, antes da queda, relatou que havia “perdido” o compensador, um tipo de aerofólio auxiliar ou superfície similar a um aerofólio, preso a uma superfície de comando de voo e destinado a reduzir a força para controlar a aeronave ou a auxiliar no equilíbrio do avião.

Segundo o relatório, “não foram observadas evidências que pudessem ser associadas a um mau funcionamento do referido componente. Ademais, durante os testes, constatou-se que a haste do servo atuador se encontrava completamente distendida, conforme havia sido encontrada no local do acidente. Essa situação correspondia à posição do compensador totalmente defletido para cima. Em decorrência disso, o profundor teria sido defletido totalmente para baixo, levando a aeronave a adotar atitude de mergulho (picado)”.

O relatório diz ainda que, pelo fato de o servo atuador não ter apresentado falha de funcionamento durante os testes realizados em bancada, a pesquisa foi direcionada para uma possível falha de outro componente do sistema elétrico do compensador do profundor.

“Nesse sentido, no curso da investigação, identificou-se que os principais componentes de controle do sistema de compensação do profundor, além do servo atuador, seriam um switch de controle de trim, um switch de seleção, quatro relés de controle de posição e cablagens (fiação). Devido à impossibilidade de resgatar parte considerável dos destroços, bem como ao fato de o servo atuador ter sido encontrado com a haste completamente estendida, inferiu que o acidente esteve associado a um acionamento inadvertido deste servo, em decorrência de possível falha no sistema elétrico do compensador do profundor. O representante da empresa responsável pela montagem da aeronave acidentada relatou que aquele construtor amador não dispunha de qualquer tipo de manual que pudesse subsidiar a investigação do SIPAER, notadamente, nas pesquisas relacionadas com a operação, manutenção ou montagem de RV-10.”

Por se tratar de aeronave não certificada, as aeronaves do modelo RV-10 estariam sujeitas a diferentes configurações de montagens e não estariam submetidas ao cumprimento de programa de manutenção estabelecido por força de legislação.

De acordo com as informações coletas no Sistema Integrado de Informações da Aviação Civil (SACI), em 14 se setembro de 2021, haviam 430 aeronaves ativas no Brasil de modelos RV-10 e RV-10A.

Piloto era experiente e tinha licença ativa

O relatório final comprova que o único tripulante possuía a licença de Piloto Comercial – Avião (PCM) e estava com as habilitações de Avião Monomotor Terrestre (MNTE) e Voo por Instrumentos – Avião (IFRA) válidas. “Ele estava qualificado e possuía experiência para a realização do voo. O seu Certificado Médico Aeronáutico (CMA) estava válido”.

De acordo com as informações retiradas do Sistema Integrado de Informações da Aviação Civil (SACI) da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), em 24 de maio de 2021, o piloto possuía 1.523 horas e 15 minutos totais de voo, registradas até o dia 10 de agosto de 2020, sem o registro de qualquer voo no equipamento envolvido no acidente.

Apesar da falta de registro, afirma o relatório, o proprietário da aeronave informou que o piloto realizou, aproximadamente, mais 40 horas totais de voo, além daquelas registradas no SACI, sendo 17 horas no modelo de aeronave da ocorrência, nos últimos trinta dias que antecederam ao acidente.

A aeronave

A aeronave, de número de série 41311, era experimental, de construção amadora, foi fabricada em 2014 e estava registrada na Categoria Privada – Experimental (PET). Operava em conformidade com a seção 91.319. O relatório diz também que a aeronave estava dentro dos limites de peso e balanceamento, mas não foi possível localizar o diário de bordo. Os registros das horas voadas encontravam-se lançados sem detalhamento nos registros de manutenção disponibilizados pelo operador e não havia registro que comprovasse a execução de um programa de manutenção.

A última revalidação do Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) foi realizada em 24 de novembro de 2020 pela empresa KKS Manutenção de Aeronaves Ltda., em Formosa-GO, estando a aeronave com 370 horas voadas. As condições meteorológicas eram propícias à realização do voo, conforme os Informes Meteorológicos Aeronáuticos Regulares (Metar) de SBAR, afastado, aproximadamente, 900 m do local do acidente.

Histórico do voo

A aeronave decolou do Aeroporto Internacional Santa Maria, em Aracaju, às 14h54, com destino ao Aeródromo Fazenda Santo Antônio, em Unaí-MG, a fim de realizar um voo privado, com um piloto a bordo. Após a decolagem, o piloto informou sobre a sua intenção de retornar para pouso, sendo autorizado. Na curta final para pouso, houve perda de controle em voo e a consequente queda da aeronave em uma área de manguezal, ficando submersa. A aeronave ficou destruída. O piloto sofreu lesões fatais.

Leia o relatório na íntegra.

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