ARACAJU/SE, 30 de janeiro de 2025 , 2:33:29

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Embrapa recebe certificação internacional para análise de azeites

 

O Conselho Oleícola Internacional (COI) homologou o segundo painel sensorial de azeite de oliva do Brasil na Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ). Com a certificação, o país ganha mais uma competência técnica que contribui para a consolidação de uma indústria de produção de azeite. Trata-se do reconhecimento de que o painel possui qualidade técnica para realizar análises sensoriais de amostras de azeite de oliva, ampliando a capacidade de analisar azeites no país.

“A função de um painel sensorial é combater as irregularidades. As normativas que tratam do Padrão de Identidade e Qualidade do azeite de oliva especificam análises químicas e a avaliação sensorial para verificar a autenticidade — se é realmente um óleo de oliva — e a qualidade do azeite — que indica o grau de preservação do seu frescor ou conservação,” explica a pesquisadora Daniela De Grandi Castro Freitas de Sá, líder do painel.

Ela conta que o produto é analisado por métodos como a cromatografia gasosa, espectrometria de massa e a análise sensorial. “A nossa percepção sensorial, obtida pelos nossos sentidos, é extremamente eficiente. O painel é um grupo de pessoas treinadas na metodologia internacional normatizada, para realizar a análise sensorial do azeite de oliva, e o resultado estatístico dessa avaliação classifica o azeite baseado nas suas características sensoriais em extravirgem, virgem e lampante”, detalha a cientista.

O grupo contou com a assessoria do consultor Marcelo Scofano, azeitólogo com formação na Espanha, que deu os primeiros treinamentos para a equipe. Ele conta que o azeite de oliva é o único alimento que pode ter sua classificação comercial alterada pela decisão de um painel certificado. “Se o painel concluir que o produto não atende à classificação com a qual está sendo comercializado, ele será reclassificado na categoria apontada pelo painel. Isso quer dizer que tem poder jurídico para a classificação comercial,” frisa o especialista.

O novo painel da Embrapa poderá prestar serviços ao Ministério da Agricultura na classificação de amostras de azeite para fins de fiscalização após obter a acreditação na norma ISO 17025, concedida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Este é o segundo painel certificado pelo COI no país; o primeiro foi o do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Ministério, situado na capital do Rio Grande do Sul, Estado com a maior produção nacional de azeite de oliva.

Painel auxilia no combate a fraudes

Ao subsidiar a fiscalização, o painel colabora positivamente com o mercado e beneficia o consumidor. Essa é a opinião da auditora fiscal federal agropecuária Helena Pan Rugeri, coordenadora-geral da Qualidade Vegetal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa. “Desde que começamos a fiscalizar os azeites importados, com amostras coletadas em portos e fronteiras e no mercado varejista, verificamos que havia grande ocorrência de fraudes em decorrência da desova no mercado nacional de produtos de baixa qualidade”, relata Rugeri.

“Azeites brasileiros têm sido reconhecidos internacionalmente como de muito boa qualidade, recebendo seguidamente prêmios em concursos internacionais. Essa qualidade é também resultado de altos custos de produção. O produto brasileiro não tem como competir com o importado de baixa qualidade; este tem que se adequar ou ter sua classificação realocada ao correspondente à sua real qualidade”, defende a auditora.

Mais Sobre Azeite

No caso de o produto ser reclassificado pelo painel sensorial, a empresa importadora, ou envasadora, tem direito de contestar e, quando isso ocorre, recorre-se a outros dois painéis reconhecidos, inexistentes no País. Helena Rugeri informa que tem se recorrido a painéis certificados na Argentina e Uruguai, “o que, embora oneroso, é de extrema importância. Por isso, o Brasil precisa de, no mínimo, mais dois painéis certificados”, defende a auditora.

Para Rugeri, a criação desses painéis também contribui para a educação sanitária e a divulgação de boas práticas na produção de azeite, melhorando a qualidade geral dessa cadeia. “É necessário educar o setor produtivo, os consumidores, os produtores e empresas e a sociedade em geral, sobre o que são os bons e os maus atributos do azeite de oliva e como identificá-los.”

A auditora lembra que o Mapa disponibiliza uma página na internet para alertar os consumidores sobre riscos relacionados aos produtos mais sujeitos a fraude e falsificação, como o azeite de oliva, o feijão e o café torrado.

Avanços na olivicultura nacional

“Até 2012, o Brasil não tinha uma norma específica para comercialização e produção de azeite de oliva no País. Em 2009, começaram os debates públicos e, em janeiro de 2012, a Instrução Normativa IN 1/2012 do Ministério da Agricultura foi publicada”, lembra Scofano.

A normativa previa a análise sensorial como ferramenta complementar do controle de qualidade dos azeites comercializados e produzidos no Brasil, além da análise dos parâmetros físico-químicos. “Ela só começou a ser totalmente implementada a partir da formação do painel sensorial do Rio Grande do Sul, em dezembro de 2021. Desde então, o panorama do comércio de azeite no Brasil tem mudado radicalmente graças à atuação do painel do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária, de Porto Alegre. Ele reclassificou centenas de lotes de azeite importados como extravirgens e que, na verdade, eram virgens”, relata Scofano.

O Brasil é o terceiro maior importador de azeite do mundo, depois dos EUA e da União Europeia, importando aproximadamente 88 mil toneladas por ano. Um desafio é fiscalizar esse volume de importados para aferir se os produtos oferecidos aos consumidores estão dentro dos padrões de classificação do COI e rotulados de acordo, como extravirgem, virgem e lampante.

“Culturalmente, compramos um azeite já muito depreciado, há muitos anos. Até 1995, o Brasil não importava azeites extravirgens; eles começaram a entrar a partir de 1997 e 1998 e começaram a se diversificar a partir do ano 2000. Ou seja, nossa história com o produto é muito recente. Há 30 anos isso começou; faz apenas 16 anos que o Brasil extraiu o seu primeiro azeite, e temos somente 12 anos de uma normativa publicada e dois anos da homologação do nosso primeiro painel”, conta Scofano.

Fonte: Globo Rural

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