O jogador de vôlei italiano Roberto Cazzaniga, 42, passou 15 anos acreditando namorar a modelo brasileira Alessandra Ambrósio. O golpe lhe custou 700 mil euros (o equivalente a R$ 4,3 milhões), transferidos ao longo dos anos para os estelionatários.
O golpe que vitimou o jogador italiano se chama catfishing — quando uma pessoa cria uma identidade falsa na Internet para enganar alguém, muitas vezes mantendo um relacionamento romântico virtual e solicitando dinheiro. A prática, que cresceu ao lado da intensificação do uso das redes sociais, pode estar aumentando durante a pandemia.
“As pessoas estão mais afastadas do convívio social. Isso faz com que aumente a busca por relacionamentos através de sites, mídias sociais e até mesmo conversas com pessoas de outros países. Esse fator potencializa o envolvimento dessas pessoas com golpes de catfishing”, diz Thiago Bordini, head de Cyber Threat Intelligence da Axur, empresa de monitoramento e reação a riscos digitais na Internet.
Segundo Bordini, é comum que os golpistas criem personagens cujas profissões impliquem em distanciamento físico, como marinheiros e militares. Eles costumam manter conversas e enviar fotos, mas dificilmente fazem ligação telefônica ou videochamada.
“Essas pessoas se aproveitam da fragilidade emocional da vítima para conseguir vantagens, principalmente dinheiro, mas também pode ser roubo de dados e até ameaças motivadas por desavenças pessoais”, comenta o advogado especialista em Direito Civil Guilherme Germano. Ele salienta que, para se prevenir, é importante não enviar dados bancários e pessoais próprios ou de parentes para alguém cuja identidade é incerta.
Outra dica de prevenção, em caso de relacionamentos virtuais, é insistir em fazer ligações por áudio e vídeo, para se certificar de que está falando com a mesma pessoa apresentada nas redes sociais. “O principal ponto é a desconfiança, principalmente quando ocorre a questão do dinheiro”, afirma Bordini. “É muito comum que as pessoas por trás desses perfis falsos solicitem dinheiro com o argumento de comprar passagens para ir visitar ou por necessidade.”
No Brasil, o catfishing não é um crime por si só. Entretanto, dependendo do caso, a prática pode se enquadrar em crimes como estelionato (o catfishing chegou a receber o apelido de “estelionato emocional”), falsidade ideológica ou extorsão — quando o golpista exige o dinheiro mediante ameaças de vazar um vídeo íntimo, por exemplo.
A punição para esse tipo de prática esbarra em obstáculos como a falta de denúncias. “As vítimas, em geral, que sofrem esse tipo de golpe têm vergonha de denunciar e expor seus casos. Então, as denúncias raramente são feitas”, comenta Bordini. “Porém, as consequências existem.”
Além do catfishing, há outros golpes que se multiplicam pela Internet, como clonagem de números de WhatsApp e pessoas que se passam por agentes bancários, oferecendo descontos e enviando boletos falsos. “Por isso, é preciso prestar atenção na hora de preencher os dados ao pagar um boleto, verificando as informações de quem vai receber o dinheiro. Em caso de dúvida, deve-se entrar em contato com a instituição bancária ou com o órgão de inadimplência”, aconselha Germano.
Famosos que já foram vítimas de golpes pela internet
A atriz Vera Gimenez, mãe de Luciana Gimenez, caiu em um golpe de WhatsApp e perdeu R$ 50 mil. Ela recebeu mensagens de uma pessoa fingindo ser sua filha, que lhe pediu que fizesse três depósitos bancários consecutivos. A pessoa usava uma foto de Luciana no perfil e alegou ter trocado de número. Vera atendeu ao pedido. A história foi contada em entrevista ao programa Alerta Nacional, da RedeTV!.
Já a cantora Giselle Café pagou R$ 87 mil acreditando que teria um DVD produzido por Dudu Borges, produtor musical que trabalhou com artistas como Michel Teló e a dupla sertaneja Jorge & Mateus. A pessoa que lhe ofereceu a suposta parceria musical também garantiu participações especiais dos artistas Luan Santana, Wesley Safadão e Padre Fábio de Melo.
O cantor Mariano, da dupla com Munhoz, também foi vítima de um golpe. Enquanto estava internado, se recuperando de um acidente, seu empresário recebeu uma ligação de um falso médico, que pedia o depósito de R$ 9,4 mil para um tratamento de leucemia — do qual, segundo o golpista, o cantor precisaria. O esquema só foi descoberto após o depósito.
Por sua vez, o ator Thomas Gibson, da série Criminal Minds, passou dois anos trocando fotos e vídeos sensuais com uma mulher que conheceu pelo Twitter e que disse ser sua fã. Eventualmente, o artista descobriu que a fã não era quem dizia ser e que enviava a ele fotos retiradas de sites pornográficos.
Já o rapper R. Prophet chegou a participar do programa de TV Catfish, da MTV, que mostra casos reais de pessoas enganadas por perfis falsos na Internet. Em 2015, ele revelou, no reality show, que mantinha um relacionamento virtual com uma mulher que ele acreditava se chamar Trinity. Ela, na verdade, se chamava Crystal e usava em seu perfil fotos de uma influenciadora digital. Apesar da mentira, o rapper manteve relações amigáveis com Crystal mesmo após a descoberta.
Fonte: CNN Brasil