ARACAJU/SE, 28 de outubro de 2024 , 16:27:09

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Estiagem prolongada deve gerar colapso hídrico em diversas cidades

Da redação, Joangelo Custódio

 

O Nordeste brasileiro passa pela maior crise hídrica dos últimos 103 anos. Os reservatórios estão cada vez mais baixos e já atingiram 20% da capacidade. Em Sergipe não é diferente. Cerca de 23 municípios, segundo a Defesa Civil Estadual, já decretaram situação de emergência devido à estiagem. O município de Malhador, situado na região Agreste, é um dos que vêm sofrendo. A água, que insistia em faltar nas torneiras em períodos sazonais, agora é cada vez mais escassa. Hoje, Malhador passa por um rodízio no abastecimento, causado pelo forte período de seca e pelas captações ilegais de água ao longo do curso dos rios Mata Verde e Cajueiro dos Veados.

 

E a previsão para os próximos 90 dias não é nada aconchegante. Segundo o Centro de Meteorologia de Sergipe, espera-se chuvas abaixo da média nesse período, algo em torno de 120 a 160 milímetros, o que não deve ajudar a preencher as nascentes dos rios. “Todavia, algumas regiões do Centro-Agreste ao Sul e o Litoral Sul podem ter chuvas ligeiramente acima da média, mas como a estação de verão é de estiagem, as chuvas esperadas não são volumosas. Deverão contribuir minimamente para essa região do Agreste, mas as regiões mais ao Norte, sentido Sertão, serão chuvas abaixo da média”, explicou o meteorologista Overland Amaral.

 

Ainda conforme as explicações de Overland, em Malhador é esperado um pouquinho de chuva, nada que venha dar alegria ao povo. “A deficiência hídrica existe e a demanda é grande. A cobertura vegetal nas áreas de nascentes está sofrida e fica no limiar. Com essa dificuldade de infiltração e de chuvas muito escassas, não haverá uma normalização. O cenário não é bom e tem que se ter uma consciência da racionalidade da água e da preservação das áreas de nascentes”.

 

Possível colapso

 

O coordenador de preservação e revitalização dos mananciais da Deso, Luiz Carlos, declarou na última quinta-feira (5), durante reunião em Malhador, que o município precisa de 82 m³ para operar na cidade, no sistema de rodízio. Atualmente, a barragem da Deso na cidade opera com 62 m³, o que inviabiliza a distribuição adequada. Segundo Luiz, a Companhia não irá se responsabilizar por um eventual colapso no sistema de abastecimento.

 

“A Deso vem fazendo um esforço enorme para garantir o abastecimento na cidade. Nós estamos com uma equipe diariamente nas ruas acompanhando e reparando tubulações com vazamentos, com campanhas de educação ambiental para conscientizar as pessoas. Estamos fazendo um sacrifício enorme e, inclusive, tirando água de outros sistemas, como o de Itabaiana, que já não tem tanta água assim, e trazendo para Malhador, via carro pipa. A Deso não está quieta, a gente vem trabalhando e discutindo com a população. Mas a Deso não irá se responsabilizar por um possível colapso ou um possível total desabastecimento por conta dos problemas que vêm acontecendo”, sentenciou Luiz.

 

Irrigação proibida

 

O superintendente de Recursos Hídricos do Estado, Ailton Rocha, disse que foi compactuado com os agricultores da cidade a proibição de novos plantios, além de se reduzir, ao máximo, a irrigação das culturas já instaladas, e aquelas culturas mais resistentes à ausência de água terão suspensas suas irrigações, a exemplo de macaxeira, inhame, entre outros.

 

Os produtores ficaram de liberar as águas das barragens ao ponto de retroalimentar a barragem da Deso [que abastece a cidade], para se garantir os 82 metros cúbicos de água da vazão durante, pelo menos, 24 horas. Nos últimos três dias, a vazão opera com 65 metros cúbicos para uma população de sete mil habitantes.

 

Ailton Rocha revelou ainda que um grupo de técnicos, ao lado dos irrigantes, fará visita de campo na próxima semana para verificar a situação. Além disso, diz Ailton, a Agência Nacional de Águas foi procurada para que seja enviado a Sergipe um técnico para ajudar a solucionar o problema.

 

Crise

 

A cidade de malhador é abastecida por um rio, chamado de “Mata Verde”. Dentro desse rio desagua outro riacho, denominado de “Cachoeira dos Veados”. A Deso fez recentemente uma barragem no encontro desses dois rios e ela capta água dessa barragem para abastecer a cidade.

 

A interferência dos agricultores irrigantes na vazão da barragem, associado à seca, diminuiu drasticamente a água dos reservatórios. “Fizemos um levantamento nas barragens, nas captações de água acima da barragem da Deso e a gente notou que tem pelo menos 20 pessoas que construíram barragens para irrigação, criação de peixes, e captação de águas, grande parte irregular. Queremos tentar uma forma de fazer um pacto para eles diminuírem a irrigação para possibilitar que a Deso consiga plenamente abastecer a comunidade”, disse o geógrafo da Superintendência de Recursos Hídricos, João Carlos.

 

Situação de emergência

 

Conforme a Defesa Civil, 23 municípios decretaram situação de emergência e devem receber socorro do Ministério da Integração Nacional. A Prefeitura de Malhador ainda não assinou decreto solicitando ajuda do governo Federal. A prefeita reeleita da cidade, Elayne de Dedé (PSB), não foi localizada pela reportagem da AJN1 para falar sobre o assunto. O coronel Mendes, da Defesa Civil, disse que aguarda a formalização do documento para fazer avaliação de danos, senão não é homologado.

 

Os municípios em situação de emergência são: Nossa Senhora da Glória, Pinhão, Carira, Graccho Cardoso, Itabi, Macambira, Frei Paulo, Nossa Senhora Aparecida, Ribeirópolis, Cedro, Propriá, Telha, Porto da Folha, Simão Dias, Poço Verde, Moita Bonita, São Miguel do Aleixo, Nossa Senhora dde Lourdes, Poço Redondo, Gararu, Feira Nova, Monte Alegre de Sergipe e Cumbe. 

 

 

 

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