UX. Parece nome de banda, mas não é. Trata-se de uma sigla para um tema que conquistou — ainda mais — fama na pandemia e atravessou setores, a preocupação com a tal da experiência de usuário ou user experience. O assunto não nasceu ligado à tecnologia, mas agora está umbilicalmente relacionado ao universo digital. E todos querem ser digitais. Para o tema que virou prioridade na lista de executivos e empreendedores, o Brasil já tem uma musa em ascensão.
A jovem carioca Karina Tronkos, de apenas 24 anos, que neste ano foi premiada pela quinta vez consecutiva no concurso Apple Scholarship WWDC (Worldwide Developers Conference), virou influencer no assunto com seu canal no Instagram, o Nina Talks. Conquistou atenção pela forma simples, leve e divertida por meio da qual aborda a questão, tornando-o acessível para quem estiver disposto a segui-la.
O público seguidor saltou de 15 mil para 80 mil durante a pandemia, conta ela, em entrevista ao EXAME IN. Para além de estudar, ganhar prêmios e trabalhar no time de desenvolvimento de produto da Hurb, antiga Hotel Urbano, Karina agora também precisa gerenciar sua carreira como influencer de UX.
“Eu achava que só existia influencer para lifestyle”, brinca ela. “Comecei o canal porque, quando pesquisei sobre o assunto, percebi que não havia muito conteúdo feito aqui no Brasil, principalmente por pessoas no início da carreira, e nada por mulheres.” Ela estima que 70% dos seguidores sejam pessoas da área de tecnologia e o restante, curiosos. “Comecei a ver muitos gestores de áreas e até CEOs me seguindo, o que me deixou bastante surpresa.”
Karina vai se formar neste ano em Ciências da Computação, pela PUC do Rio. A paixão por tecnologia é antiga, vem dos pais. Mas, no início, a estudante partiu para a faculdade de Engenharia da Computação. “Eu era aquela que amava a aula de informática, mas também a de artes, porque sempre tive um lado muito ligado à criatividade”, relembra.
A migração de curso veio depois do primeiro estágio, na Globosat, quando descobriu que dava para unir o amor pelo design e criação à tecnologia justamente no ambiente de experiência de usuário. “A engenharia [curso] estava partindo muito para hardware”, explica.
“Comecei a pesquisar sobre UX antes de fazer essa migração.” Foi depois dessa etapa que ela decidiu criar o Nina Talks para combinar a terceira paixão a tudo isso: educação. “Eu me vejo muito ajudando a levar conhecimento sobre tecnologia pelo Brasil. Ajudando as pessoas com isso. Fazendo palestras. Não tenho vontade de sair do país”, diz, ao falar dos sonhos para o futuro. O canal nasceu com a intenção de dividir com outros interessados pelo assunto seus aprendizados e evoluções profissionais.
O prêmio do concurso Apple Scholarship WWDC é participar da Conferência Anual da companhia (cujo ingresso custa a bagatela de US$ 1.500,00) e que está ocorrendo justamente nesta semana — pela segunda vez online, devido à pandemia da covid-19. É a quinta participação de Karina, que ganhou o prêmio todos os anos desde 2017. A estudante já até encontrou Tim Cook, o presidente da gigante americana. Quase o mesmo que dar de cara com o Homem de Ferro, para os amantes da Marvel. A cada edição são premiados 350 estudantes de todo o mundo — e para concorrer basta mesmo apenas ser estudante, do ensino fundamental a doutorandos. O número de concorrentes nunca é divulgado, justamente para não desestimular nenhum potencial participante.
Mesmo com a vida agitada, Karina encontra tempo para todos os dias alimentar o Nina Talks com ‘stories’ e ainda carrosséis com indicações de cursos, livros e outros conteúdos. Ou mesmo para compartilhar conceitos e atalhos no aprendizado sobre UX.
Como se tudo isso fosse pouco, a jovem tem plena consciência de que mulher é raridade no ambiente de tecnologia e que sofre, sim, preconceito. “Eu tive muita sorte de trabalhar em times com mulheres, equilibrados na composição de gênero, mas essa não é a realidade que prevalece no país”, comenta, explicando que participa de aulas com cinco mulheres para um total de até sessenta alunos. “Uma vez, estava entrando em uma aula, única mulher, e o professor avisou quando me viu chegar: – Aqui é aula de análise de algoritmo.” É como se aquele não fosse um ambiente para garotas.
Então, mais uma questão que ela encontra tempo para se dedicar: o debate sobre o espaço para as mulheres na profissão e a equidade. “A mulher precisa brigar para ser ouvida, enquanto, para os homens, todo mundo pede opinião.” Nessa profissão, o desafio é global, segundo ela. “Foi o primeiro lugar que não tinha fila no banheiro feminino e no masculino, era enorme”, relembra, sobre a conferência presencial. Parece divertido, mas quem vive a realidade, não acha.
O projeto vencedor de 2021 de Karina foi a respeito da biomimética, e como a natureza pode inspirar soluções. Cada participante precisa apresentar uma espécie de playbook interativo — ou aplicativo, só que não para celular — sobre qualquer assunto. Junto, tem que preencher também quais foram os códigos e soluções usados no desenvolvimento. O projeto tem um prazo de 15 dias para ser realizado e o resultado deve ter apenas três minutos de duração.
Em anos anteriores, os temas foram totalmente diferentes. Karina começou a sequência de vitórias, em 2017, com um programa sobre corpo humano para crianças e seguiu no ano seguinte sobre daltonismo e a importância da inclusão. Em 2019, decidiu falar de Nancy Roman, conhecida por ser a mãe do telescópio Hubble e de quem é fã. No ano passado, o tema foi a Estação Especial Internacional (EEI). “Eu queria falar de algo que unisse nações de uma forma positiva, mas sabia que muita gente iria falar da pandemia. Então, queria ser diferente.”
A ascensão como influenciadora tem sido meteórica. Agora, recebe cerca de um convite por dia para fazer inserções de publicidade no Nina Talks ou protagonizar conteúdos nas redes das próprias empresas. Já fez para Vivo, Adobe e o próximo é o banco Santander. “Nunca pensei em ganhar dinheiro dessa forma. Agora, já tive até que virar empresa”, comenta.
A renda com o Nina Talks já é maior do que do trabalho CLT, cujo salário mensal é de R$ 8 mil. “Em geral, ganho R$ 20 mil com as campanhas. Agora, já tem meses que isso dá R$ 30 mil”, explica, contando que teve de “Eu sei que em algum momento, vou ter de escolher. Mas sempre gostei do ambiente de empresas. Por outro lado, já entendi que não preciso ter medo e vou conseguir continuar falando de design e tecnologia mesmo sem estar dentro de uma empresa, de uma equipe.”
Fonte: Exame