O que começou como uma provocação em sala de aula no interior de Sergipe tornou-se uma solução simples, barata, eficaz e sustentável para a construção de casas. Foi assim que nasceram os tijolos feitos com fibra de coco verde, criados por um grupo de alunos em 2023 e, agora, premiados internacionalmente. O próximo passo será apresentar o projeto em evento de Brasília para conseguir apoio do governo federal.
A ideia surgiu de ex-alunos e professores do Colégio Estadual Prefeito Anfilófio Fernandes Viana, em Umbaúba (SE), como uma solução local para três problemáticas.
A primeira é que na cidade há muitas casas de taipa, construção tradicional que costuma ser feita pelos próprios moradores, com técnica onde o barro é compactado e entrelaçado com galhos, também conhecida como pau a pique. O problema é que esse tipo de construção atrai o barbeiro, transmissor da doença de Chagas, além de outros insetos.
A fibra de coco entrou na história após a observação que empreendedores locais vendiam a água do fruto e depois descartavam irregularmente grandes quantidades de casca em terrenos a céu aberto. O que “acelera o processo de efeito estufa devido à emissão de certos gases poluentes na degradação da matéria”, explicou Yan Kayk, um dos estudantes que criou o projeto e que atualmente cursa Engenharia da Computação na Universidade Federal de Sergipe.
Já o terceiro ponto considerado foi a forte presença de produção de cerâmica na região, que produz o tijolo convencional, e é um setor de alto impacto ao meio ambiente devido, por exemplo, às emissões durante o processo da queima.
Sendo assim, reaproveitar a fibra de coco para auxiliar na construção de casas –para além das casas de taipa e da utilização de tijolos convencionais– trouxe a dimensão do “tripé da sustentabilidade”, com o projeto atuando no âmbito social, ambiental e econômico, explicou o professor Makel Bruno, que segue orientando os alunos com Alisson Souza.
O tijolo que desenvolveram é composto pela mistura de cimento, areia e fibra de coco. É um produto mais resistente que o convencional e custa cerca de R$ 0,47 por unidade, o que pode variar a depender da região onde for feito. Por mais que possa ser alguns centavos mais caro que o tradicional, que sai em torno de R$ 0,80, ele é mais robusto e tem um tamanho maior, ainda respeitando as diretrizes necessárias.
A fabricação de tijolos com fibra de coco é prática e possibilita que os itens sejam feitos a mão, pela própria comunidade. A mistura, em si, leva poucos minutos. E, depois que montado, o processo de cura demora sete dias.
O grupo já chegou a promover uma oficina com a comunidade para ensinar a fazer o tijolo, visto que a ideia surgiu com o intuito de ajudar a população local a encontrar uma solução eficaz que substitua as construções de pau a pique.
Na prática
Até o momento, por mais que projetos de utilização do item estejam em andamento, não foi construída nenhuma casa em tamanho real com o tijolo sustentável. E esse segue sendo o grande sonho do grupo –que trará benefícios em muitas frentes.
Em outubro, Yan irá representar o projeto na Mostra Nacional de Feiras de Ciência, que acontecerá em Brasília e contará com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos. O estudante, então, vai ao evento com o desafio de buscar apoio do governo para tornar esse sonho realidade. O desejo é que o tijolo sustentável seja utilizado na construção de casas populares feitas pelo Governo Federal.
Confira alguns dos reconhecimentos já recebidos pelo projeto até o momento:
- Selo ODS Sergipe 2024;
- 2º Lugar na categoria Engenharia da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE);
- 1º Lugar na categoria Engenharia da Expo Nacional Milset Brasil;
- Participação na Mostra Nacional de Ciências representando o Estado de Sergipe;
- Bronze na Genius Olympiad – nos EUA;
- Credencial Internacional de Participação no Encuentro Internacional de Ciencias y Tecnología Estudiantil Fenosista (EICYTEF), no Panamá, para a IIIª Mostra Nacional de Divulgação da Iniciação Científica.
Projeto sem financiamento
O projeto é tocado de forma voluntária e é financiado com recursos próprios. Os envolvidos seguem representando o Colégio Estadual Prefeito Anfilófio Fernandes Viana, onde tudo começou, e também já chegaram a firmar parcerias para terem acesso à infraestrutura necessária para a pesquisa. Não há nenhum patrocinador por trás da iniciativa ou algum retorno financeiro.
“É força de vontade e desejo”, conta o professor e orientador da pesquisa, Alisson Souza, que também já foi estudante na unidade.
O que o move é criar oportunidades para que os estudantes se desenvolvam e possam conhecer o mundo afora por meio da pesquisa. É fazê-los entender que eles têm um papel dentro da sociedade.
“Sempre acreditei, sou apaixonado pela minha profissão. E sei que a educação, ela muda vidas. Assim como mudou a minha, como tem mudado de outros estudantes que já passaram”, afirmou o professor.
Fonte: Terra