ARACAJU/SE, 27 de agosto de 2025 , 15:57:18

Estudo revela efeitos do celular na saúde mental dos jovens

 

Não é segredo que o uso de celulares traz prejuízos para as crianças. As telas afetam a visão, contribuem para o sedentarismo, pioram a qualidade de sono… e não para por aí. Um novo estudo adicionou mais uma preocupação para essa lista: os impactos psicológicos. Crianças, especialmente meninas, que possuem smartphones antes dos 13 anos, podem ter piores resultados de saúde mental quando forem mais velhas.

O estudo, publicado em julho no jornal acadêmico Journal of Human Development and Capabilities, analisou resultados de questionários respondidos por mais de 100 mil jovens adultos entre 18 e 24 anos. As perguntas abordavam sintomas de saúde mental, como agressividade, sentimentos de distanciamento, alucinações e pensamentos suicidas.

Crianças que começaram a usar smartphones cedo tiveram pior saúde mental a cada ano de uso antes dos 13. Sentimentos de baixa autoestima estiveram presentes tanto em meninas quanto em meninos. As meninas relataram menos resiliência emocional e menor confiança, enquanto os meninos disseram se sentir menos calmos, menos estáveis e menos empáticos.

Cerca de 48% das mulheres jovens que tinham smartphones aos 5 ou 6 anos, relataram ter tido pensamentos suicidas graves, em comparação com 28% das mulheres que tinham smartphones aos 13 anos ou mais. Já entre os homens jovens, 31% daqueles que tinham smartphones aos 5 ou 6 anos, relataram ter tido pensamentos suicidas graves, e 20% dos homens que tinham smartphones aos 13 anos ou mais relataram ter tido pensamentos suicidas graves.

“Quanto mais cedo a criança tiver um smartphone, maior será o impacto psicológico que a exposição a tudo isso terá e moldará a maneira como ela pensa e vê o mundo”, disse Tara Thiagarajan, uma das autoras do estudo, à ABC News.

Por que há tanta diferença entre meninos e meninas?

Os autores do estudo apontam que o uso das redes sociais pode explicar parte das diferenças nos sintomas de saúde mental entre jovens do sexo feminino e masculino. Afinal, as meninas costumam sofrer mais com pressões em relação ao corpo. Imagens de mulheres “perfeitas” publicadas nas redes, podem contribuir para ansiedade, baixa autoestima e insatisfação em relação ao corpo.

Mas esse nem sempre é o caso. Outros fatores que pareceram influenciar o bem-estar mental incluem cyberbullying, noites de sono ruins e relacionamentos familiares conturbados.

‘O ideal é que as crianças não tenham um smartphone antes dos 14 anos’

Os autores do estudo recomendaram restringir o acesso a smartphones e redes sociais para crianças menores de 13 anos, promovendo a educação em alfabetização digital. “O ideal é que as crianças não tenham um smartphone antes dos 14 anos e, quando o fizerem, os pais devem reservar um tempo para discutir com os filhos como interagir na internet e explicar as consequências de cada ação”, acrescentou Thiagarajan.

Já para a psicóloga infantil, Katherine Sorroche, e a psicóloga Larissa Fonseca, apenas a proibição não é o suficiente, é preciso pensar em proteção e preparo. “O estudo recente mostra que o uso precoce do celular está associado a impactos negativos na saúde mental futura — desde dificuldades emocionais até maior risco de depressão. Isso acontece porque, antes dos 13 anos, a criança ainda está em pleno desenvolvimento de sua identidade, da autoestima e da capacidade de lidar com frustrações”, afirma Sorroche.

Segundo a especialista, entregar um celular cedo demais pode os filhos a situações para as quais eles não têm estrutura emocional, como o cyberbullying. “O celular não é apenas um aparelho de comunicação. Ele abre a porta para redes sociais, comparações e estímulos que a criança ainda não tem maturidade para processar”, acrescenta Larissa Fonseca.

Por isso, para elas, é recomendável adiar ao máximo. “Mas não como um ato autoritário de ‘proibição pura e simples’. O ideal é que os pais expliquem os motivos, conversem e estabeleçam combinados, mostrando que essa decisão é uma forma de cuidado”, explica Katherine Sorroche.

O que considerar antes de dar um celular à criança?

De acordo com as especialistas, não existe uma regra para a idade em que é recomendado dar um celular para a criança. “O que existe são orientações baseadas em pesquisas: a partir dos 14, a criança já tem maior maturidade cognitiva e emocional para começar a lidar com a responsabilidade do uso”, explica Katherine Sorroche.

É essencial olhar para o momento emocional da criança. “Algumas já têm maior capacidade de autorregulação e discernimento aos 12, enquanto outras ainda não estão prontas nem aos 15. O ponto é: não é só a idade cronológica que importa, mas a maturidade emocional e a forma como os pais acompanham esse processo”, adiciona a psicóloga.

Veja dicas das especialistas para te ajudar a entender quando o filho está pronto para o primeiro celular:

  • Maturidade emocional: a criança sabe lidar com frustração, sabe esperar, tem noção de limites?
  • Propósito: o celular será um recurso de segurança e comunicação ou apenas entretenimento ilimitado?
  • Tempo de uso: é preciso definir horários e contextos (não usar à noite, por exemplo, para proteger o sono).
  • Acesso às redes sociais: mesmo após ganhar o aparelho, o acesso às redes deve ser postergado e monitorado, já que é onde se concentram os maiores riscos emocionais.
  • Acompanhamento dos pais: não basta entregar; é preciso estar junto, conversar sobre o que a criança vê, orientá-la sobre riscos e reforçar valores de respeito e segurança digital.
  • Exemplo dos adultos: os filhos aprendem mais pelo que veem do que pelo que ouvem. Se os pais estão sempre no celular, a mensagem contraditória será ainda mais difícil de sustentar.

Fonte: Revista Crescer

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