ARACAJU/SE, 31 de outubro de 2025 , 17:38:21

Farinha de mandioca sergipana chega ao mercado europeu

 

Sergipe começou a exportar farinha de mandioca para a Itália por meio da Cooperativa de Produção e Economia Solidária de Agricultura de Campo do Brito (Coofama). A primeira remessa, com 27 toneladas, saiu nesta quinta-feira (30), do agreste sergipano e deve chegar nas próximas semanas ao país europeu. No total, mais de 100 toneladas serão enviadas nesta primeira etapa de exportações.

A conquista reflete o fortalecimento da agricultura familiar e o trabalho conjunto entre produtores e o Governo de Sergipe, que, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri) e da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), tem investido em capacitação, tecnologia e apoio técnico às cooperativas.

De acordo com o diretor de Planejamento da Seagri, Arlindo Nery, o mercado europeu tem valorizado cada vez mais os produtos oriundos da agricultura familiar.

“O mercado europeu prioriza produtos da agricultura familiar devido à qualidade dos alimentos, cuidado com a terra, o baixo uso de agrotóxicos e o envolvimento familiar. O Estado tem atuado para levar conhecimento aos produtores e incentivar o fortalecimento das cooperativas para que a produção local tenha acesso ao mercado internacional”, informa.

Nery acrescenta que o Estado tem participado de feiras internacionais e buscado parcerias para ampliar o conhecimento sobre os processos de exportação. “Também participamos de feiras internacionais, buscando contatos e mais conhecimento para fortalecer nossos agricultores. Recentemente, fomos a feiras, junto com outros estados do Nordeste, na Alemanha e em Portugal, onde tivemos aulas sobre a parte burocrática, para verificar as exigências necessárias para que os nossos produtos entrem na zona do euro”, explica.

O diretor destaca ainda as políticas de incentivo às cooperativas. “Há incentivos do Estado tanto via convênios, emendas, investimentos próprios em equipamentos, pesquisa, melhoramento de produto e assistência técnica. E, mais recentemente, abrimos uma frente de diálogo permanente com a ApexBrasil, que agora está voltada também para a agricultura familiar, para termos o assessoramento necessário para entrada nesses novos mercados”, ressalta.

Assistência técnica e inovação

O engenheiro agrônomo da Emdagro, Adailton dos Santos, lembra que o apoio técnico foi fundamental para reestruturar a cadeia produtiva da mandioca na região.

“Há alguns anos, a mandioca sofreu um problema muito grave nessa região, com uma doença que apodrecia a raiz. A Emdagro, em parceria com a Embrapa, introduziu variedades resistentes, reestruturando a cadeia da mandioca. Todo esse trabalho, que hoje culmina com a exportação para a Europa, é fruto do apoio do Estado e de outros órgãos que acompanharam o processo desde o início da cooperativa”, frisa.

Qualidade que conquista

A farinha sergipana será utilizada por uma empresa italiana na produção de massas sem glúten. Segundo o gerente de Vendas da Coofama, Lucas Nascimento, a escolha do produto se deve à sua qualidade superior.

“A gente trabalha com três tipos de farinha, de acordo com a moagem: fina, média e grossa. Eles tentaram comprar em outros lugares antes de nos conhecer, só que não passaram na análise de exigência e aqui deu tudo certo, só precisamos ajustar pouca coisa”, explica.

Ele ressalta o ineditismo da operação. “É a primeira vez que os empresários estão comprando farinha de mandioca do Brasil, e é em Sergipe. O diferencial da nossa farinha são os cuidados que temos na produção, o conhecimento dos produtores e a nossa mão de obra qualificada. E nisso temos o apoio do Estado e de outros parceiros, como o Sebrae, com cursos, qualificações, análises e acompanhamento do nosso trabalho”, destaca.

Com 52 cooperados, a Coofama produz cerca de 400 toneladas de farinha por mês, abastecendo os mercados de Sergipe, Alagoas e São Paulo. Na região da Rota da Farinha, que abrange Campo do Brito, Macambira e São Domingos, cerca de 500 casas de farinha mantêm vivo o processo tradicional reconhecido desde 2022 como Patrimônio Cultural e Imaterial de Sergipe.

Valorização e geração de emprego

Para os produtores, a exportação representa reconhecimento e novas oportunidades de renda. O agricultor Felipe dos Santos, de 27 anos, celebra o feito. “A gente produz farinha aqui desde a época do meu avô e nunca imaginamos que venderíamos para a Europa. É muito bom porque valoriza nossa farinha, vendemos por um preço melhor”, afirma.

Com o aumento da demanda, ele ampliou a produção e contratou mais trabalhadores. “Geralmente, uma casa de farinha emprega cerca de 20 pessoas, mas a gente só trabalhava dois ou três dias. Agora, estamos trabalhando quatro ou cinco, o que é bom para os funcionários também”, relata.

A agricultora Claudeci Silveira, que atua como raspadeira de mandioca, confirma a importância da exportação para a economia local. “A gente conseguiu mais serviço, então é uma renda extra para nós. Foi muito bom porque deu trabalho para muita gente”, comemora.

*Com informações Secom

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