A tecnologia para aferição do índice de glicemia tem avançado, com o desenvolvimento e lançamento de novos equipamentos, incluindo dispositivos sem agulhas que prometem poupar o usuário do desconforto das picadas. No entanto, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) faz dois alertas importantes para quem convive com a doença: o sangue ou um sensor intersticial é indispensável para esse procedimento e qualquer medidor de glicose necessita de validação técnica do setor.
A preocupação da entidade se deve à chegada, ao mercado nacional, de dispositivos que não passaram pelo crivo da área e, entre eles, estão os que não utilizam agulhas.
“Para medição da glicose, é necessária uma amostra de sangue ou um sensor, com agulha de 4 milímetros, capaz de aferir o nível dessa substância na região subcutânea, localizada abaixo da camada superficial da pele [derme] e acima dos músculos”, afirma o endocrinologista Márcio Krakauer, coordenador do Departamento de Tecnologia, Saúde Digital e Inovação da SBD.
“Sem essas técnicas, é possível aferir, por exemplo, oxigenação e o nível de batimentos cardíacos, mas isso não se aplica a substâncias como os carboidratos”, reforça.
Entre os equipamentos mais recentes que passaram a ser oferecidos pela indústria do segmento médico-hospitalar e que chamaram a atenção da sociedade está um oxímetro encaixado à ponta do dedo. A publicidade do produto – que não foi testado, muito menos autorizado pela instituição – afirma se tratar do “mais preciso e menos invasivo item do gênero no mundo”.
SBD desconhece o novo equipamento
“Do ponto de vista formal, a Sociedade Brasileira de Diabetes desconhece esse aparelho”, destaca o especialista. Ele ressalta que o fabricante não fez qualquer contato ou apresentação oficial do dispositivo à entidade.
“Portanto, não temos nenhuma informação sobre a segurança e eficácia do produto”, explica. Ele frisa, entre outros aspectos, que não foram realizados estudos comparando os resultados destes dispositivos com os exames já conhecidos e validados tecnicamente no Brasil, como a glicose capilar (método tradicional com amostra de sangue) ou glicose intersticial (sensores).
“Por estes motivos, a recomendação da SBD é para que as pessoas com diabetes evitem estes produtos e façam seus exames de forma tradicional. Em caso de dúvidas, fale com seu médico, muitos riscos estão envolvidos quando ocorre um erro na medição da glicose”, conclui Marcio Krakauer.
Desigualdade amplia mortes por diabetes no Nordeste
O monitoramento da glicose é vital para os diabéticos, doença que avança no Brasil, com índice de mortalidade no Nordeste maior que no restante do país.
Uma pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (Uece) divulgada ano passado – e realizada entre 2010 e 2020 – aponta um crescimento do número de mortes por diabetes melitus.
No Brasil, a média atual é de 30 mortes por diabetes a cada 100 mil habitantes. Mas, nos estados nordestinos, esse índice sobe para 34,4/100 mil habitantes. O levantamento aponta uma relação dos números da região com desigualdades de renda, condições precárias de moradia, baixa escolaridade e falta de acesso a serviços de saúde.