Mundialmente o câncer de mama é o mais comum entre mulheres, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Ano passado, 1.020 novos casos foram diagnosticados em Aracaju. Com 56 óbitos, a mortalidade pela doença em 2023 na capital sergipana já supera os números de 2022, quando ocorreram 44 mortes, de acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde.
Nos casos que necessitam de tratamento cirúrgico para a retirada da glândula mamária, os riscos de complicações também estão relacionados ao aumento de dores e a perda de movimentos do corpo. Mais da metade das mulheres apresentam, pelo menos, uma morbidade física, cerca de um ano após a cirurgia.
Com o objetivo de avaliar os benefícios de sessões fisioterapêuticas na melhoria do movimento e da dor, pesquisadores do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe (UFS) realizaram um estudo clínico com 49 pacientes que fizeram o procedimento para a retirada da mama em Aracaju.
“Hoje a regra é que seja feito o encaminhamento das pacientes pós-cirurgia de câncer de mama para as equipes de fisioterapia. Não só para melhorar a questão do movimento e da dor, mas também diminuir a retração de cicatrizes e prevenir seromas [acúmulo de líquidos na região do corpo que passou por intervenção cirúrgica]”, ressalta a professora de Fisioterapia da UFS, Mariana Bergamasco.
As pacientes foram usuárias do SUS (Sistema Único de Saúde) que apresentaram queixas de dor no ombro e nos braços após a intervenção cirúrgica. Em parceria com o Hospital de Cirurgia, elas foram avaliadas durante 20 sessões de fisioterapia, que ocorriam três vezes por semana, com cerca de uma hora de duração cada.
O protocolo fisioterapêutico das pacientes envolveu a realização de exercícios físicos para avaliar a amplitude do movimento e a intensidade da dor, como alongamento, flexão, abdução e rotação, com o auxílio de bolas, bastões e fitas elásticas.
A amplitude do movimento dos membros superiores foi analisada com o uso de um goniômetro – aparelho que se assemelha a uma régua, que mede um ângulo ou permite que um objeto seja girado para uma posição angular precisa.
Já a intensidade da dor foi avaliada através de uma escala visual na qual a própria paciente define o nível percebido entre leve, moderado ou intenso. A caracterização da dor, por sua vez, foi feita por meio da aplicação de um questionário.
“Avaliamos todo o contexto biopsicossocial e funcional, desde a dor que a paciente está vivendo aquele momento, o quanto que ela tem medo de se movimentar, bem como as atividades domésticas, se ela consegue vestir uma blusa, atingir o objeto acima da parede, pentear o cabelo, tomar banho, e etc”, explica a pesquisadora.
Melhora de movimentos
O estudo clínico mostrou que, a partir da décima sessão de fisioterapia, as mulheres aumentaram significativamente todos os movimentos do ombro. Houve aumento expressivo da amplitude desses movimentos no início do tratamento e ganhos adicionais entre a décima e a vigésima sessão.
“Flexão, abdução e rotação externa são os movimentos mais comprometidos no pós-operatório imediato de câncer de mama e foi possível observar a melhora significativa desses movimentos ao longo das sessões”, afirma o professor de Fisioterapia da UFS, Walderi Monteiro.
Diminuição de dores
A pesquisa revelou ainda que a intensidade da dor leve e moderada identificada nas pacientes reduziu significativamente a partir da décima sessão. Essa diminuição também foi percebida porque, na caracterização da dor, as pacientes escolheram um número menor de palavras para caracterizar e descrever a dor ao longo das sessões.
“Além de demonstrar que as pacientes conseguem ganhar mais autonomia, mais confiança, o estudo reforça a importância de se trabalhar com os exercícios para prevenção de linfedema, que provoca o inchaço do braço. Então, acompanhá-las por mais tempo também pode possibilitar a elaboração de estratégias de prevenção do linfedema,” pontua a professora Mariana Bergamasco.
Os resultados foram publicados na Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo. A publicação é assinada por Mariana Tirolli Rett Bergamasco, Danielly Pereira Moura, Fernanda Bispo de Oliveira, Helena Yannael Bezerra Domingos, Mariana Maia Freire de Oliveira, Rubneide Barreto Silva Gallo e Walderi Monteiro da Silva Júnior.
Fonte: Ascom UFS