ARACAJU/SE, 21 de julho de 2025 , 15:57:12

Fome extrema atinge Gaza: crianças morrem por desnutrição severa, alerta ONU

 

A desnutrição atingiu níveis alarmantes na Faixa de Gaza, em meio à guerra, afetando de forma devastadora as crianças. A ONU alerta que a entrada de ajuda humanitária no território cercado segue extremamente limitada. A Defesa Civil local confirmou um aumento nas mortes de recém-nascidos por fome e desnutrição grave, com pelo menos três óbitos de bebês registrados na última semana.

“Essas mortes não foram causadas por bombardeios, mas pela fome, pela escassez de leite infantil e pela ausência de cuidados médicos básicos”, disse o porta-voz da instituição.

No norte do território, Ziad Mousleh, 45, relata que não consegue mais alimentar os filhos. “Estamos morrendo. Nossos filhos estão morrendo. E não há nada que possamos fazer”, lamentou em Nousseirat, no centro da Faixa de Gaza.

“Nossos filhos dormem com fome”

“Nossos filhos choram de fome e dormem chorando”, continuou. “Não há absolutamente nada para comer. E, quando algum produto aparece no mercado, o preço é absurdo. Ninguém consegue pagar.”

Em uma escola transformada em abrigo para deslocados da guerra, uma distribuição de refeições quentes foi organizada neste domingo (20).

Uma mulher visivelmente debilitada relatou ter perdido 35 quilos. “Deixo a comida que recebo para minha filha”, contou Oum Sameh Abou Zeina, que sofre de hipertensão e diabetes.

Moradores, agências humanitárias e a própria ONU apontam que o esgotamento dos estoques provocou uma disparada nos preços dos poucos alimentos disponíveis. Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), o preço da farinha para pão está 3.000 vezes mais alto do que antes da guerra.

A Fundação Humanitária de Gaza (GHF), que conta com apoio de Israel e dos Estados Unidos, culpou o Hamas pela crise humanitária. “Eles pegam os alimentos gratuitos, revendem, estocam para seus combatentes e usam isso como ferramenta de recrutamento”, afirmou a entidade em nota publicada na rede X.

O diretor do PMA, Carl Skau, que visitou Gaza no início de julho, afirmou que essa é “a pior situação” humanitária que já presenciou.

“Um pai me contou que perdeu 25 quilos em dois meses. As pessoas estão morrendo de fome, enquanto a comida está do outro lado da fronteira”, disse ele em comunicado.

Em março, Israel impôs um bloqueio total à Faixa de Gaza, interrompendo toda entrada de ajuda. Somente no fim de maio alguns caminhões voltaram a ter acesso, de forma limitada. “Nossas cozinhas estão vazias. Estamos servindo água quente com um pouco de macarrão”, relatou Skau.

A agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) afirmou no sábado que possui estoques suficientes para alimentar os mais de dois milhões de habitantes de Gaza por três meses — mas não recebeu autorização para distribuí-los no território.

“Não tem nada”

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou que nunca havia registrado tantos casos de desnutrição na região.

“Por causa da fome generalizada entre gestantes e da precariedade dos serviços médicos, muitos bebês estão nascendo prematuros”, explicou Joanne Perry, médica da MSF.

“Nossa UTI neonatal está lotada: há até cinco bebês compartilhando uma única incubadora.”

“Tenho fome o tempo todo… Meu pai promete que vai trazer alguma coisa, mas não tem nada”, relatou Amina Wafi, de 10 anos, moradora de Khan Younes, no sul da Faixa de Gaza. “Tenho medo de morrer de fome”, disse a menina.

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 deixou 1.219 mortos em Israel, a maioria civis, segundo dados oficiais. Em resposta, as ofensivas israelenses já mataram pelo menos 58.895 pessoas na Faixa de Gaza — a maioria civis —, conforme números do Ministério da Saúde local reconhecidos pela ONU.

Fonte: Terra

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