ARACAJU/SE, 2 de junho de 2025 , 8:55:50

Há 201 anos Sergipe deixava de fazer parte da Bahia

Hoje, 8 de julho, é celebrado o dia em que Sergipe deixa de fazer parte do território anexo da antiga Província da Bahia. Por mais de dois séculos, a então capitania Sergipe D’el desempenhava a função de abastecer a Bahia, através de sua produção agropecuária. Foi a partir do Decreto do Rei Dom João VI que o estado ganha sua independência, mas somente dois anos depois, com a liderança de Dom Pedro I, sua autonomia foi reconhecida, após muita luta e controvérsia com a antiga capitania baiana. Adailton Andrade, Historiador e diretor do Arquivo Público do município de São Cristóvão, conversou com o portal AJN1 sobre os 201 anos de emancipação polícia e econômica de Sergipe. Confira:

 

AJN1: Quando Sergipe D’el Rey se tornou independente? Que momento da História nossa então capitania vivia?

Adailton Andradde: O território que viria a ser a capitania de Sergipe D’el-Rei originou-se de uma cidade chamada São Cristóvão, erguida, onde hoje é Aracaju, nas proximidades  do atual  aeroporto Santa Maria . Mas a colonização propriamente dita somente aconteceu em 1590, após a destruição das tribos indígenas hostis. A região do arraial de São Cristóvão, sede da capitania de Sergipe D’ El-Rei tornou-se então importante pólo de criação de gado e cana-de-açúcar. No período das invasões holandesas, que correspondeu à primeira metade do século XVII, a economia de Sergipe D’El-Rei ficou prejudicada, recuperando-se, no entanto, com a retomada da região pelos portugueses, em 1645.

AJN1: E por que essa decisão de se separar da Bahia?

AA: Constantes intervenções na vida sergipana contribuíram para que aumentassem os protestos nas câmaras municipais contra a dependência da Bahia. Então, no dia 8 de Julho de 1820, um Decreto de Dom João VI elevava Sergipe à categoria de Capitania independente da Bahia e Província do Império do Brasil, com o brigadeiro Carlos César Burlamaque, nomeado seu primeiro governador.

AJN1: Quem deu essa independência aos sergipanos?

AA: Carta Régia assinada por Dom João VI elevava Sergipe à categoria de Capitania independente da Bahia, mas se esperou D. Pedro I chegar ao trono em justamente  com a independência  do Brasil dois anos depois  para legitimar a decisão  tomada  por  seu  pai, o Rei  das  duas  coroas.  Mas  de fato  foi a  promulgação da  1º Constituição  brasileira em 1824,  que Sergipe  de  fato  se apresenta  como capitania  independente .

AJN1: Alguma personalidade se destacou nessa luta pela emancipação?

 AA: O próprio  D. João VI ao assinar  a Carta  Regia , seu filho D. Pedro I em  confirmar e legitimar  a decisão  tomada  por seu pai,  Carlos César Burlamaque, o primeiro  governador  ou presidente   de província,  como era chamado na época.

 

AJN1: Como Sergipe atuava enquanto capitania da Bahia?

AA: Durante mais de dois séculos, Sergipe foi capitania subalterna, dedicada a abastecer a capital baiana através da sua produção agropecuária, recebendo dela as autoridades, as famílias dominantes, os encargos e os produtos do seu comércio. Sergipe já dava motivos   para não precisar ser dependente de outra  capitania, se  alto  sustentava  e  sustentava  vilas  e  capitanias   vizinhas  .

AJN1: Qual a principal fonte de renda dos sergipanos à época?

AA: A capitania Sergipana já tinha se tornado um importante pólo de criação de gado e de cana-de-açúcar, cultivo da rainha de mandioca, algodão e o fumo. Ainda tivemos  uma grande produção de  sal. Sergipe  já era  independente  economicamente  da Bahia  e  já sustentava  polos vizinhos. Mas toda essa produção deixava os impostos com os vizinhos baianos. Já o único porto mais próximos  a quém  éramos   ligado  era  a Bahia

 

AJN1: Foi uma emancipação pacífica?

AA: Não. Até o primeiro  governador  não conseguiu  tomar posse. A independência, porém, durou pouco. Em 1821, logo depois de chegar em Sergipe, Burlamaque foi preso por ordem da Junta Governamental da Bahia e conduzido para Salvador por não querer aderir ao movimento constitucionalista.

 

AJN1: E como ficou a economia de Sergipe imediatamente após ganhar o status de Província?

 AA: Inicia-se a introdução da cultura canavieira nos vales dos rios São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vaza-Barris, Piauí e Real; a existência de áreas inadequadas à plantação de cana-de-açúcar no litoral e no sertão favorece o surgimento da pecuária (possuindo um dos maiores rebanhos do Brasil colonial. Isso acelerou o processo  de  independência, segundo Felisbelo Freire em “História de Sergipe”, publicado em 1891). Sergipe torna-se, então, um fornecedor de animais de tração para as fazendas da Bahia e de Pernambuco. Houve também uma significativa produção de couro.

AJN1: Há controvérsia entre estudiosos do tema. Em quais pontos vocês convergem e onde há dúvidas?

AA: Alguns estudiosos, a nossa independência é fruto do reconhecimento do rei D. João VI aos sergipanos que que ajudaram na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817. Para outros, é mais importante pensar a Independência de Sergipe no contexto do próprio processo da Independência do Brasil.

 

AJN1:  Como você avalia a evolução política e econômica de Sergipe nesses mais de dois séculos de emancipação? Foi uma causa benéfica?

AA: Há 201 anos, no dia 8 de julho de 1820, os sergipanos receberam do Rei Dom João VI, a Carta Régia decretando a emancipação política de Sergipe do Estado da Bahia. A independência do território sergipano foi marcada por intensas lutas políticas. Muita coisa a se estudar, a dialogar com as fontes,  que por sua vez existe algumas contradições  no  meio dos historiadores. Felisbelo Freire descreve que alçar Sergipe a uma capitania independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817. Outros tem um ponto de vista diferente, e isso torna a história   viva, capaz de  apresentar  várias  abordagens  do mesmo tema. Cada tempo com seu ciclo  econômico, sempre  tornando  o menor   estado da federação atrativo  com suas  riquezas minerais, nosso petróleo, nosso potássio  e agora  surge  a   carnalita,  sem esquecer  do gás natural.  São dois  séculos  de história e tradição,   com  muita história  para contar, sua gente, suas  tradições. Nossa  separação  da Bahia, sim, foi benéfico. Com isso nasceu  nossa  sergipanidade, nossa resistência de se firmar  como  um pequeno notável que  tem  um povo feliz , trabalhar  e ordeiro.

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