Hoje, 8 de julho, é celebrado o dia em que Sergipe deixa de fazer parte do território anexo da antiga Província da Bahia. Por mais de dois séculos, a então capitania Sergipe D’el desempenhava a função de abastecer a Bahia, através de sua produção agropecuária. Foi a partir do Decreto do Rei Dom João VI que o estado ganha sua independência, mas somente dois anos depois, com a liderança de Dom Pedro I, sua autonomia foi reconhecida, após muita luta e controvérsia com a antiga capitania baiana. Adailton Andrade, Historiador e diretor do Arquivo Público do município de São Cristóvão, conversou com o portal AJN1 sobre os 201 anos de emancipação polícia e econômica de Sergipe. Confira:
AJN1: Quando Sergipe D’el Rey se tornou independente? Que momento da História nossa então capitania vivia?
Adailton Andradde: O território que viria a ser a capitania de Sergipe D’el-Rei originou-se de uma cidade chamada São Cristóvão, erguida, onde hoje é Aracaju, nas proximidades do atual aeroporto Santa Maria . Mas a colonização propriamente dita somente aconteceu em 1590, após a destruição das tribos indígenas hostis. A região do arraial de São Cristóvão, sede da capitania de Sergipe D’ El-Rei tornou-se então importante pólo de criação de gado e cana-de-açúcar. No período das invasões holandesas, que correspondeu à primeira metade do século XVII, a economia de Sergipe D’El-Rei ficou prejudicada, recuperando-se, no entanto, com a retomada da região pelos portugueses, em 1645.
AJN1: E por que essa decisão de se separar da Bahia?
AA: Constantes intervenções na vida sergipana contribuíram para que aumentassem os protestos nas câmaras municipais contra a dependência da Bahia. Então, no dia 8 de Julho de 1820, um Decreto de Dom João VI elevava Sergipe à categoria de Capitania independente da Bahia e Província do Império do Brasil, com o brigadeiro Carlos César Burlamaque, nomeado seu primeiro governador.
AJN1: Quem deu essa independência aos sergipanos?
AA: Carta Régia assinada por Dom João VI elevava Sergipe à categoria de Capitania independente da Bahia, mas se esperou D. Pedro I chegar ao trono em justamente com a independência do Brasil dois anos depois para legitimar a decisão tomada por seu pai, o Rei das duas coroas. Mas de fato foi a promulgação da 1º Constituição brasileira em 1824, que Sergipe de fato se apresenta como capitania independente .
AJN1: Alguma personalidade se destacou nessa luta pela emancipação?
AA: O próprio D. João VI ao assinar a Carta Regia , seu filho D. Pedro I em confirmar e legitimar a decisão tomada por seu pai, Carlos César Burlamaque, o primeiro governador ou presidente de província, como era chamado na época.
AJN1: Como Sergipe atuava enquanto capitania da Bahia?
AA: Durante mais de dois séculos, Sergipe foi capitania subalterna, dedicada a abastecer a capital baiana através da sua produção agropecuária, recebendo dela as autoridades, as famílias dominantes, os encargos e os produtos do seu comércio. Sergipe já dava motivos para não precisar ser dependente de outra capitania, se alto sustentava e sustentava vilas e capitanias vizinhas .
AJN1: Qual a principal fonte de renda dos sergipanos à época?
AA: A capitania Sergipana já tinha se tornado um importante pólo de criação de gado e de cana-de-açúcar, cultivo da rainha de mandioca, algodão e o fumo. Ainda tivemos uma grande produção de sal. Sergipe já era independente economicamente da Bahia e já sustentava polos vizinhos. Mas toda essa produção deixava os impostos com os vizinhos baianos. Já o único porto mais próximos a quém éramos ligado era a Bahia
AJN1: Foi uma emancipação pacífica?
AA: Não. Até o primeiro governador não conseguiu tomar posse. A independência, porém, durou pouco. Em 1821, logo depois de chegar em Sergipe, Burlamaque foi preso por ordem da Junta Governamental da Bahia e conduzido para Salvador por não querer aderir ao movimento constitucionalista.
AJN1: E como ficou a economia de Sergipe imediatamente após ganhar o status de Província?
AA: Inicia-se a introdução da cultura canavieira nos vales dos rios São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vaza-Barris, Piauí e Real; a existência de áreas inadequadas à plantação de cana-de-açúcar no litoral e no sertão favorece o surgimento da pecuária (possuindo um dos maiores rebanhos do Brasil colonial. Isso acelerou o processo de independência, segundo Felisbelo Freire em “História de Sergipe”, publicado em 1891). Sergipe torna-se, então, um fornecedor de animais de tração para as fazendas da Bahia e de Pernambuco. Houve também uma significativa produção de couro.
AJN1: Há controvérsia entre estudiosos do tema. Em quais pontos vocês convergem e onde há dúvidas?
AA: Alguns estudiosos, a nossa independência é fruto do reconhecimento do rei D. João VI aos sergipanos que que ajudaram na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817. Para outros, é mais importante pensar a Independência de Sergipe no contexto do próprio processo da Independência do Brasil.
AJN1: Como você avalia a evolução política e econômica de Sergipe nesses mais de dois séculos de emancipação? Foi uma causa benéfica?
AA: Há 201 anos, no dia 8 de julho de 1820, os sergipanos receberam do Rei Dom João VI, a Carta Régia decretando a emancipação política de Sergipe do Estado da Bahia. A independência do território sergipano foi marcada por intensas lutas políticas. Muita coisa a se estudar, a dialogar com as fontes, que por sua vez existe algumas contradições no meio dos historiadores. Felisbelo Freire descreve que alçar Sergipe a uma capitania independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817. Outros tem um ponto de vista diferente, e isso torna a história viva, capaz de apresentar várias abordagens do mesmo tema. Cada tempo com seu ciclo econômico, sempre tornando o menor estado da federação atrativo com suas riquezas minerais, nosso petróleo, nosso potássio e agora surge a carnalita, sem esquecer do gás natural. São dois séculos de história e tradição, com muita história para contar, sua gente, suas tradições. Nossa separação da Bahia, sim, foi benéfico. Com isso nasceu nossa sergipanidade, nossa resistência de se firmar como um pequeno notável que tem um povo feliz , trabalhar e ordeiro.