Entre os corredores que já viram lágrimas, sorrisos e renascimentos, o Hospital de Urgências de Sergipe Governador João Alves Filho (Huse) carrega quase quatro décadas de histórias que se entrelaçam e continuam sendo escritas todos os dias. Histórias de quem dedicou a vida ao cuidado, de quem acaba de chegar cheio de esperança e de quem sobreviveu graças ao trabalho incansável de uma equipe que faz da saúde uma missão.
Há 38 anos, Maria José Santos faz parte dessa trajetória. Hoje, atuando no laboratório da unidade, ela carrega consigo não apenas a experiência de quase quatro décadas de serviço público, mas também uma história de fé, gratidão e superação. “Sempre tive o desejo de trabalhar no Estado. Quando passava aqui na frente, o hospital ainda estava em construção. Dizia para mim mesma: um dia eu vou trabalhar ali, juro. Quando saiu o concurso, não tinha dinheiro para me inscrever. Fiquei triste e minha mãe percebeu. Ela custeou e me incentivou. Se não fosse por ela, não estaria aqui hoje”, contou.
Maria José começou sua trajetória na lavanderia, em tempos em que tudo era manual e o trabalho exigia muito esforço físico. “Era corrido, lá aprendi muita coisa e fiz muitos amigos. Sou muito grata por tudo que vivi aqui dentro. Quando comecei, era tudo manual. Hoje está tudo automatizado. Com as novas tecnologias e a chegada de muita gente boa, o trabalho ficou mais ágil e seguro”, destacou.
Recém-chegado ao Huse, o cirurgião da especialidade de cabeça e pescoço João Pedro Carvalho iniciou suas atividades em 2024, trazendo consigo a missão de ampliar o serviço especializado. Ele conta que trabalhar no maior hospital público do estado sempre foi uma meta natural para quem atua na saúde sergipana. “Quem escolhe voltar para Sergipe, como é o meu caso, sabe que, em algum momento, vai passar pelo Huse. É uma referência e uma escola para todos nós”, afirmou.
Para João Pedro, o Huse é um espaço fundamental de formação. “O estudante que passa por aqui vive de tudo, dos casos mais simples aos mais complexos, e aprende com uma equipe multiprofissional altamente preparada. O Huse representa olhar para as pessoas que mais precisam. Todos os dias recebemos pacientes de todas as regiões do estado e até de fora, buscando aqui a esperança de cura. É um trabalho que nos conecta com o que há de mais humano na medicina”, disse o médico.
Histórias individuais como as de Maria José e João Pedro se entrelaçam com a própria trajetória do Huse, que, ao longo de quase quatro décadas, passou por profundas transformações e se fortaleceu como referência estadual.
Histórico
A estrutura física do Huse foi inaugurada em 7 de novembro de 1986 e passou a funcionar efetivamente em 2 de fevereiro de 1987. Maior hospital público do estado, é referência em assistência de média e alta complexidade e porta aberta para urgência e emergência.
Desde sua fundação, o hospital passou por diversas reformas e ampliações, incluindo oferta de serviços assistenciais. Atualmente, conta com mais de 4.700 profissionais, número superior à população de alguns municípios sergipanos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Idealizado inicialmente para suprir a demanda de primeiros socorros e traumas, o Huse nasceu como Hospital Pronto-Socorro de Aracaju, dentro de uma estrutura considerada moderna para a época. Já na inauguração, destacava-se como uma das obras mais avançadas do Nordeste. Com o passar dos anos, a unidade consolidou-se como a principal porta do Sistema Único de Saúde (SUS) em Sergipe, reconhecida pela abrangência e qualidade do atendimento.
Entre os marcos históricos estão: a inauguração da CTI Pediátrica e da Ala de Internamento do Pavilhão Superior (1995); o Centro de Oncologia Dr. Oswaldo Leite (1996); o Centro de Trauma (1997); a Unidade de Tratamento de Queimados (2003); e criação do Centro de Nefrologia Dr. Lucilo da Costa Pinto, em 2018. Entre as conquistas mais recentes, estão a implantação do Centro de Hemodinâmica Dr. José Augusto Soares Barreto, em 2025, além da troca integral das macas do Pronto-Socorro e aquisição de equipamentos de alta tecnologia, como ressonância magnética e três tomógrafos.
O secretário de Estado da Saúde, Cláudio Mitidieri, destacou os avanços da unidade e reforçou o compromisso com a modernização. “O Huse é um símbolo da saúde pública de Sergipe e um orgulho para todos nós. São 39 anos de história, dedicação e compromisso com a vida. Ao longo desse tempo, o hospital evoluiu em estrutura, tecnologia e, principalmente, na qualidade do atendimento. Os últimos investimentos que realizamos refletem nosso esforço para garantir um atendimento mais ágil, humanizado e de excelência”, frisou.
Superação
Entre as histórias de superação que passam diariamente pelos corredores do Huse está a de João Gabriel, paciente que chegou à unidade após um grave acidente. Ele foi encaminhado diretamente para a Ala Vermelha, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) onde recebeu os primeiros cuidados intensivos. Hoje, recuperado, João relembra com gratidão o que viveu.
“Fui bem recebido por todas as equipes, segurança, médicos, enfermeiros. Só tenho a agradecer a Deus e a cada profissional que cuidou de mim. Estou vivo e com saúde, e isso devo, primeiramente, a Deus e a todo o time do Huse, que esteve ao meu lado naquele momento tão difícil”, relatou.
Novos capítulos
A história do médico oncologista Roberto Gurgel se confunde com a do Huse. Atual superintendente da unidade, foi ali que ele teve seu primeiro emprego, há mais de três décadas. “Os 39 anos de Huse também fazem parte da minha história. Quando cheguei a Sergipe, tive meus dois primeiros empregos na emergência, e um deles foi aqui no Huse. Guardo lembranças muito boas desse início. Éramos jovens, cheios de energia e começando a construir uma história dentro desta instituição”, recordou.
Com o passar dos anos, ele testemunhou o crescimento e a modernização do hospital. “O Huse sempre acompanhou as necessidades da população. Avançou com a criação do Centro de Trauma, o aumento das UTIs, a expansão dos centros cirúrgicos e a fundação do Centro de Oncologia. Tudo isso foi essencial para garantir um atendimento cada vez mais completo e humanizado”, assegurou.
Para Gurgel, retornar como gestor é mais do que uma função administrativa, é um gesto de retribuição. “Voltar ao Huse traz dois significados importantes para mim. O primeiro é poder contribuir para a transformação que o hospital precisa viver agora, preparando-se para o futuro. O segundo é resgatar aquele sentimento de pertencimento que tínhamos no início, quando o Huse era apenas um sonho em construção. Quero reavivar esse espírito de união e orgulho em cada colaborador que faz parte desta casa. Aqui, tenho lembranças fortes, que mostram o quanto o Huse é feito de pessoas que entregam suas vidas ao cuidado com o outro”, destacou.
Entre um passado que o formou e um futuro que o desafia, o superintendente reafirma seu propósito. “O Huse é parte da minha vida. E é com esse sentimento que continuo aqui, ajudando a escrever o próximo capítulo dessa história”, finalizou.




