ARACAJU/SE, 12 de setembro de 2025 , 18:32:21

Intenção da maior fabricante de cimento de deixar o País surpreende CBIC

 

Maior fabricante de cimento do mundo, o grupo franco-suíço LafargeHolcim se prepara para deixar o Brasil e espera vender seus ativos no país, que valeriam cerca de US$ 1,5 bilhão (o equivalente a R$ 8,35 bilhões), segundo informações da agência de notícias Bloomberg.

O grupo tem operações em nove estados nas regiões Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo), Nordeste (Bahia, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) e Centro-Oeste (Goiás). Segundo o site da empresa, são dez plantas industriais e 1,4 mil funcionários no país.

O presidente da Cãmara Brasileira de Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, ficou surpreendido com o anúncio da saída da LafargeHolcim do Brasil. “Eu realmente não consigo entender. Nunca o cimento vendeu tanto, nunca a expectativa futura de faturamento do setor foi tão boa”.

O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) informou que o mercado cresceu 11% em 2020. No primeiro trimestre de 2021, se comparado a igual período de 2020, o crescimento foi de 19%. A entidade afirma que foram vendidas 15,3 milhões de toneladas no trimestre, 5,5 milhões em março, mês que registrou alta de 34,6%

Segundo a Bloomberg, a LafargeHolcim contratou o banco Itaú BBA para fazer o desinvestimento, com a venda dos ativos locais a um comprador.

Se concretizada, a saída se soma ao movimento de outras multinacionais de diversos setores , como Sony, Ford, LG e Mercedes-Benz, que anunciaram desinvestimentos no Brasil nos últimos meses em meio à crise econômica no país.

“Não dá para apostar no crescimento de longo prazo do Brasil. As empresas não têm tempo a perder, vão privilegiar locais com crescimento mais forte. O Brasil está atrasado no processo de reformas e infraestrutura. As concessões têm acontecido com muito pouco crescimento de construção, de aeroportos prontos, sem um empuxo mais significativo para construção pesada. Brasil empobreceu e ficou caro”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

O atual diretor-executivo global do grupo, Jan Jenisch, tem adotado uma estratégia de vender ativos para a redução dos níveis de endividamento da companhia, ainda de acordo com a agência de notícias.

Desde 2018, por exemplo, a empresa vendeu uma série de ativos seus fora da Europa, como os localizados em Indonésia e Malásia.

Concentração de mercado

Atualmente, a LafargeHolcim é uma das maiores fabricantes de cimento do país. Uma venda da operação para um concorrente poderia ter dificuldade de passar no Cade (órgão antitruste brasileiro), que já agiu no passado para evitar a concentração de mercado e cartéis no setor.

Esse é o temor de Otto Nagami, professor do Insper. Ele alerta para o risco de a concentração do setor aumentar com a saída da empresa do Brasil, a terceira maior do mercado, o que pode favorecer a formação de oligopólios. Ele cita o déficit público com um fator a inibir a ação das empresas do setor no Brasil. “O déficit público compromete a destinação da poupança doméstica para o investimento em infraestrutura”.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (Iedi), afirma que a falta de crescimento da economia, com a construção pesada desorganizada desde os escândalos de corrupção, pode ter pesado na decisão da empresa.

“Por mais que tenha construção civil urbana, o eixo mobilizador é a construção pesada, é isso que mobiliza. E não tem investimento público em infraestrutura”, diz o economista.

Desvalorização do real

Cagnin cita também a desvalorização do real que tira lucro em dólar ou euro das multinacionais, que poderia ser compensado com crescimento, que não é o caso do Brasil.

Fonte: Cbic/O Globo

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