Após a notícia da morte do aracajuano Jorge Prado Leite, domingo passado (15), rapidamente as mensagens de pesar de amigos, parentes, autoridades e instituições foram repercutidas na imprensa, em homenagem ao sergipano. Doutor Jorge morreu de causas naturais aos 95 anos, na casa onde nasceu – avenida Ivo do Prado, vizinho à antiga Faculdade de Direito, Centro de Aracaju. Ele foi duas vezes prefeito de Estância, e, por outras duas, deputado estadual. O fundador da Sulgipe deixa a esposa Angelina, três filhos (Ivan, Marcelo e Adriana), quatro netos (Jorge, Yvette, Júlia e Luiza) e o bisneto Pedro Jorge.
Seus feitos pelo estado não permitiriam que sua morte passasse despercebida. O seu afilhado, Rodrigo Rollemberg (ex-governador do Distrito Federal), publicou um texto na imprensa relembrando o dia em que o padrinho foi elogiado pelo ministro das minas e energias, Bento Albuquerque, por seu trabalho na Companhia Sul Sergipana de Eletricidade (Sulgipe). Foi Jorge Leite quem fundou em Estância (SE) a companhia de eletricidade que hoje abastece 12 municípios sergipanos e dois baianos. A obra trouxe desenvolvimento e empregos à cidade, e por isso ele é tão reconhecido pelos estancianos. A prefeitura decretou três dias de luto oficial pelo seu falecimento.
O talento de Jorge Leite em administrar foi apresentado em 1950, quando precisou assumir o lugar do pai na gerência da fábrica de tecidos Santa Cruz, também em Estância. À época, Jorge tinha acabado de retornar da capital paulista, onde se graduou em Engenharia Civil, pela renomada Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Seis anos mais tarde, seu papel de gestor também foi desempenhado na Sulgipe.
No ano seguinte, em 1967, Dr. Jorge empreende mais uma vez, e inaugura, em Estância, a primeira estação de rádio do interior sergipano, a Rádio Esperança. Com formação também em Comunicação Social, além de radialista, ele atuou como jornalista e seguiu com seu projeto de ampliação dos canais de comunicação no estado, ao inaugurar a Rádio Jornal, em Aracaju. Inclusive, o Sindicato dos Radialistas de Sergipe emitiu nota lamentando a perda de Dr. Jorge. “O Sindicato dos Trabalhadores em Rádio e Televisão de Sergipe (STERTS) lamenta com imenso pesar o falecimento de Jorge Prado Leite, que nos deixa consternado. Um empresário à frente do seu tempo. Desejamos que o nosso amigo descanse na paz do nosso Criador, e que Deus conforte o coração dos familiares e amigos”, diz a nota. Vale ressaltar que a entrega que dispensava aos seus projetos rendeu a Dr. Jorge a alcunha de ‘um homem chamado trabalho’.
Memórias
Dr. Jorge saiu muito novo de casa para estudar. Aos 11 anos ele foi enviado para a escola militar do Ceará. Aos 12 foi transferido para o Colégio Cataguases Leopoldinense, em Minas Gerais, depois transferido para o internato do Colégio Mackenzie, em São Paulo. Na juventude serviu ao Centro Preparatório de Oficiais da Reserva (CPOR), do Exército. Finalmente aos 19 anos, ele entrou para a Poli-USP, onde se formou em Engenharia Civil. Lá estudaram também os ex-governadores de São Paulo, Mário Covas e Paulo Maluf. Naquela época, Jorge Leite os venceu numa eleição de Grêmio estudantil. Em seu mandato estudantil, Dr. Jorge tirou do papel o projeto ‘Casa do Politécnico’, um prédio de 11 andares projetado para abrigar estudantes de todo o Brasil, que viriam a estudar na Politécnica.
Em Sergipe, a casa de Dr. Jorge de Estância – na fica na Rua Santa Luzia, bairro Santa Cruz – fazia parte do imaginário local, por seu jardim e animais criados no quintal. “Lembro-me dos pavões, veados e outros bichos que eram criados na lateral da casa, que é um sítio. Os jardins eram cheios de flores, tinham rosas de todas as cores. Quando eu era criança, minha mãe me levava para a missa aos domingos, e na saída me levava para ver o jardim da casa do Dr. Jorge. Certa vez chorei, porque queria uma flor. Minha mãe, sem graça, puxou-me pelo braço. Um homem saiu na porta e pediu para uma funcionária me levar para ver os bichinhos pela cerca, e ganhei uma rosa vermelha. Minha mãe agradeceu e disse baixinho: aquele é Dr. Jorge!’’, escreveu Cacilda de Jesus, em uma rede social, ela que foi secretária de Dr. Jorge na Fábrica Santa Cruz.
Seu afilhado, Rodrigo Rollemberg, também abriu o baú das lembranças e publicou em seu texto na imprensa que Dr. Jorge gostava dos doces e quitutes feitos por sua esposa, Angelina. Segundo ele, padrinho e afilhado gostavam de pescar tucunaré na lagoa, no fundo do quintal da casa em Estância, e jogavam baralho à noite, conversando sobre a vida pessoal e política. Para agradar ao afilhado, Rollemberg revelou que Dr. Jorge tinha o hábito de abrir os estúdios da Rádio Esperança de madrugada, para que ele e o sobrinho de Leite, o ex-deputado Otávio Leite, fizessem eventuais programas de rock.
Mas a recordação mais destacado do afilhado diz respeito ao zelo que Dr. Jorge tinha pela reserva ecológica da Mata Atlântica, Crasto, no município de Santa Luzia do Itanhy. Graças a esse compromisso com a preservação, o afilhado disse que via o padrinho como o primeiro ambientalista que conheceu. Uma colaboração com o meio ambiente que rendeu até mesmo homenagem do Sebrae pelo trabalho de Dr. Jorge com a mata.