ARACAJU/SE, 19 de setembro de 2025 , 20:50:09

Juros fecham em alta com IPCA-15 de outubro acima do esperado

Por Estadão Conteúdo

São Paulo (Estadão Conteúdo) –

Os juros futuros completaram a terceira sessão consecutiva de alta, que nesta sexta-feira foi mais expressiva nos trechos curtos e intermediários e, com isso, a curva acabou perdendo inclinação tanto em relação a ontem quanto à sexta-feira passada O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de outubro, acima do esperado e que provocou uma onda de revisões para cima no IPCA de 2020 e 2021, continuou sendo o principal condutor para os negócios à tarde.

Além das preocupações com o risco fiscal, a cautela com a inflação parece agora ter entrado de vez no radar dos investidores. As apostas para o Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira seguem inalteradas na manutenção da Selic em 2%, mas houve forte correção na precificação da taxa básica na curva para 2021 que é para onde está voltada a política monetária.

Se o índice de inflação não mudou a percepção para a Selic na semana que vem, pode exigir ajustes no forward guidance do Banco Central no comunicado, que até então indicava manutenção da taxa em níveis estimulativos por um bom período.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 nesta sexta abriu 20 pontos-base, o que é atípico para contratos de curto prazo. Fechou em 3,47%, de 3,275% no ajuste de quinta. A do DI para janeiro de 2023 subiu quase 30 pontos, terminando na máxima de 4,92%, de 4,655% no ajuste de quinta, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 7,374% para 7,47%.

A inflação medida pelo IPCA-15 dobrou de outubro para setembro, passando de 0,45% para 0,94%, acima do teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (0,93%). Foi o maior resultado para o mês de outubro desde 1995 (1,34%).

Segundo a Tendências, a média dos núcleos saltou de 2,58% para 5,97% em termos anualizados, de setembro para outubro. Em 12 meses, a taxa acumulada é de 3,52%. Várias instituições elevaram suas projeções de inflação, como Credit Suisse, XP Investimentos e Barclays, neste e/ou no próximo ano, mas todas ainda seguem aquém das metas de 4% e 3,75%.

“Antes tínhamos o risco fiscal, mas a inflação estava controlada Agora já temos os núcleos acelerando e a expectativa é de alguma mudança no forward guidance do BC no comunicado do Copom”, disse o gerente da Mesa de Reais da CM Capital Markets, Jefferson Lima, lembrando que o dia teve ainda outro dado negativo, que foi a queda no superávit da conta corrente em setembro, a US$ 2,32 bilhões abaixo da mediana das estimativas (US$ 2,97 bilhões) e do saldo de agosto (US$ 3,721 bilhões).

Até então, a piora do quadro fiscal era tida como o maior risco para o forward guidance, inclusive com alertas do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Porém, vale lembrar que, além de condicionar a indicação futura à manutenção do atual regime fiscal, o comunicado de setembro citava que o Copom não pretendia “reduzir o grau de estímulo monetário, a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária, que atualmente inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022”.

Dólar

O dólar teve uma semana de fortes oscilações, mas terminou a sexta-feira não muito distante do que começou a segunda, na casa dos R$ 5,60. A razão é que os assuntos monitorados de perto pelos investidores, a questão fiscal doméstica e o pacote de estímulos dos Estados Unidos, não tiveram desdobramentos concretos nos últimos dias. Com isso, faltam catalisadores capazes de guiar a moeda americana em direção mais firme ante o real, seja para baixo ou para cima, ressaltam profissionais das mesas de câmbio.

Na semana, a divisa americana termina acumulando leve queda de 0,25%, após subir 2% na anterior. Em outubro, acumula alta de 0,20%.

Nesta sexta-feira, além do impasse nas negociações sobre o pacote de estímulos nos EUA, a surpresa com o IPCA-15 de outubro, que superou as expectativas, e números da balança de transações correntes abaixo do esperado, entre eles o investimento externo direto no Brasil, acabaram ajudando a pressionar o câmbio. Com isso, o real teve desempenho pior que outras moedas emergentes ante a divisa americana.

No fechamento, o dólar à vista terminou o dia em alta de 0,63%, a R$ 5,6295.

No mercado futuro, o dólar com liquidação para novembro subia 0,62%, aos R$ 5,6290.

“O dólar mostrou esta semana que apesar da volatilidade, não tem motivo para andar ou para voltar”, ressalta o assessor da Alta Vista Investimentos, Orlando Bachesque.

Ele observa que permanecem as dúvidas sobre a questão fiscal do Brasil, incluindo quais serão as fontes de financiamento do novo programa social do governo.

Nos Estados Unidos, sabe-se que um pacote de estímulos virá, mas não se sabe se isso ocorrerá antes ou depois das eleições, em 3 de novembro. Assim, o dólar não se distanciou muito da casa dos R$ 5,60, apesar das oscilações. Nos últimos dias, teve mínima semanal a R$ 5,54 e máxima a R$ 5,64.

“Enquanto não vem o pacote de estímulos, o dólar fica oscilando”, diz Bachesque, ressaltando que no Brasil, o risco fiscal segue presente e no radar dos investidores.

No pregão específico desta sexta-feira, o executivo destaca que a aceleração da inflação, de 0,45% em setembro para 0,94% este mês, e o superávit na conta corrente em setembro (US$ 2,3 bilhões) menor que o esperado ajudaram a pressionar o câmbio.

Mas mesmo com pressão dos preços, o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson, espera alta dos juros apenas em 2022, embora reconheça que parte dos analistas vê chance de os juros subirem no ano que vem.

Ele destaca que a aceleração da inflação é concentrada nos alimentos. Nesse ambiente de juros nas mínimas históricas e risco fiscal alto, ele projeta que o real vai seguir desvalorizado, com o dólar em R$ 5,30 ao final deste ano, R$ 5,00 em 2021 e R$ 5,50 em 2022.

Bolsa

Embalado pela expectativa com os resultados trimestrais, cuja safra se amplia na próxima semana, o Ibovespa teve a terceira semana consecutiva de ganhos. Do fechamento de sexta-feira passada até esta sexta, 23, o salto foi de 3,00% – nesse intervalo foram quatro altas consecutivas e um baixa, a dessa sessão, atribuída por operadores à realização de ganhos. A Bolsa chegou ao fim do pregão desta sexta-feira aos 101.259,75 pontos (-0,65%).

O impasse em torno do pacote trilionário de ajuda nos Estados Unidos e o IPCA-15 acima das projeções do mercado contribuem para o cenário de recuo diário, mas não tira o otimismo com a próxima semana.

O setor bancário, em especial, teve forte avanço semanal, derivando da expectativa de resultados firmes para o segmento. Com as provisões em queda, é esperado que os grandes bancos tenham lucro de R$ 16 bilhões no terceiro trimestre, um aumento de 20% ante os três meses anteriores, como mostrou o Prévias Broadcast. Desse grupo, são divulgados os resultados de Santander (terça-feira) e Bradesco (quarta-feira).

Na semana, os papéis ON de Bradesco saltaram 9,32% e PN de Itaú Unibanco avançaram 10,08%. Na sessão, por sua vez, em meio à realização de lucro, o primeiro cedeu 0,20% e o segundo, 1,28%.

“É uma correção natural, ainda acho que os bancos estão descontados”, destacou Rafael Ribeiro, analista de ações da Clear Corretora. “Se os resultados vierem bons, ou um pouquinho acima do esperado, podemos ver mais altas. Mas não sei se eles conseguirão sozinhos levar o índice acima dos 105 mil pontos. Precisa de um a mais.”

De acordo com Ribeiro, o “a mais” seria uma sinalização firme do governo na questão fiscal, o que deve ficar para depois das eleições municipais. Isso porque, do lado monetário, o espaço para redução de juros, se havia, foi fechado após o forte resultado do IPCA-15 nesta sexta.

O índice acelerou a 0,94% na margem e marcou o maior nível para outubro desde 1995 (leia mais no cenário de Juros). Para o analista, isso deve colocar pressão no discurso do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem. “Existe sim a expectativa de o juro subir no curto prazo. Assim, o mercado fica sem esse ‘upside’ na mesa. Só vai destravar então com agenda pró-reformas”, afirmou.

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