ARACAJU/SE, 22 de agosto de 2025 , 13:11:09

Maior importador de manga dos EUA alerta: ‘consumidor americano pagará tarifaço de Trump’

 

O consumidor americano é quem pagará pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil. Essa é a avaliação de Gilmar Mello, proprietário da Amazon Produce Network, a maior importadora de manga dos EUA, com 120 mil toneladas anuais do fruto, originárias de diversos países, incluindo o Brasil.

Segundo o empresário, com a implementação da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, a consequência será o aumento no preço final do produto, que não beneficiará nem importadores, nem exportadores, mas sim o governo americano.

“Não há lógica em proteger um mercado onde o produto não é sequer produzido. A tarifa é paga diretamente ao governo [dos EUA], enquanto o consumidor americano pagará mais pela manga”, diz o executivo.

Ao lado de países como México e Equador, o Brasil é um dos principais fornecedores de manga para os EUA.

A importadora de Mello é responsável por cerca de 30 milhões de caixas de manga de 4 quilos por ano, o que equivale a aproximadamente a 120 mil toneladas anuais da fruta.

Nos cálculos do executivo, o mercado de manga nos EUA movimenta cerca de 650 milhões de dólares por ano, com aproximadamente 130 milhões de caixas sendo consumidas.

Mello estima que o impacto nas exportações brasileiras poderá alcançar de 80 a 100 milhões de dólares em função da sobretaxa de 50%.

O empresário ressalta que o setor ainda não sentiu os impactos porque o Brasil deve começar a exportar a fruta para os EUA a partir de setembro, quando termina a safra do México.

A lógica da exportação brasileira de frutas aproveita a entressafra de grandes produtores mundiais, como a manga.

Com isso, os exportadores brasileiros aproveitam a janela entre o fim da colheita e o novo plantio para vender para os americanos e outros mercados.

“Quando a safra mexicana vai chegando ao ponto de estar praticamente encerrada, o Brasil entra. E nesse contexto, os preços realmente sobem. Com a tarifa, isso vai ficar pior”, diz.

Para 2025, a previsão é de que o Brasil exporte 48 mil toneladas de manga para os EUA, segundo dados da Associação Brasileira de Frutas (Abrafrutas).

Em 2024, as exportações de frutas brasileiras para os Estados Unidos somaram 148 milhões de dólares, com a manga sendo o principal item da cesta, com 36 mil toneladas exportadas e uma receita de 45,8 milhões de dólares, correspondendo a 14% dos embarques brasileiros, diz a entidade.

Segundo o executivo, outros países que fornecem a fruta para os EUA não tem condições de atender a demanda norte-americana nesse período. Apenas o Brasil tem disposição e oferta.

Consumo de manga nos EUA

Embora a manga tenha um grande mercado nos Estados Unidos, Mello aponta que 50% da população norte-americana nunca experimentou a fruta, o que, segundo ele, revela um grande potencial de crescimento no consumo do produto entre os americanos.

A Fresh Trends 2025, pesquisa anual sobre os hábitos de compra de produtos frescos nos Estados Unidos, realizada com mais de 1.050 consumidores norte-americanos, aponta que a manga figura entre os produtos frescos mais comprados, principalmente em função da sua versatilidade e popularidade em diversas faixas etárias.

Por outro lado, a pesquisa destaca a crescente preferência por mangas já cortadas ou em embalagens individuais, especialmente entre os consumidores mais jovens, que buscam conveniência.

Ainda assim, uma parte significativa dos consumidores enfrenta dificuldades ao escolher mangas maduras nas lojas, com apenas 33% afirmando que se sentem confortáveis ao selecionar uma manga pronta para o consumo imediato.

Esse fator de conveniência, diz o estudo, tem impulsionado as vendas de manga em formatos prontos para consumo, como as já descascadas e cortadas, que facilitam o consumo rápido.

De acordo com Gilmar Mello, outro fator que reforça a popularidade da fruta nos Estados Unidos é a grande presença de imigrantes latinos e asiáticos, o que tem impulsionado ainda mais o consumo da manga no país, tornando o impacto das tarifas ainda mais relevante.

“Eles realmente consomem muita manga, pois é um produto bastante conhecido entre essas etnias”, afirma.

Coalizão da manga

Segundo o executivo, o setor importador de manga nos Estados Unidos tem se mobilizado para reverter a sobretaxa de 50% imposta pelo governo Trump.

Para isso, um grupo de importadores formou uma coalizão e contratou um escritório especializado em Washington para representar o setor nas negociações.

O principal argumento apresentado pela coalizão é que, como os Estados Unidos não produzem manga em grande escala, a tarifa de 50% deveria ser reduzida ou até eliminada.

Essa linha de raciocínio, inclusive, foi reforçada por Howard Lutnick, secretário de Comércio dos EUA, que, no final de julho, afirmou que o governo americano estava avaliando a possibilidade de isentar tarifas para produtos que não são produzidos internamente.

A coalizão é composta por importadores de manga de diferentes países, incluindo Brasil, México, Equador, Peru, Nicarágua, Guatemala e Costa Rica.

Gilmar Mello explica que o objetivo da coalizão não é apenas reduzir ou eliminar a tarifa, mas também demonstrar que ela não está cumprindo sua função de proteger a indústria local, pois a manga não é cultivada em grandes volumes nos Estados Unidos.

“A tarifa não está protegendo ninguém e está fazendo um mal muito grande também para o consumidor americano”, diz.

Outro ponto importante levantado pelo movimento é o impacto econômico da tarifa, especialmente no caso do Brasil, que, durante um período de 45 a 60 dias, é o único fornecedor de manga para os EUA.

Isso torna a janela de exportação brasileira extremamente valiosa, reforçando a necessidade de revisão da sobretaxa.

Fonte: Exame

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